No departamento peruano de Ayacucho, considerado o segundo com maior número de pobres extremos, quase a metade das meninas da porção amazônica não está matriculada na escola. Entre as mulheres, 40,1% das que residem na zona rural são analfabetas, enquanto para os homens a porcentagem fica em 13,1%.
Outro dado alarmante é que uma a cada três crianças não vai à escola e duas em cada três estão atrasadas ou fora de faixa. Apenas 58,5% das crianças que têm de três a cinco anos estão estudando.
Os dados constam em um informe elaborado pela Campanha Peruana pelo Direito a Educação (CPDE) 2011, sobre a situação da educação na região de Ayacucho, observando a questão de gênero. O documento mostra ainda que, no contexto nacional, os povos indígenas estão em desvantagem quando a questão é acesso e qualidade da educação.
Com o lema “A educação de mulheres e meninas é um direito. Faz com que seja um fato!”, a campanha pretende apresentar propostas de como melhorar o quadro e também promover debates sobre o tema.
A coordenadora nacional da CPDE 2011, Madeleine Zúñiga, explicou à mídia local que a intenção da campanha é fazer com que as pessoas se conscientizem de que há desigualdade de gênero na educação. Ela cita que as estatísticas, ao separar dados masculinos e femininos, deixam clara a diferença em áreas rurais, andinas e amazônicas, onde o acesso feminino à educação é menor.
“O analfabetismo de mulheres continua sendo alto no país, e é necessário realizar ações e desenvolver políticas para ampliar a cobertura da educação de meninas nestes contextos, garantindo a qualidade e a equidade no serviço educativo”, afirmou.
A coordenadora da ONG Tarea Ayacucho, Nélida Céspedes, confirma a situação. Ela revelou que as diferenças não se encontram apenas entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e meninas da zona rural e da zona urbana. Segundo Nélida, de 810 mil analfabetos, a maior parte é composta por mulheres camponeses e falantes do quechua.
Nos marcos da CPDE 2011 e da Semana de Ação Mundial (SAM), houve um debate, em Ayacucho, no dia 10 de maio. O momento foi organizado pela Rede pela Qualidade Educativa de Ayacucho (Recea) e outras entidades. Na ocasião, mulheres deram testemunhos da dificuldade que tiveram no acesso à educação e, ao mesmo tempo, como esse direito, pelo qual lutaram, influenciou suas vidas.
Surgida em 2003, a Campanha Peruana pelo Direito à Educação atua em doze regiões peruanas, dentre elas Ayacucho. Entre os princípios da CPDE, estão o reconhecimento da educação como direito humano fundamental, que deve ser garantido pelo Estado, e a afirmação de uma educação pública inclusiva e antidiscriminatória.
* Publicado originalmente no site Adital.