O comportamento dos bancos centrais dos Estados Unidos e da Eurolândia são preocupantes. Nos Estados Unidos, Obama não conseguiu sequer nomear os dois diretores faltantes do Fed.
A repetição da “operação Twist” (vender títulos de curto prazo e comprar de longo), usada nos anos 60 do século passado com resultado pífio, sugere que o Fed esgotou o seu estoque de mágicas.
Inundou a economia de liquidez, mas não conseguiu induzir nem os consumidores a aumentar seus dispêndios (por temor do desemprego e pela tremenda queda do valor de seus ativos, qualquer coisa como US$ 7 trilhões), nem os empresários a aumentar seus investimentos (por falta de perspectiva de demanda), nem restabelecer plenamente o financiamento interbancário.
Na Eurolândia, a situação não é melhor. Seu Banco Central parece paralisado à espera da substituição do seu presidente, Jean-Claude Trichet, pelo já escolhido, Mario Draghi, um competente, experiente e pragmático economista italiano que desperta as maiores desconfianças dos puristas monetários alemães…
É hora, portanto, de insistirmos num programa social e econômico capaz de, em 2030, dar emprego de boa qualidade para 150 milhões de cidadãos que terão entre 15 e 65 anos de idade.
O cabo de guerra entre os analistas financeiros e a administração econômica do país vai continuar enquanto o poder incumbente não convencê-los de que o programa está, e vai continuar, a ser promovido sob a égide de um controle fiscal calibrado, sem exageros nem leniência, perseguido tenazmente, ano após ano, sem fantasias contábeis.
Não há razão objetiva para imaginar que esteja acontecendo no Brasil uma mudança no famoso tripé da política econômica canônica.
Se existe ainda alguma dúvida de que ele deve ser condicionado pelo pragmático e pelo oportunismo conjuntural, basta olhar para o que fez a Suíça com a sua moeda nas últimas semanas.
A propósito, seria a recente desvalorização do real só consequência das medidas de restrição cambial adotadas recentemente no Brasil? Certamente, não! Todas as moedas do mundo (menos o yen) se desvalorizaram frente ao dólar.
O dólar norte-americano se fortaleceu porque continua, na opinião dos investidores mundiais e a despeito de ter perdido um “A”, o refúgio mais seguro para seu capital.
O efeito inflacionário dela decorrente deve ser amenizado devido à relação inversa entre o valor do dólar e o preço das commodities: quando o dólar sobe, seus preços caem. O efeito final será, talvez, positivo e de magnitude incerta, mas provavelmente menor do que sugerem os “terroristas” que apanharam no câmbio…
* Delfim Netto é economista, formado pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal.
** Publicado originalmente no site EcoD.