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Cessar-fogo já vigora em Gaza

Palestinos festejam em Gaza o cessar-fogo. Foto: Al Jazeera

Doha, Catar, 22/11/2012 – Um cessar-fogo começou a ser observado ontem na Faixa de Gaza, após o acordo entre Israel e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamás) para pôr fim a oito dias de hostilidades. Na noite de ontem, alguns palestinos foram às ruas da cidade de Gaza comemorar a trégua, alguns tocando buzinas, outros acendendo fogos de artifícios nas sacadas. O chanceler do Egito, Mohammad Kamel Amr, anunciou o acordo horas antes de entrar em vigor, às 19 GMT, e agradeceu às partes, em entrevista coletiva junto com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, no Cairo.

Segundo os termos do cessar-fogo, Israel deve acabar com toda agressão contra a Faixa de Gaza por terra, ar e mar, o que inclui incursões transfronteiriças e os assassinatos seletivos. Os grupos palestinos, por seu lado, devem parar com toda agressão a partir de Gaza contra Israel, incluindo os ataques com mísseis e outras ações na fronteira. Depois de 24 horas da entrada em vigor desta medida, Israel estará obrigado a abrir todas as passagens de fronteira e aliviar as restrições aos movimentos de pessoas e bens desde e para o território palestino ocupado.

Algumas horas após o suposto começo da trégua, a polícia israelense afirmou que foram disparados 12 projéteis desde Gaza. Nadim Baba, correspondente da rede de televisão Al Jazeera na cidade de Gaza, informou que as pessoas se manifestavam “de forma cautelosa” sobre o cessar-fogo. “As pessoas falam umas às outras ‘felicitações pelo cessar-fogo’, mas o que realmente querem é saber dos detalhes”, observou. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, agradeceu aos Estados Unidos e ao Egito por ajudarem a forjar este acordo. “O Estado de Israel deve tentar um cessar-fogo permanente”, disse Netanyahu à imprensa quando a medida entrou em vigor.

Em Washington, o presidente Barack Obama também agradeceu ao seu colega egípcio, Mohammad Morsi, “por seus esforços para alcançar um cessar-fogo sustentável e por sua liderança pessoal para negociar esta proposta”. Ontem, morreram 20 pessoas em Gaza, segundo fontes médicas, elevando para 162 o número de mortes desde que começou a operação militar de Israel. Sete dos mortos eram crianças.

“Foi uma jornada muito difícil para o povo de Gaza”, disse a repórter da Al Jazeera nessa cidade, Nicole Johnston. Além de ataques aéreos, houve “bombardeios muito intensos” a partir de navios de guerra, acrescentou. Israel garantiu que atingiu mais de cem alvos, entre eles um complexo de edifícios governamentais do Hamás. Hillary e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, que se reuniram com Morsi ontem, viajaram entre Egito, Israel e a ocupada Cisjordânia para apoiar o acordo proposto por Cairo ao governo de Israel e ao Hamás, que governa a Faixa de Gaza.

Ao comparecer perante jornalistas junto com seu colega Amr, Hillary disse que os Estados Unidos “saúdam o acordo de hoje para o cessar-fogo. Nos dias futuros, Washington trabalhará com seus sócios na região para consolidar este êxito”, afirmou. O anúncio aconteceu um dia depois que 24 pessoas ficaram feridas na explosão de um ônibus na cidade de Tel Aviv, que Israel e os Estados Unidos descreveram como “ataque terrorista”.

Cinco israelenses foram mortos pelos mísseis disparados desde Gaza a partir do dia 14. Israel afirma que lançou sua ofensiva para impedir o fogo de mísseis sobre seu território. Combatentes palestinos dispararam mais de 30 desses projeteis ontem, sem causar vítimas. E o sistema antimísseis israelense, chamado de Cúpula de Ferro, interceptou 14 deles, disse a polícia.

Desde o começo da ofensiva, quase 1.400 projéteis foram lançados contra Israel, segundo o exército desse país. No mesmo período, suas forças armadas realizaram mais de 1.500 ataques contra Gaza. Em comunicado divulgado após o começo do cessar-fogo, o exército de Israel afirmou que suas tropas “destruíram elementos significativos das capacidades estratégicas do Hamás”, como centenas de lança-mísseis e dezenas de túneis usados para o contrabando.

Entretanto, o chefe do Hamás, Jaled Meshaal, garantiu que Israel “falhou em todos os seus objetivos e foi obrigado a submeter-se às condições da resistência”. Meshaal também agradeceu à mediação de Egito e ao Irã, país que “teve um papel em armar” o Hamás durante o conflito, ressaltou. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.