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Caribe tenta evitar escassez de água

A represa de Potworks é considerada como o maior lago do Caribe oriental e abriga muitas aves aquáticas. Foto: Desmond Brown/IPS

Roseau, Dominica, 26/3/2012 – A severa seca que causou estragos em vários países do Caribe, há dois anos, levou alguns governos da região para novas estratégias a fim de evitar que se repita o racionamento de água e outras restrições que prejudicaram a população. “Lançamos um programa destinado à gestão de bacias, que inclui prevenir o desmatamento, as atividades agrícolas e o uso de químicos em áreas protegidas, bem como limitar em geral as atividades humanas nessas áreas”, afirmou Bernard Ettinoffe, gerente da Companhia de Água e Saneamento de Dominica (Dowasco). “Também lançamos programas em escolas e comunidades para criar consciência sobre a necessidade de conservar a água e, nos últimos tempos, começamos a considerar um enfoque integrado de gestão de recursos hídricos”, explicou à IPS.

Dominica, como outros países, experimentou uma queda do caudal de rios e riachos, mas esta república também conhecida como “ilha natural do Caribe”, ainda se orgulha da abundância de água doce de boa qualidade que possui, disse Ettinoffe. “Apesar de serem tomadas medidas para preservar os recursos para as gerações futuras, o risco de não haver água ou de o fornecimento ser inadequado nas próximas décadas é mínimo”, destacou.

O Estado insular vizinho de Antiga e Barbuda registrou mais chuvas do que o normal nos últimos 12 meses. “Nossos recursos hídricos superficiais estão em sua capacidade máxima”, disse à IPS o gerente de água da Autoridade de Serviços Públicos de Antiga e Barbuda, Ivan Rodrigues. Apesar do aumento das precipitações, um meteorologista desse país alerta que não se armazena suficiente água de chuva.

“Sempre acreditei que precisávamos mais superfície de armazenamento para captar e manter maior quantidade de água de chuva do que a que temos agora”, declarou Keithley Meade, diretor de Serviços Meteorológicos de Antiga e Barbuda. “A água de chuva nem mesmo chega aos aquíferos, pois escorre muito rápido. É um aspecto em que devemos melhorar”, afirmou à IPS.

As limitações econômicas impediram que representantes das pequenas ilhas do Caribe participassem do Fórum Mundial da Água, que aconteceu na cidade francesa de Marselha entre os dias 12 e 17 deste mês. Segundo Ettinoffe, é dada especial atenção à mudança climática. “A variabilidade e a mudança climática são reais em Dominica, como em muitos outros países. Temos chuvas de maior intensidade e também ocasionais períodos de crescente seca, ambos apresentam desafios com os quais é preciso lidar”, reconheceu. Prosseguiu dizendo que “as chuvas mais intensas produzem maior sedimentação nos riachos e rios e maior necessidade de tratar a água e, às vezes, até de cortar o fornecimento. Nos períodos mais secos, sempre se deve ter prudência e conservação”.

Outro problema para as ilhas do Caribe é a salinização da água doce subterrânea. “Tanto Antiga como Barbuda são duas ilhas pequenas. Nossos mananciais estão perto da costa e nos preocupa muito sua salinização”, pela superexploração ou pela elevação do nível do mar, afirmou Rodrigues. “Nossos planos incluem a recarga artificial, reduzir a exploração em algumas áreas, buscar água no interior do território e melhorar o sistema de controle. Também aumentamos a capacidade instalada para dessalinizar água em Antiga e faremos o mesmo em Barbuda”, destacou. Contudo, essa maior capacidade não atende as necessidades do país, que atualmente utiliza 20% da água superficial e 10% da subterrânea.

O diretor de programa do Instituto de Saúde Ambiental do Caribe, com sede em Santa Lucia, Christopher Cox, disse que o aumento do nível do mar e a salinização são motivos de preocupação em outras partes da região. “Sabemos que em Bahamas, Barbados e São Cristovão os aquíferos costeiros submetidos a uma extração excessiva absorvem água salgada do mar e esta se deposita abaixo da doce”, afirmou à IPS.

“Na medida em que se extrai água doce, entra mais água salgada. Se o nível do mar subir, também afetará o recurso, ou avançará terra adentro, por isso será mais provável que as camadas de água doce sejam contaminadas com a salgada”, explicou Cox. O Caribe é muito vulnerável em recursos de água doce, acrescentou, atribuindo o problema à influência humana.

“Não se trata apenas de cortar as árvores, também se reduz a disponibilidade de água quando esta é contaminada. Por exemplo, em Antiga há muitos conflitos pelo uso da terra, e alguns corpos de água recebem contaminação direta do esgoto doméstico ou de outro tipo de atividade, seja agricultura ou empresas comerciais”, ressaltou Cox, que também citou problemas de disponibilidade de água em áreas rurais de Santa Lucia, Jamaica e Trinidad e Tobago.

Se juntarmos estes problemas com os gerados pela mudança climática, por causa da qual se previu que no Caribe, especialmente na parte mais oriental, a média anual de chuvas poderia cair entre 30% e 50%, as temporadas secas seriam mais severas, o que acarretaria problemas de fornecimento.

Lentamente, segundo Cox, os governos do Caribe se propõem o conceito da gestão integrada de recursos hídricos. A Jamaica é dos mais avançados nessa área, acrescentou. “Os governos atuam com lentidão para colocar em prática fortes políticas de proteção hídrica. O maior problema é que a população do Caribe acredita que a água é gratuita. No entanto, torná-la potável tem um custo. Nesta região, a água não tem a importância que merece”, acrescentou Cox. Envolverde/IPS