Brasil fica para trás em relação a seus rivais do Brics

Com déficit comercial de bens industriais de US$ 92,5 bilhões, Brasil enfrenta uma árdua batalha em tornar a indústria local competitiva. Dois números deram uma sacudida no governo da presidente Dilma Rousseff em março. Um foi o PIB de 2011, que cresceu apenas 2,7% no ano passado, contra 7,5% em 2010.

Atualizado em 03/04/2012 às 10:04, por Ana Maria.

Dilma Rousseff visita estrada de ferro em construção. Foto: Celso Junior/DPA/ZUMA Press

Com déficit comercial de bens industriais de US$ 92,5 bilhões, Brasil enfrenta uma árdua batalha em tornar a indústria local competitiva.

Dois números deram uma sacudida no governo da presidente Dilma Rousseff em março. Um foi o PIB de 2011, que cresceu apenas 2,7% no ano passado, contra 7,5% em 2010. Esta triste estatística fez do Brasil a mais lenta entre as nações do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O segundo número também dói: a produção industrial de janeiro contraiu 3,4% em comparação ao mesmo período do ano passado. A estratégia da presidente – para alavancar o potencial do país e construir uma economia competitiva a nível mundial – está ameaçada.

O impulso de Dilma é proteger a economia brasileira. Nesse aspecto ela não se desviou muito de seus dias de universitária estudando economia com alguns dos professores mais esquerdistas do Brasil. Muitos setores da economia brasileira, como o têxtil, o de calçados e o de eletrônicos estão apoiando-a, já que ela impôs tarifas sobre sapatos, têxteis, produtos químicos e até Barbies. Sob pressão das montadoras, que viram importações subirem 30% no ano passado, o governo renegociou um acordo comercial em março que limita importações do México por três anos.

A presidente também foi rápida em condenar as políticas monetárias flexíveis dos Estados Unidos e da Europa que, segundo afirmou em um discurso na Alemanha no dia 5 de março, forçou um “tsunami monetário” no Brasil. Investidores europeus e norte-americanos, desestimulados por tarifas baixas em seus mercados, têm comprado títulos brasileiros mais rentáveis. O influxo de capital estrangeiro tem fortalecido o real, que alcançou uma alta de 12 anos contra o dólar no ano passado. Nas últimas semanas, o ministro da Fazenda Guido Mantega ameaçou liberar um “arsenal infinito” de medidas contra investidores conduzindo o real. Este golpe enfraqueceu a moeda de certa forma, mas ela permanece bem mais forte do que durante boa parte do governo Lula.

Moedas fortes tornam as exportações mais caras. O déficit comercial brasileiro em bens industriais foi de US$ 92,5 bilhões no ano passado. Moedas fortes também tornam mais barato comprar bens estrangeiros: um em cada cinco produtos industrializados consumidos no Brasil no ano passado foi importado, de acordo com a Confederação Nacional das Indústrias.

A moeda como bode expiatório

Enquanto a moeda está tendo impacto, brasileiros na indústria dizem que o problema é muito maior. As medidas de Dilma não abordam as ineficiências da sexta maior economia do mundo, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele argumenta que o governo tem usado a moeda como bode expiatório para esconder a falta de progresso em melhorar a infraestrutura. O governo também precisa reduzir a segunda mais alta taxa de juros (9,75%) no grupo de 20 nações e aliviar o fardo de imposto que corresponde a 34% do PIB. “Não é bom culpar os outros. Estamos em falta também”, ele diz.

A inflação também tem sido perniciosa, conduzindo os custos de energia, matérias-primas, e salários. Custos operacionais no Brasil estão agora mais altos do que os de muitos países desenvolvidos, diz José Veloso, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos. “Se você fosse levar uma fábrica de helicóptero da Alemanha para o Brasil, seus custos aumentariam 48% assim que você tocasse o solo”, diz Veloso. “Aqueles de nós produzindo no Brasil estão condenados a não serem competitivos”. Empréstimos bancários a taxas de dois dígitos são muito mais caros do que na Alemanha, e aço custa 30% mais no Brasil. Por causa da inflação salarial, um tesoureiro de uma companhia multinacional em São Paulo ganha R$ 285 mil, comparado com R$ 185 mil em Nova York e R$ 249 mil em Shangai.

O governo concedeu créditos fiscais e empréstimos de baixo custo para impulsionar a produção doméstica e promover a pesquisa em áreas como tablets, automóveis e extração de petróleo do pré-sal. O governo pretende também cortar impostos sobre salários em até cinco indústrias para diminuir os custos de produção. Julio Gomes, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial acha que industriais ainda vão lutar. Na pior das hipóteses, a indústria brasileira poderia perder mais 20% de sua cota de mercado e um milhão de empregos, diz Gomes.

O declínio de sua indústria poderia forçar o Brasil a reavaliar suas forças – e isto poderia ser algo bom, diz Alberto Ramos, economista chefe da América Latina no Goldman Sachs. “Qual é a vantagem comparativa do Brasil? Eu duvido que seja a indústria. Seus serviços, agronegócio e commodities”, diz Ramos. “A economia precisa redirecionar recursos para onde é competitiva. Esse é um processo saudável.”

A questão principal é: com um déficit comercial de bens industriais de US$ 92,5 bilhões, o Brasil enfrenta uma árdua batalha para tornar a indústria local competitiva.

* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.


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