Kumasi, Gana, 27/8/2012 – A fabricação de quadros de bicicleta com bambu pode ser a chave para o desenvolvimento em Gana, país com crescente congestionamento de veículos. É o que afirma Bernice Dapaah, diretora-executiva da iniciativa Bicicletas de Bambu, que capacita jovens ganeses para construir, consertar e comercializar bicicletas feitas com esse material. “Estamos empoderando mulheres, crianças e jovens, e o projeto reduz as emissões de carbono e contribui para aliviar o trânsito, o que também serve para combater a mudança climática”, explicou à IPS.
Bicicletas de bambu têm apoio de Ibrahim Djan Nyampong, proprietário da empresa Africa Items Co. Ltd., em Acra, e os quadros são vendidos no exterior a US$ 350 cada. Custa em torno de US$ 200 fabricá-los, e Nyampong, também assessor técnico da iniciativa, paga aos jovens aprendizes por seu trabalho US$ 30 extras para cada quadro. O empresário destacou algumas das vantagens dos quadros de bambu em relação aos de metal ou fibra de carbono. “Duram mais do que os quadros de metal. Uma bicicleta de bambu não quebra, é muito duradoura”, afirmou.
Nyampong acrescentou que um teste de controle de qualidade na Alemanha demonstrou que os quadros de bambu podem ser dez vezes mais leves do que os de metal e apresentam maior resistência ao peso. O bambu é fibroso, e assim resiste aos golpes. Amortece naturalmente as vibrações, por isso os quadros não necessitam de molas de aço nem de titânio. “O bambu também recebe tratamento contra rachaduras e cupim, assim é mais forte”, destacou.
O empresário contou que o bambu é submetido a um tratamento entre três e seis meses antes de ser destinado à fabricação de quadros. Depois, é coberto com laca para proteger da chuva e de outros tipos de danos. Isto os torna aptos para o mercado internacional, e a companhia austríaca BambooRide já começou a importá-los para vender na Europa. “Começamos a colaborar com Nyampong na produção de quadros porque são bons, mas tinha que seguir certos padrões europeus”, disse Matthias Schmidt, gerente de vendas da BambrooRide. “É como uma sociedade, uma transferência de conhecimentos nos dois sentidos”, declarou à IPS.
Agora a companhia austríaca importa mais de dez quadros por mês, e Schmidt disse que trabalha para expandir a iniciativa. “Sua capacidade é limitada, e no caso de precisar mais quadros necessitaremos de outras fontes, portanto, estamos apoiando os esforços de Dapaah para melhorar o equipamento e a tecnologia”, ressaltou Schmidt. O uso do bambu em lugar de metal para quadros de bicicletas também tem vantagens para o meio ambiente. Segundo Dapaah, a disponibilidade do bambu como material local não só permite aos fabricantes evitar altos custos de importação como também ajuda a reduzir as emissões de carbono geradas pelo transporte dos insumos.
Além disso, o bambu é orgânico, reciclável e, ao contrário do metal, não exige altos níveis de energia durante a extração e a fabricação. “As bicicletas de bambu respeitam o meio ambiente, e também servem para lutar contra a mudança climática”, ressaltou Dapaah. Acrescentou que a iniciativa se compromete com a sustentabilidade ambiental trabalhando com produtores de bambu em comunidades rurais, criando novos cultivos e preservando os existentes. “Se cortamos um bambu, plantamos pelo menos mais três ou cinco”, afirmou.
Além disso, a fabricação de quadros de bicicleta promove uma alternativa de transporte em um país cada vez mais dependente de veículos com base em combustíveis fósseis. O diretor regional da Agência de Proteção Ambiental de Gana, Isaac Osei, destacou que isto é muito importante. “O tráfego no país está crescendo, e isto está associado com temas ambientais”, disse à IPS. Há 30 veículos motorizados para cada mil pessoas em Gana, e a Autoridade de Concessão de Licenças para Veículos e Condutores registra centenas a cada dia.
A informação sugere que a aquisição de veículos continuará crescendo, pois o país registra aumento sem precedentes de seu produto interno bruto por habitante, US$ 402,3 em 2011, o maior da África ocidental. Osei alertou para os impactos do crescente uso de veículos que utilizam combustível fóssil, incluindo a emissão de dióxido de carbono e a contaminação com partículas de pó. “Creio que educar as pessoas para usar bicicletas em lugar desses veículos é bom para o país e para o mundo inteiro”, opinou. Além disso, ao capacitar e dar trabalho aos jovens, a iniciativa colabora com a redução do desemprego e, em consequência, da pobreza rural.
“Até agora capacitamos dez jovens. Podem fabricar bicicletas, mas ainda não de nível, por isso continuamos capacitando-os”, disse Nyampong. A iniciativa também ajudará os jovens a instalarem suas próprias oficinas e começarem a capacitar outros. Em 2009, a Bicicletas de Bambu ganhou o prêmio da Iniciativa Global Clinton, e em 2010 o prêmio da Iniciativa SEED, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Também atraiu a atenção internacional em junho, quando recebeu o Prêmio Mundial de Negócios e Desenvolvimento na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), realizada no Rio de Janeiro. Envolverde/IPS