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Biodiversidade oculta, mas igualmente desamparada

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Mergulhando para descobrir novas espécies.
Batangas, Filipinas, 31/5/2011 – “Cada vez que vamos para a água, alguém descobre algo novo”, disse Terrence Gosliner, líder da Expedição da Biodiversidade Filipina 2011. Gosliner é decano e pesquisador da norte-americana Academia de Ciências da Califórnia, responsável pela maior expedição destas características realizada neste país asiático. O especialista disse que a riqueza da vida marinha das Filipinas “parece não ter fim”. Embora nos últimos anos tenha feito muitas expedições, ainda encontra pelo menos uma nova espécie cada vez que mergulha nas águas.

“Muitas pessoas acreditam que a Grande Barreira de Coral na Austrália tem os arrecifes mais ricos, mas não é verdade”, disse Gosliner. “É o Triângulo de Coral (na Indonésia, Ilhas Salomão e Timor Leste). Para cada grupo de animais que estudamos aqui, encontramos novas espécies já nas primeiras três semanas de expedição”, afirmou o pesquisador à IPS, enquanto sua equipe se preparava para explorar a Passagem de Ilha Verde, uma área compartilhada por várias províncias costeiras e ilhas filipinas.

Pesquisas anteriores sugerem que a região é “o centro do centro” da biodiversidade marinha. Cientistas dizem que é lar de mais espécies documentadas do que qualquer outro habitat submarino no planeta. Gosliner estima que já foram descobertas centenas de novas espécies em todas as áreas de estudo da expedição. De todo modo, assegura que a biodiversidade das Filipinas, em sua grande maioria, continua oculta. Acrescentou que os arrecifes de coral estavam ameaçados devido a uma atividade econômica insustentável, contaminação, elevação da temperatura da água e acidificação do oceano.

Novos estudos indicam que o complexo de arrecifes diante da costa de Cotabato, no Sul do país, foi dizimado. Funcionários do governo confirmaram que caçadores ilegais roubaram mais de 21 mil peças de coral negro e mataram 161 tartarugas em perigo, bem como outras espécies marinhas, segundo o jornal Philippine Daily Inquirer.

A Expedição da Biodiversidade Filipina é a primeira a realizar um estudo completo tanto das espécies terrestres quanto das marinhas. Neste mês de junho, botânicos, entomologistas e biólogos marinhos estarão explorando os arrecifes, o mar profundo e as áreas terrestres deste país, buscando e documentando novas formas de vida. A expedição pretende realizar uma avaliação da biodiversidade filipina para contribuir em futuras decisões e políticas de conservação. A Academia trabalha com o governo, escolas locais e grupos conservacionistas.

Wilfredo Licuanan, professor da Universidade De La Salle, nas Filipinas, destacou a importância dos estudos e alertou que muitas espécies já estavam ameaçadas antes mesmo de serem documentadas. “O local fica muito perto de áreas urbanas que não administram seu lixo sólido”, disse à IPS em uma pequena ilha próxima do lugar de mergulho, onde sacos plásticos, chinelos velhos de plástico e outros dejetos flutuam. Licuanan disse que em suas explorações submarinas era comum encontrar sacos plásticos e fraldas usadas nos corais e baterias de celular se dissolvendo no solo oceânico.

Ilha Verde também está em uma das rotas marítimas mais usadas, habitualmente percorrida por barcos comerciais, industriais e de passageiros para chegar a Manila. “O impacto da atividade humana se nota claramente na praia e na água. Imaginemos um vazamento de petróleo na região”, disse Lucuanan. Neste momento, não existe infraestrutura para conter um desastre desse tipo, e a Baía de Batangas, que fica próxima, se converte rapidamente em um importante centro de refino de petróleo.

Ao contrário de outros países onde as áreas marítimas protegidas estão desabitadas, aqui estão cheias de locais de mergulho e de comunidades. Nas pequenas ilhas também há luxuosas instalações turísticas. Devido às ameaças, grupos ambientalistas, como o escritório filipino da Conservação Internacional (CI), trabalham com governos locais e comunidades para promover a proteção da Paisagem de Ilha Verde. “Conseguimos criar novas áreas marinhas protegidas em comunidades costeiras e capacitar e dar apoio a moradores locais que formam o grupo Bantay Dagat (Observação Marinha)”, disse Romeo Trono, diretor-executivo da CI.

Segundo Trono, há uma acentuada melhora em relação à década de 1980, quando a área era conhecida como principal centro de atividades pesqueiras ilegais. Hoje, a região sofre novas ameaças devido ao turismo. Uma das principais preocupações da CI é trabalhar junto a outros locais de mergulho e de residentes com vistas à administração do lixo. “É um desafio educar as pessoas sobre a importância da biodiversidade na promoção de ecossistemas saudáveis. Queremos mostrar às pessoas como protegendo a área podem ajudar a melhorar a qualidade e a quantidade de recursos no futuro”, acrescentou.

Gosliner destacou que sua expedição é única porque também realiza atividades educativas para que alunos, professores e líderes locais conheçam a importância da biodiversidade em suas vidas e a necessidade de protegê-la. “Queremos que isso ajude as pessoas na montanha e em comunidades litorâneas a terem um sustento perdurável no futuro”, disse à IPS. Envolverde/IPS