Para milhões de jovens, a revolução já está em curso: a rede social criada por Mark Zuckerberg está se tornando a verdadeira porta de entrada para a rede. Menos perigos, menos pornografia, menos spam. Mas há quem comece a se perguntar: menos liberdade também?
No princípio era a Web, um lugar livre, aberto, de muitas formas anárquico, em que todos podiam construir a sua própria “casa”, sua própria loja, seu próprio escritório, administrando-o em primeira pessoa. Depois, veio a Web 2.0, multimidiática e social, que viu emergir realidades novas e uma nova geração de usuários, que definiu a sua própria relação com a rede de uma maneira ainda mais direta e pessoal, música, enriquecendo-a com fotos, música, vídeos, informações, notícias.
Hoje, existe o Facebook, e, para milhões de pessoas, a realidade da Web é essa e o será cada vez mais mais. Pessoas que encontrarão notícias, estarão em contato com seus amigos, verão filmes e televisão, ouvirão música, farão compras, comunicarão, compartilharão, conversarão, farão muitas outras coisas através da rede social de Mark Zuckerberg, sem passar por outros sites, sem navegar por outros lugares.
E tudo isso acontece e vai acontecer cada vez mais porque o Facebook, quer queiramos ou não, é a Internet 3.0.
Não mais apenas rede social, em suma, ele passará das simples funções de hoje para uma extraordinária multiplicidade de modos de interagir com os conteúdos presentes na rede, através de aplicativos que permitirão que os usuários do Facebook compartilhem com seus amigos não só textos, vídeos e fotos, como acontece agora, mas também músicas, filmes, jornais, programas de televisão, jogos.
Muitos já disseram sim a Zuckerberg e decidiram aceitar a aposta, do Spotify ao Deezer para a música, do Netflix ao Hulu para o cinema e a televisão, da CNN ao Wall Street Journal, do L’Equipe ao Independent, do Daily de Murdoch ao Huffington Post para as notícias, chegando ao Yahoo!, que oferece o compartilhamento dos seus próprios conteúdos através das páginas da rede social.
Será possível descobrir quais músicas, filmes, notícias, jornais, programas de TV os próprios amigos estão escutando, lendo ou vendo, fazendo isso junto com eles ou lhes sugerindo outros. É o compartilhamento, total, contínuo, e é sobretudo um modo para fazer com que os usuários não saiam do Facebook.
Se não é uma revolução, falta muito pouco, porque, em perspectiva, cada vez mais, se poderá fazer de tudo dentro do universo do Facebook. É claro, para milhões de pessoas, é uma evolução natural: toda uma geração de jovens, ainda hoje, liga o computador e se conecta diretamente ao Facebook, sem passar por nenhuma outra página, nenhum outro site. Jovens que até ontem, no entanto, obtinham notícias, ouviam música ou viam vídeos que eles ou os seus amigos tinham pego de outro lugar e levado para dentro dos muros do Facebook.
Agora, o Facebook nos diz que não há necessidade disso, que as notícias, os filmes, a música, a TV, as compras podem ser feitas utilizando os aplicativos dentro da rede social, sem sair fora dela. Entrar no mundo do Facebook será cada vez mais fácil; sair será cada vez mais inútil.
Sair. Sim, porque o Facebook é um jardim fechado, não é a Web, não é livre. Há liberdade, mas dentro de regras definidas. E isso é a coisa mais importante. No Facebook, não há pornografia, não há possibilidade de que, acidentalmente, possamos acabar diante de conteúdos indesejados. E se por acaso isso acontece existe uma “polícia” capaz de fazer com que os conteúdos impróprios desapareçam.
No e-mail do Facebook, não há spam, e se, infelizmente, eles chegarem, há um modo de bloquear o autor e impedir que aconteça de novo. No Facebook, pode haver, como na Web ou na vida normal, molestadores e perturbadores de todos os tipos, mas, além do fato de que podemos gerenciar completamente a lista dos nossos “amigos”, existe, no entanto, um controle que permite colocá-los em condição de não fazer mal nenhum.
Não há a anarquia da Web, em suma, ou pelo menos há muito menos. Não há os riscos e os perigos da Web, ou pelo menos são mais controlados. E há todas as vantagens da Web: o e-mail, o chat, o compartilhamento, as fotos, os vídeos, a mobilidade, a imediaticidade. Isso agrada às pessoas. Para os 750 milhões de usuários do Facebook, realmente agrada a ideia de estar em um lugar que é a Web, mas em um estado de evolução superior. É um pouco como, se da fase das aldeias e das tribos, se passasse à organização das primeiras cidades, com regras de vida e de comportamento diferentes e mais elaboradas, capazes de garantir a convivência entre pessoas diferentes, com ideias diferentes, com desejos, sonhos, vontades, necessidades diferentes.
É a Web, em suma, mas na sua versão 3.0. Uma Web multimidiática, interativa e fechada em um jardim murado, em que se pode entrar, mas do qual também se pode ser expulso. Uma Web completamente diferente daquela que, até agora, conhecíamos.
Tradução: Moisés Sbardelotto.
* Publicado originalmente no jornal La Repubblica e retirado do site IHU On-Line.