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Caribe invadido por algas de sargaço

Algas de sargaços chegam à costa do Caribe com as correntes alteradas pela mudança de temperatura e de clima. Foto: Desmond Brown/IPS

Saint John, Antiga e Barbuda, 5/3/2012 – Quando os cientistas falavam do Mar de Sargaços, na parte média do Oceano Atlântico, não mencionavam sua vegetação flutuante característica, pois ficava confinada ali pela habitual ausência de ventos e correntes marinhas. Nas últimas semanas, as algas de sargaço inundaram a costa caribenha, levadas por correntes marítimas alteradas devido às pronunciadas mudanças de temperatura e, em geral, de clima. O fenômeno apresenta graves problemas para os ecossistemas locais e industriais importantes, como turismo e pesca.

“É a primeira vez que eu, ou qualquer dos companheiros do grupo, vemos tanto sargaço invadindo nosso litoral”, contou à IPS nesta capital o oficial de Comunicações da Associação de Pescadores de Antiga e Barbuda, Gerald Price. “As algas afetam o motor da maioria dos barcos”, lamentou. Não se sabe a causa do fenômeno, mas a Divisão de Pesca de Antiga e Barbuda informou que “as incomuns e fortes correntes após as três últimas tempestades provavelmente arrastaram algas em massa do Mar de Sargaços para o Caribe”.

O Mar de Sargaços, com superfície de 3,5 milhões de quilômetros quadrados, chega até parte do chamado Triângulo das Bermudas, já no Mar do Caribe. “A previsão é que a chegada em massa de algas aumente com a maior quantidade de tempestades tropicais esperadas para a atual temporada de furacões”, alertou Price. As variáveis correntes e as tempestades mais fortes devido à mudança climática são algumas das possíveis causas. Outras podem ser o aumento da temperatura oceânica e as consequências da maior taxa de crescimento das diferentes espécies marinhas.

O cientista do Antiga State College, Vince Best, explicou que “é possível a mudança climática ser indiretamente responsável pela proliferação destas algas particulares que afetam muitos litorais”. Acrescentou que “as temperaturas mais altas e os efeitos associados podem ser os precursores que, de alguma forma afetam a fisiologia geral de várias espécies de algas que, talvez, provoquem seu crescimento excessivo. Daí, a grande quantidade de algas em ambientes aquáticos”.

A espécie observada é Sargassum fluitans, uma macroalga marrom que flutua à deriva na superfície em mar aberto e que é vista nesta região. Costuma estar associada com a variedade Sargassum natans, originária do Caribe. “É difícil explicar a verdadeira causa de o sargaço inundar o litoral do Caribe sem que se realize uma avaliação técnica”, ponderou Sandra Prescod Dalrymple, especialista em gestão de recursos ambientais da ESP Consultants (Caribbean) Inc. “Pode ser o resultado de ventos fortes que geram uma onda forte ou uma combinação de várias coisas”, disse à IPS.

Independente da causa, Sandra notou que os efeitos são imediatos, como as moscas ou outros insetos, o cheiro de podre e os inconvenientes para os banhistas. Também podem ocasionar problemas de saúde, se a situação não for atendida logo de forma oportuna e eficiente. “A indústria turística será afetada porque os visitantes chegam atraídos principalmente pelo mar e pela areia”, alertou Dalrymple, lembrando que “outros efeitos de longo prazo se relacionam com a erosão costeira, pois as algas costumam proteger a praia, ao absorver a energia das ondas, e reduzem o impacto destas no oceano”.

O especialista em ambiente marinho Eli Fuller pediu urgência ao governo para criar um plano integral para cuidar do problema. “Uma grande quantidade de algas de sargaço presas regularmente nas correntes chegam até Antiga e Barbuda. Descobrimos que na costa ocidental da África a situação é muito pior do que aqui. Vi uma fotografia de Serra Leoa e nota-se que há problemas graves com as algas. É um acontecimento histórico”, acrescentou.

O governo de Antiga e Barbuda pediu aos cidadãos para serem cuidadosos, garantindo, ao mesmo tempo, que as algas de sargaço não representam perigo imediato para a saúde. “O tapete extraordinariamente grande de algas em baías e praias pode perturbar a pesca recreativa e as atividades dos barcos, perturbar o movimento das tartarugas marinhas que vão desovar nas praias, fazer com que os aparelhos e os barcos pesqueiros se enrosquem e obstruir o tráfego marinho”, diz uma declaração do governo.

“Informa-se à população que esta invasão não representa nenhuma ameaça imediata para a saúde humana, mas é preciso ter cuidado e tomar precauções quando se trabalha de forma permanente e direta em contato com as algas”, acrescenta a nota. O governo também explica que “o cheiro sulfuroso associado a elas se deve ao processo de decomposição, já que ficam paradas em uma área e morrem”. Price explicou que o impacto é grave no turismo, pois, após as algas chegarem à costa, surge um “cheiro asqueroso”, afugentando os visitantes das praias do país, que promove suas 365 praias, uma para cada dia do ano.

O exclusivo centro turístico Club St. James, entre outros de uma península de pouco mais de 40 hectares na costa sudeste de Antiga e Barbuda, precisou fechar as portas por várias semanas no final de 2011, enquanto os responsáveis criavam estratégias para lidar com as algas que inundaram as praias do leste e sudeste do país. O vice-presidente do hotel, Alex Debretto, disse que o local teve que recorrer a cerca de 20 pessoas para limpar a praia.

Além de Antiga e Barbuda, as algas afetam outras ilhas do Caribe, como Granada, Barbados, Santa Lúcia e San Bartolomé. É importante eliminar as algas, mas os países devem ser cuidadosos, alertou Dalrymple, porque são o nutriente de muitos animais que, por sua vez, servem de alimento para outras espécies da cadeia alimentar. Além disso, oferecem um habitat para muitos organismos que seriam prejudicados.

“Observa-se uma queda na pesca perto da costa, mas isto depende da amplitude do dano e da capacidade das pradarias marinhas de se recuperar após esses episódios”, explicou Dalrymple. “Por isso, as consequências podem diferir segundo as características costeiras de uma área particular ou segundo o estado da pesca e das pradarias marinhas (zonas submarinas cobertas de pastos), antes da ocorrência do fenômeno”, acrescentou. Envolverde/IPS