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Bitcoin recruta curiosos na América Latina

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Símbolo do BTC. Foto: bitcoin.org

Cidade do México, México, 9/9/2013 – O bitcoin, uma moeda virtual que nasceu fora dos sistemas financeiros, começa a se desenvolver na América Latina. O engenheiro de sistemas Moisés Briseño é um usuário e estudioso deste sistema de transação completamente digital e sem autoridade emissora. “Compro e vendo bitcoins. Reviso como é cotado e se há alguma tendência. Ainda tem pouca presença na região. Um de meus objetivos é habilitar negócios existentes para que a recebem e mostrar vantagens para o usuário e os negócios”, disse o mexicano Briseño, que estudou o primeiro algoritmo para cunhar esta moeda.

Ela foi inventada em 2008 por Satoshi Nakamoto, programador japonês que, se acredita, é o codinome de uma pessoa ou um grupo, e o software (programa informático) para emiti-la e intercambiá-la em uma rede de usuários foi publicado em janeiro de 2009. Não é uma moeda eletrônica “em voga”, mas algo muito mais revolucionário, explicou à IPS o brasileiro Fernando Ulrich, do não governamental Instituto Ludwig von Mises, na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Ulrich, de 33 anos, é um entusiasta do bitcoin (BTC) porque não só reduz os custos de transação como também representa uma nova maneira de pensar a economia internacional, sem a ingerência dos Estados nacionais e dos bancos centrais. “Fiquei surpreso com seu potencial revolucionário. É uma rede resistente e uma inovação que pode mudar a forma com as pessoas fazem as transações, para liberar os cidadãos da dependência do dinheiro emitido pelo Estado como monopólio”, destacou Ulrich.

Cada “moeda” é produzida por computadores que resolvem problemas criptográficos de grande complexidade. A provisão de “moedas” está limitada desde sua origem. A metade, aproximadamente, já está em circulação, mas a emissão continuará em um ritmo cada vez mais lento até 2140. A ausência de um emissor central gerou amplas oscilações em seu valor com relação ao dólar ou à libra esterlina, mas a tendência do bitcoin é de valorização frente a estas divisas.

Não pode ser falsificada, devido ao sistema criptográfico que usa, as transações são feitas de pessoa para pessoa, e pode-se trocar por dólares, euros ou outras divisas e por bens ou serviços. O interessado se conecta à rede descentralizada de todos os usuários e assim são geradas duas chaves únicas e vinculadas, necessárias para intercâmbio com qualquer outro cliente. Uma chave é privada e permanece oculta no computador do cliente, a outra é pública e é a que permite fazer as transações. O sistema inclui um mecanismo para verificar e validar a transação e um registro público de cada operação registrada, o que permite rastrear a história de cada bitcon.

Esta moeda começou a ser usada no Brasil em 2012 e seus usuários ainda têm um perfil de principiantes e sentem curiosidade de entender como funciona. Rodrigo Batista, presidente da empresa brasileira Mercado Bitcoin, disse que o movimento é baixo, mas mostra rápido crescimento. “A maior parte do uso é de compra e venda (de moedas) para obter ganhos com seu valor. Está no processo de adoção inicial no Brasil, começando por São Paulo”, a cidade industrial mais importante do país, detalhou Batista à IPS.

Na Argentina, há entre quatro mil e cinco mil interessados, dos quais cerca de 400 usam este sistema, enquanto outros o estudam, disse à IPS o presidente da Fundação Bitcoin Argentina, Diego Gutiérrez. A fundação assessora, difunde e organiza duas reuniões explicativas por mês, em sua sede de Buenos Aires. “O dinheiro de papel está em vias de extinção e estas moedas têm uma grande vantagem tecnológica, que torna as transações mais seguras”, destacou.

O portal LocalBitcoins detecta usuários na cidade ou no país onde o navegante estiver. Segundo o site Bitcoinwatch, há em circulação 11,65 milhões destas moedas no valor de US$ 1,461 bilhão, com média de 2.128 operações por hora. Países como Alemanha, Canadá, Austrália, Finlândia e França o permitem, enquanto seu uso foi proibido na Tailândia. Os Estados Unidos determinaram este ano uma investigação sobre o bitcoin, argumentando que poderia ser um instrumento para financiar o terrorismo ou lavar dinheiro.

As empresas argentinas ainda “não se animam”, porque não existe um marco regulatório, pontuou Gutiérrez. Contudo, trata-se da “moeda perfeita para o comércio eletrônico”, opinou. Por sua vez, Briseño disse que não vê “sinais de regulações”. Porém, Batista afirmou que sua negociação está sujeita às leis que regem o comércio no Brasil e acredita que “algum tipo de regulamentação específica virá em breve”. Para Ulrich, o BTC pode servir para superar a crise financeira internacional. Seus riscos obedecem ao seu status de experimento recente, difícil de prever no longo prazo. “Pode ser que algumas divisas superem o bitcoin com tecnologia”, indicou.

Já surgiram outras moedas virtuais com programas de computação mais simples. Seus críticos temem que seja utilizada “para todo tipo de crime”, como disse à IPS o advogado Thomas Schulte, especialista em internet. “Com o bitcoin podem ser cometidos todos os crimes possíveis com moeda real, mas de maneira anônima e em um espaço legal pouco claro”, advertiu.

Um café em Berlim

Marie, jovem moradora do bairro Kreuzberg, em Berlim, compra um “espresso macchiato” no café Floor’s e o paga lendo o código de barras de bitcoin existente na caixa registradora da loja com um telefone celular. Indica o preço e a ordem de pagamento à sua conta virtual. Pelo câmbio atual, o café lhe custa cerca de 0,03 BTC. Isto pode ser feito em cerca de 25 estabelecimentos comerciais berlinenses, identificados pelo código de barras e o B estilizado, símbolo universal do bitcoin, colocados na entrada. A maioria é bares e cafés, embora também seja aceito por alguns hotéis e papelarias.

Marie repete esta operação “duas ou três vezes ao dia. Não sei se é a moeda do futuro, mas creio que as moedas virtuais vão se impor em trançados online. Seguramente, haverá várias moedas, é uma evolução inquestionável”. Em reconhecimento ao seu uso crescente, embora marginal, em Berlim e outras cidades alemãs, o governo central autorizou em agosto o bitcoin como “moeda privada”.

Como Marie, a maioria dos usuários é de jovens acostumados a utilizar os telefones inteligentes e a internet em quase todas as suas atividades. Para eles, é sinônimo de liberdade individual, sobretudo em relação aos bancos, desacreditados por serem protagonistas na crise financeira que afeta o mundo desde 2008. Envolverde/IPS

* Com as colaborações de Marcela Valente (Buenos Aires), Fabíola Ortiz (Rio de Janeiro) e Julio Godoy (Berlim).