Ramalá, Palestina, 7/8/2012 – “Vai entrar em colapso, e quanto mais tarde, mais duro será”, alertou o economista palestino Tareq Sadeq, professor da Universidade Birzeit, ao explicar a bolha econômica que cresce na Autoridade Nacional Palestina (ANP). “As pessoas perderão suas casas, carros e, talvez, sua terra, pelo estouro da bolha. Toda a economia será afetada e também a ANP, por isso pode-se dizer que a própria ANP cairá em colapso”, disse Sadeq à IPS.
A ANP informou que enfrenta uma crise de financiamento. Depende das doações para cobrir seu orçamento de US$ 1,1 bilhão e tem escassez de liquidez de US$ 500 milhões. “A economia palestina depende cada vez mais e mais dos salários, e não apenas o setor público. Cerca de 70% dos trabalhadores são servidores públicos, assim, não há produção na economia. As pessoas consomem, consomem e consomem, e não há produção”, explicou.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) rejeitou um pedido feito no começo de julho pelo governo israelense de US$ 1 bilhão para financiar à ANP. A economia da Cisjordânia depende totalmente da assistência internacional. Em 2011, os doadores prometeram US$ 1 bilhão, dos quais só entregaram US$ 800 milhões. “Toda a economia está restrita à assistência financeira dos doadores internacionais, o que acentua mais a vulnerabilidade da economia palestina”, ressaltou.
O primeiro-ministro, Salam Fayyad, impulsionou o desenvolvimento econômico e os investimentos no setor privado para garantir a independência. A maioria dos órgãos internacionais e governos elogiou seu enfoque, destacando que uma prova do êxito era o crescimento do produto interno bruto, de 7,7% entre 2008 e 2011. Em seu plano de desenvolvimento 2011-2013, Criando o Estado, construindo nosso futuro, a ANP estima que o PIB aumentará 12% em 2013. Entretanto, um informe do Banco Mundial, divulgado no dia 25 de julho, conclui que a economia da Palestina não é sustentável.
“A ANP realizou progressos sustentáveis em muitas áreas para criar as instituições que exigirá o futuro Estado, mas a economia não está suficientemente forte para respaldá-los”, alertou John Nasir, um dos principais autores do estudo Para uma sustentabilidade econômica de um futuro Estado palestino: promovendo o crescimento a pedido do setor privado, em uma declaração que antecipa os resultados do mesmo. Eliminar as restrições de acesso ao mercado e aos recursos naturais é o primeiro passo necessário para expandir o setor privado palestino e que a ANP deixe de depender da ajuda estrangeira, afirma o estudo.
“Isto está diante de nossos narizes desde o início do processo de Oslo: qualquer um pode ver claramente que a economia não é sustentável”, observou o empresário palestino-norte-americano Sam Bahour. Segundo sua experiência, o maior obstáculo ao desenvolvimento econômico é o controle israelense sobre o capital humano da Palestina.
“Se no setor privado se perguntar qual é o maior problema, a resposta será que não podemos encontrar os profissionais que precisamos. Como Israel controla todos os pontos de entrada e saída, e não apenas de mercadorias, mas também de pessoas, basicamente regula o ritmo de nosso desenvolvimento mediante o bloqueio de recursos humanos”, descreveu Bahour à IPS.
Israel e os representantes palestinos assinaram o Protocolo de Paris em abril de 1994 no contexto dos Acordos de Oslo, um convênio assinado em 1993 que detalha relações e responsabilidades entre ambos, e que também deu à luz a Autoridade Nacional Palestina. O Protocolo criou um contexto de relações econômicas entre as partes. Desde então, Israel arrecada as taxas sobre os produtos importados para os territórios palestinos e transfere os fundos à ANP.
Além disso, foi concedida à ANP autoridade para adotar impostos de forma direta e indireta para criar uma política industrial, gerar cargos públicos e uma autoridade monetária. Mas o comércio palestino com outros países ficou nas mãos dos portos israelenses ou dos postos de fronteira controlados pelo Estado judeu, o que continua causando perdas econômicas significativas.
Segundo Bahour, o controle de Israel sobre o mercado palestino e as dificuldades econômicas e sociais resultantes para a população levaram ao que ele chama de “americanização da população palestina”. Quando “a economia se ressente, a participação dos doadores é basicamente de domínio e condução da economia, e a população se endivida cada vez mais, as pessoas se tornam individualistas e pretendem fazer o melhor por sua própria conta”, explicou.
A taxa de desemprego na Cisjordânia no primeiro trimestre deste ano foi de, aproximadamente, 20%, segundo o Escritório Central de Estatísticas da Palestina. Este órgão também indica que um quarto dos palestinos da Cisjordânia, onde residem 2,6 milhões de pessoas, vivia na pobreza em 2011, enquanto 13% vivia em condições de extrema pobreza.
As autoridades palestinas devem estar conscientes do que significa construir uma economia sob ocupação e mudar sua política para aliviar o peso econômico que carregam muitas famílias, pontuou Tareq Sadeq. “A brecha aumenta. Há frustração nas ruas, mas o que importa para as pessoas é não perder. Querem manter suas casas e as coisas que compraram”, ressaltou. “A economia palestina sofre uma ocupação. Temos que criar nossas próprias políticas de desenvolvimento sob a ocupação e pensar em como ajudar as pessoas a se manterem, ficarem em suas terras e resistirem à ocupação”, acrescentou. Envolverde/IPS