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Chuva de bombas expulsa civis do norte

Kano, Nigéria, 10/2/2012 – “Já não é seguro ficar aqui. Os confrontos armados nos fazem tremer. Esta cidade já não é segura”, disse Funke Nweke, se referindo à sua decisão de abandoar o norte da Nigéria, grávida e com sua filha de cinco anos. A mulher fez uma careta de desgosto enquanto esperava com sua filha, Nnenna, no terminal um ônibus as levasse para o sul do país. Partem porque têm medo de um ataque da organização islâmica Boko Haram.

O Estado de Kano viveu a pior série de atentados suicidas, explosões de bombas e choques armados no dia 20 de janeiro. Segundo o presidente da organização Congresso de Direitos Humanos, com sede na cidade de Kaduna (norte), cerca de 256 pessoas perderam a vida nos combates, embora as autoridades policiais tenham registradas 184. A Boko Haram assumiu os ataques, cometidos em resposta à detenção, perseguição e maus-tratos de alguns de seus membros em Kano. “Pessoalmente dirigi nossa gente nos ataques esporádicos depois de enviar uma carta aberta às autoridades de Kano para que libertassem nossos membros detidos sem acusações, mas se negaram”, disse o líder da organização, Abubakar Shekau, em um vídeo postado no site YouTube. Contudo, negou a morte de civis. “Matamos policiais, militares e todos que estão coniventes com eles. Não perseguimos civis. Desfruto matando pessoas como carneiros e frangos, sempre e quando Deus assim me ordenar”, confessou.

Apesar do descontentamento de sua mãe, Nnenna está feliz por partir. “Vamos viajar, adeus”, disse à IPS em tom alegre. Nweke e sua filha são duas das muitas pessoas que na estação de New Road, em Kano, e pacientemente fazem fila para entrar em um dos luxuosos ônibus. “Centenas de pessoas, na maioria mulheres e crianças, partiram traumatizadas pelos últimos ataques”, informou à IPS, por telefone, o líder do grupo étnico igbo, Boniface Ibekwe. “Não posso dar números exatos dos que partiram, estamos coletando nomes. Alguns partiram, outros estão no hospital e há desaparecidos. A maioria de nossos homens continua aqui. não iremos embora”, acrescentou.

A segurança na região permanece incerta. Dois dias depois dos atentados, os serviços de segurança de Kano recuperaram mais de 300 dispositivos explosivos em diferentes lugares do Estado. Especialistas em explosivos disseram que, se esses artefatos explodissem, teria sido um desastre para o país mais povoado da África e o maior produtor de petróleo. O presidente Goodluck Jonathan afirmou, no dia 8 de janeiro, que o país levaria os responsáveis à justiça, mas os atentados já causaram problemas eocnômicos nesta zona do país.

Kano é a a segunda maior cidade da Nigéria e o centro comercial do país. A comunidade igbo, vítima dos ataques, possui inúmeros negócios. “Dominam a venda de carros, material de construção, artigos de papelaria e dispositivos elétricos. Concentram 90% do comércio. Sua partida será um problema para a economia de Kano, bem como para a de outros Estados do norte”, desclarou à IPS, por telefone, Garba Ibrahim Shekau, economista da Universidade Bayero, neste Estado. Os produtos vendidos pelos igbo em Kano se tornarão escassos e a crescente demanda fará dispararem os preços, ressaltou.

“Detivemos mais de 200 membros da Boko Haram graças à informação de inteligência, e descobrimos que 80% deles eram do Chade”, destacou à IPS um policial que pediu para não ser identificado. O Serviço de Segurança do Estado anunciou, no dia 2 deste mês, a prisão do suposto porta-voz da organização, Abu Qaqa. Envolverde/IPS