Kuoptomo, Camarões, 7/8/2014 – Issah Mounde Nsangou trabalha em seu cafezal de 6,5 hectares nesta localidade da região Oeste de Camarões, desmatando e podando as plantas parasitas que crescem em volta dos pés de café. Para este agricultor de 50 anos, a saúde de seu cultivo é primordial. “Tenho que cuidar das plantas e deixá-las limpas. Isso, naturalmente, dará bons grãos”, explicou à IPS.
Kuoptomo é uma aldeia tradicionalmente cafeeira, mas como outras regiões produtivas nesse país da África central, a colheita diminui sem cessar. Há 20 anos, Nsangou colhia cerca de 4,8 toneladas (80 sacas de 60 quilos) de café. Mas isso acabou. “No ano passado não cheguei nem a 20 sacas”, lamentou.
No país, a produção de café caiu 56% em 2013 e só foram colhidas 16.142 toneladas do grão. Foi uma redução drástica em relação às 38 mil toneladas colhidas no ano anterior. E inclusive essa quantidade só representa um terço das 140 mil toneladas de 1986, segundo o Conselho Interprofissional do Cacau e do Café (CICC).
Omer Maledy Gaetan, secretário-executivo do CICC afirmou que Camarões era um dos maiores produtores de café do mundo. “Em 1980, estávamos em oitavo lugar entre os produtores. Em 1992, quando liberalizamos o setor, o país ficou em 12º. Atualmente, está em 30º lugar”, disse à IPS.
As razões dessa tendência descendente são muitas e variadas. Segundo Gaetan, o custo de insumos, como fertilizantes, disparou após a decisão do governo de eliminar os subsídios e a proteção dos preços neste setor, na década de 1990. O aumento dos custos de produção, mais o seu baixo preço de mercado, desestimulou os agricultores, muitos dos quais se voltaram para cultivos alimentares.
“Sem fertilizantes nem inseticidas e fungicidas, nem pulverizadores, ficou difícil para muitos agricultores manterem suas plantações”, contou Nsangou. Além disso, os produtores se queixam das chuvas irregulares e da falta de assessoria técnica dos serviços de extensão, tudo o que se juntou para prejudicar o setor. Ainda assim, muitos deles regressam às suas plantações.
Como a demanda mundial por café cresce 3% ao ano, Camarões agora busca retomar o outrora próspero setor cafeeiro. O CICC criou o projeto Nova Geração, que tenta atrair os jovens para uma atividade que ficou nas mãos de agricultores idosos e com menos terras.
Gaetan explicou que “o Nova Geração é um programa para jovens. Incorporamos 200 todos os anos e os apoiamos durante três anos. A partir de 2015, teremos 600 jovens anualmente. Isso me dá esperanças de conseguir relançar o setor. É necessário não só renovar os cultivos, mas atrair sangue novo para a produção de café”.
Em fevereiro a União Europeia (UE) e Camarões assinaram um acordo de 30 milhões de euros (US$ 41 milhões) para impulsionar a produção de café dentro do Plano de Emergência para Reiniciar o Setor Cafeeiro. O objetivo é dedicar aos cafezais 3.600 hectares em seis anos.
“Daremos aos produtores tudo o que precisam, salvo o trabalho. Daremos os insumos necessários para terem sua plantação, desde a criação do viveiro até a infraestrutura necessária e o controle das perdas depois da colheita”, detalhou Gaetan. Os primeiros três anos se concentrarão em ampliar os cultivos de café para 2.200 hectares na área produtora do Alto-Nyong (na região Leste), Moungo (na costa) e Noun (na região Oeste), acrescentou.
Em Camarões se cultiva café tipo robusta, nas províncias do Leste, e do tipo arábica nas latitudes mais altas das mesetas do Oeste. Sua qualidade forte e amarga é muito apreciada para as misturas, sobretudo as destinadas ao café expresso.
Segundo o ministro de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Essimi Menye, o café continua sendo um cultivo importante e poderá dar uma contribuição aos planos de desenvolvimento do país até 2035. Mas, apesar de sua queda, o setor representa 6% do produto interno bruto e é fonte de renda de aproximadamente 400 mil agricultores. Os atuais esforços pretendem aumentar a produção para 120 mil toneladas até 2015.
Entretanto, todos os esforços para impulsionar a produção podem acabar não beneficiando os agricultores se não se agregar valor ao setor. O CICC diz que apenas 5% do café de Camarões é processado no país, o que priva os produtores de uma significativa margem de lucro.
“O valor agregado é o melhor que pode acontecer para os produtores de café e o setor em geral”, pontuou em entrevista à IPS Peter Fonguh, diretor de mercado da Associação Cooperativa do Nor-Oeste. “Se pudermos transformar nosso café, o preço subirá de forma automática porque, se um quilo de grão pergamino é vendido a cerca de US$ 1, pagaríamos ao agricultor pelo menos US$ 3 se “houvesse valor agregado”, explicou.
Ao defender a necessidade de os camaroneses renovarem sua fé no café, Gaetan ressaltou aos jornalistas, em Iaundê, que “os dados e as análises confirmam que o futuro da industria do café é animador”. Envolverde/IPS