Alimento desenvolvido em laboratório pode ser uma das apostas para a escassez dos recursos naturais e para às mudanças climáticas, pois utiliza menos de 4% da água da produção convencional e evita a liberação de toneladas de GEEs.
A produção e manipulação de alimentos em laboratório é uma questão que tem dividido opiniões há muito tempo. Agora, entretanto, pode ser que essas técnicas ganhem mais alguns defensores, pois cientistas lançaram um novo estudo demonstrando que a carne artificial pode ajudar a diminuir a emissão de gases do efeito estufa (GEEs), além de economizar energia, água e terras.
De acordo com a pesquisa, intitulada Impacto Ambiental da Produção de Carne Cultivada publicada pelo Environmental Science & Technology, a produção da carne de laboratório emitiria entre 78% e 96% menos GEEs, usaria entre 82% e 96% menos água e 99% menos área de terra do que o necessário para a produção do similar convencional.
“Nossa pesquisa mostra que a carne cultivada poderia ser parte da solução para alimentar a crescente população mundial e ao mesmo tempo cortar as emissões e economizar tanto energia quanto água. A carne cultivada é potencialmente uma forma muito mais eficiente e ecológica de colocar carne na mesa.
Os impactos ambientais da carne cultivada podem ser substancialmente menores do que os da carne produzida do jeito convencional”, declarou Hanna Tuomisto, cientista da Universidade de Oxford, que conduziu o estudo.
Segundo o relatório apresentado, comparando o uso de energia, as emissões de GEEs e o uso da terra e da água, a carne artificial é mais eficiente do que todas as alternativas – bovina, ovina e suína –, exceto pelo frango. Contudo, os pesquisadores alegaram que mesmo o frango pode ser menos eficiente que a carne de laboratório, já que há aspectos que o estudo não leva em conta.
“O uso de energia sozinho não é necessariamente um indicador suficiente do desempenho energético se os custos de oportunidade do uso da terra não forem considerados. A produção de carne cultivada requer apenas uma fração da área de terra que é usada para produzir a mesma massa de carne de frango produzida convencionalmente. Portanto, mais terra poderia ser usada para a produção de bioenergia, e pode-se argumentar que a eficiência energética total da carne cultivada seria mais favorável”.
Com o crescimento do consumo de carne pela população mundial, o desenvolvimento da carne artificial poderia ser uma saída para combater o aumento do preço dos grãos, o desmatamento, a escassez de água e a falta de terras, todos esses problemas relacionados ao cultivo de gado e à produção da carne convencional. No entanto, Tuomisto diz que ainda há obstáculos a serem ultrapassados até elevar a produção dessa carne ao patamar comercial.
“Não estamos dizendo que faríamos, ou que necessariamente queremos substituir a carne convencional pela similar cultivada agora. Podemos demonstrar que isso é possível, mas é caro. Chegar à produção comercial depende de que mais dinheiro seja colocado nessa pesquisa”. A cientista calcula que seriam necessários cerca de US$ 160 milhões e cinco anos para colocar a carne de laboratório do mercado.
Além disso, as questões culturais e de saúde podem fazer com que o produto enfrente certa resistência dos consumidores. Porém, em relação a isso, a pesquisa alega que “a carne cultivada consiste em um tecido muscular similar à carne produzida convencionalmente, apenas a técnica de produção difere. Também pode-se argumentar que muitos sistemas atuais de produção de carne estão longe de serem sistemas naturais”.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.