Arquivo

Chuva “abençoada” se torna maldição em Antigua

Oraine Halstead (esquerda) e Rhys Actie cultivam tomates em estufa na horta de Colesome em Jonas Road, Antigua. Foto: Desmond Brown/IPS
Oraine Halstead (esquerda) e Rhys Actie cultivam tomates em estufa na horta de Colesome em Jonas Road, Antigua. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Jonas Road, Antigua, 19/2/2014 – Antigua é um dos países do Caribe mais propensos à seca. Por isso quando chove seus habitantes falam de “chuvas abençoadas”. Porém, a situação está mudando, já que muitos produtores agora consideram que as chuvas são uma maldição, contra a qual travam uma difícil batalha para salvar seus cultivos, fundamentais para os mercados local e estrangeiro.

“Somos um país de secas”, afirmou Ruleta Camacho, diretora de Meio Ambiente do Ministério da Agricultura, em entrevista à IPS. “O problema agora é que a mudança climática está exacerbando as secas e as chuvas”, acrescentou. As precipitações torrenciais podem prejudicar os cultivos e o alto índice de umidade trazem pragas e doenças, o que provoca um aumento no uso de pesticidas.

“Temos chuvas intensas em períodos muito curtos. Em várias comunidades afetadas pelas inundações o sustento da população pode ficar comprometido”, pontuou Camacho. Uma dessas comunidades é Jonas Road, onde Delrie Cole começou a cultivar há três anos. Mas somente quando adotou a tecnologia de estufa em sua horta deixou de estar à mercê da chuva.

Graças à estufa também pode plantar suas próprias hortaliças, como coentro, salsa, manjericão, pimentão, berinjela, alface, abóbora e tomate, em períodos de seca ou de chuvas intensas. “A necessidade das estufas surgiu devido à mudança climática e à escassa produção durante o verão, quando as condições são mais extremas”, explicou Cole à IPS.

“Por causa da mudança climática, os verões são mais quentes e é uma época muito difícil porque as plantas estão superexigidas e as frutas caem das árvores. A estufa tem a vantagem de produzir melhor devido ao controle e à redução de parte da umidade que existe no verão”, acrescentou Cole.

A horticultura de estufa, que consiste em cultivar dentro de um recinto com paredes e teto de vidro em condições controladas, se tornou uma necessidade. Nas estufas é possível controlar a temperatura e a umidade, o que permite cultivar o ano todo.

“O rendimento e a vida útil são três vezes maiores do que na produção ao ar livre”, destacou Cole, que é agricultor há 30 anos. “Cultivamos hortaliças que colhemos durante 12 meses. Em campo aberto, em plantações da mesma duração teríamos de cultivar três hortaliças diferentes no mesmo período, com menor rendimento”, acrescentou.

Os produtores de Antigua podem se beneficiar de um projeto da Organização dos Estados do Caribe Oriental, em colaboração com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).

“O Ministério da Agricultura identificou a ameaça que representam as chuvas intensas para cultivos comerciais como alface ou tomate”, disse à IPS Susanna Scott, coordenadora do projeto. “As intensas chuvas, que se prevê aumentarão com a mudança climática, podem provocar graves danos. Também em períodos de seca os efeitos nos cultivos são muito severos. De modo que pretendemos investir nas estufas para proporcionar uma zona protegida para cultivar”, detalhou.

As principais exportações de Antigua incluem o algodão vendido para o Japão e as frutas e hortaliças para outros países do Caribe. Também são exportados alho e hortaliças para Grã-Bretanha e Canadá. Outros produtos agrícolas são banana, coco, pepino, manga e abacaxi.

A agricultura, porém, é uma parte bastante insignificante da economia do país: representa apenas 4% do produto interno bruto (PIB). Mas parece estar crescendo. Cerca de 120 hectares de terra estão cultivados com hortaliças. Antigua também realizou uma campanha, que deu alguns frutos, para incentivar os mais jovens a se dedicarem à agricultura.

Oraine Halstead e Rhys Actie, ambos com menos de 25 anos, são agricultores em tempo integral. “Fui criado com minha avó. Ela plantava hortaliças e aprendi um pouco com ela, e isso me fascinou”, contou Actie, de 23 anos, originário de Santa Lúcia, embora viva em Antigua desde os nove anos. Halstead, que se dedica à agricultura há dois anos e meio, acredita que é uma atividade muito satisfatória. “Gosto de estar rodeado de plantas, cuidar delas. Gosto de vê-las crescer e amadurecer e ver os alimentos que produzem”, disse à IPS.

As vantagens da produção de hortaliças em estufas em regiões tropicais incluem maior rendimento e qualidade, menores riscos de qualidade e rendimento, menor suscetibilidade às doenças e ao dano causado pelas chuvas intensas, períodos de colheita mais prolongados, menor consumo de água e melhor aproveitamento de fertilizantes e praguicidas.

“As pessoas estão mais interessadas em saber o que consomem e sua procedência. Deixamos os tomates amadurecerem para que tenham bom sabor. Os consumidores vêm até nós pela qualidade e pelo sabor de nossos tomates”, enfatizou Cole. Envolverde/IPS