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Butão propõe medir a felicidade do mundo

Nações Unidas, 9/4/2012 – O dinheiro pode comprar a felicidade? Para o governo do Butão, chegou o momento de o mundo responder esta antiga pergunta. “Estamos iniciando um movimento global sobre este tema”, informou à IPS o primeiro-ministro desse país da Ásia meridional, Jigme Thinley. O chefe de governo participou da reunião de alto nível “Felicidade e bem-estar: defendendo um novo modelo econômico”, realizada no dia 2 deste mês na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

Thinley explicou que o objetivo é que a comunidade internacional reconheça a urgente necessidade de uma mudança de modelo para conseguir um desenvolvimento sustentável. O primeiro-ministro explicou que seu país considera como modelo a Felicidade Nacional Bruta (FNB), que guiou suas políticas de desenvolvimento por várias décadas. Disse, ainda, esperar que o resto do mundo adote este modelo.

O conceito de FNB foi cunhado em 1971 pelo quarto rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, que destacou que se tratava de uma referência muito mais importante do que o produto interno bruto (PIB). A noção implica que o desenvolvimento sustentável não deveria depender apenas de aspectos econômicos. Desde então, a ideia de FNB influenciou a política econômica e social do Butão, e também chamou a atenção de outras pessoas fora de suas fronteiras.

Segundo funcionários butaneses, seu país criou um sistema de medição que não seria útil apenas para o desenho de políticas nos governos, mas também para organizações não governamentais e empresas. O indicador incorpora elementos socioeconômicos tradicionais, com padrões de vida, saúde e educação, mas também outros aspectos, como cultura e bem-estar psicológico.

“É um enfoque integral sobre o bem-estar geral da população butanesa, e não um ranking subjetivo psicológico da felicidade por si só”, explicou Thinley. O Butão identificou nove parâmetros para medir a FNB: bem-estar psicológico, educação, saúde, uso do tempo, diversidade cultural, boa governança, vitalidade comunitária, diversidade ecológica e padrões de vida.

Segundo a FNB de 2010 do Butão, 41% dos seus habitantes foram qualificados como “felizes. Os 59% restantes variavam de “felizes por pouca margem” a “infelizes”. Para ser considerada “feliz” uma pessoa deve ter suficiência em seis das nove categorias. As pessoas “profundamente felizes”, cerca de 8%, gozavam de suficiência em sete ou mais das nove variáveis. Funcionários governamentais disseram que o conceito de felicidade manejado em seu país, inspirado no budismo, “é muito mais amplo do que o usado na literatura ocidental”.

Em 2011, a Assembleia Geral da ONU adotou por unanimidade uma resolução, proposta pelo Butão e com apoio de 68 Estados-membros, exortando por um “enfoque integral do desenvolvimento”, destinado a promover a felicidade e o bem-estar de forma sustentável.

A reunião de alto nível da semana passada em Nova York reuniu líderes, especialistas em desenvolvimento e representantes da sociedade civil para desenvolver um novo modelo econômico baseado na sustentabilidade e no bem-estar. “É imperativo construirmos uma visão nova e criativa para a sustentabilidade e para o nosso futuro”, afirmou o presidente da Assembleia Geral, Nasir Abdulaziz Al-Nasser. “Isto permitirá um enfoque mais inclusivo, equitativo e equilibrado”, explicou.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o PIB foi por muito tempo um critério usado por economistas e políticos, mas que “não considera os custos sociais e ambientais do chamado progresso”. Para o ativista pelos direitos humanos indiano Vinanda Shiva, “é um acontecimento importante que não deve ser ignorado”, disse se referindo à iniciativa do Butão.

Seu compatriota Asghar Ali Engineer acrescentou: “De qual felicidade falamos aqui? Se for de felicidade para todos os seres humanos, teremos que mudar este sistema econômico” global. Enquanto continuarem estes padrões de consumo, “não creio que milhões de pessoas em todo o mundo sejam felizes”, acrescentou. Envolverde/IPS