
Mercado ilegal de marfim alimenta conflitos no continente africano.
Com o comércio ilegal de marfim cada vez mais nas mãos de militares, a África enfrenta uma matança de elefantes sem precedentes. De acordo com grupos de preservação locais, caçadores têm matado dezenas de milhares de elefantes por ano, mais do que as duas últimas décadas. Nem mesmo os filhotes são poupados na caça pelo chamado “ouro branco”.
O marfim se tornou o mais novo recurso cobiçado da África. Facilmente convertido em dinheiro, ele alimenta conflitos por todo o continente. Alguns grupos armados estão caçando elefantes para retirar e vender suas presas, comprar mais armas e manter sua organização criminosa.
Mas não é apenas o dinheiro ilegal que movimenta este ciclo. Da África subsaariana à China, o marfim viaja pelo mundo graças a fronteiras mal policiadas e militares corruptos. Membros de alguns exércitos africanos, treinados e armados pelos EUA, também estão envolvidos na caça a elefantes e venda ilegal de marfim.
Segundo especialistas, a China é o destino de 70% de todo o marfim ilegal retirado da África. O marfim sempre foi cobiçado entre os chineses, e o aumento do poder de compra entre os chineses parece ter impulsionado este setor.
Canecas, pentes e pauzinhos são comprados em mercados online que oferecem dicas de como enganar os dispositivos de raios-x dos aeroportos (“envolva o marfim em papel alumínio”, diz um deles). Em 2011, mais de 150 chineses foram presos na África por contrabando de marfim.
“ A China é o epicentro dessa demanda. Se não fosse a demanda chinesa este tipo de comércio acabaria rapidamente”, disse Robert Hormats, oficial sênior do Departamento de Estado dos EUA.
A demanda chinesa pelo marfim chegou a tal ponto, que uma única presa de um elefante adulto chega a valer dez vezes mais do que a renda média anual de muitos países africanos. Na Tanzânia, moradores de vilarejos pobres espalham abóboras envenenadas pelas estradas para matar elefantes.
Atualmente a Interpol está investigando o caso do Parque Nacional de Garamba, no Congo, onde 22 elefantes foram encontrados mortos e com suas presas retiradas. O parque enfrenta um desafio diretamente ligado ao estado de falência do Congo. Alguns dos vigilantes do parque passaram a caçar os elefantes que deveriam proteger, alegando que não conseguem sobreviver apenas com seus salários.
Luis Arranz, diretor do parque, diz que o número de caçadores no parque aumentou nas últimas décadas e comparou a luta contra a matança de elefantes à uma guerra contra as drogas. “É como uma guerra contra as drogas. Se as pessoas continuarem pagando pelo marfim, o contrabando continuará a existir”, disse o diretor.
* Publicado originalmente no jornal The New York Times e retirado do site Opinião e Notícia.