O respeito ao idoso não é um fato natural, nas sociedades capitalistas. Nestas, as pessoas são valorizadas pela capacidade de produzir e consumir. O idoso não “produz”, na visão que as sociedades capitalistas têm do que seja produção. A única “senha” de que dispõe o idoso, para ter o status de “pessoa”, nessas sociedades, é ser “consumidor”.
Estamos mergulhados numa sociedade capitalista. O que fazer então para resguardar um “mínimo ético”, dentro de uma tão desumana forma de organização social?
Creio que a primeira atitude que devemos adotar é a de buscar manter um “nível de consciência” que nos permita discernir com clareza os fatos de cada dia e sobre esses fatos emitir julgamento.
Tenha o idoso, ele próprio, sentimento de autoestima e valor. A propósito desse tema, como são encorajadores os ensinamentos bíblicos: o Gênesis indica a vida longa como um prêmio concedido por Deus; o Eclesiástico ensina que a experiência acumulada pelo idoso deve ser guia para os jovens; o Livro da Sabedoria sentencia que os cabelos brancos são sinal e virtude dos mais velhos.
Também filósofos e escritores nos ajudam a compreender o significado da Terceira Idade: uma bela velhice é a recompensa de uma bela vida (Pitágoras); saber envelhecer é a obra-prima da sabedoria e uma das partes mais difíceis da grande arte de viver (Amiel); os velhos precisam de afeto, como precisam de sol (Victor Hugo); não respeitar a velhice equivale a demolir de manhã o telhado da casa em que se há de pousar de noite (Karr).
Algumas pessoas encaram a aposentadoria como se esta marcasse o “ponto final” nas atividades produtivas. Nisto fazem coro, inconscientemente, à visão capitalista do que seja produzir.
No caso dos magistrados, o assunto é tão sério que atinge a dimensão existencial.
Mas o fato não ocorre apenas com juízes. Advogados, professores, médicos, comerciantes, bancários, jornalistas, funcionários públicos graduados ou modestos, profissionais em geral experimentam a contraditória angústia da aposentadoria.
Conselhos e sugestões de psicólogos e médicos tentam propor estratégias para que o “rito de passagem” ocorra sem traumas.
De minha parte, a aposentadoria como juiz de Direito foi sofrida. Desligava-me de um trabalho a que me dediquei com entusiasmo e vocação.
Continuando, entretanto, a exercer o magistério, pude suportar melhor a perda do cargo de juiz.
Ultrapassei em quase dois anos o tempo exigido para a aposentadoria como professor. Essa teimosa obstinação rendia-me um prejuízo mensal, ou seja, eu deixava de perceber os acréscimos salariais que a inatividade me conferiria.
Sou hoje um professor itinerante. Tenho percorrido o país, de Norte a Sul, dando seminários de Cidadania, Ética e Direito, em universidades, OABs e noutras instituições.
O caminho que encontrei resultou do conselho de pessoas amigas. Mas não é o único possível.
Muitas coisas extremamente úteis e emocionalmente gratificantes podemos fazer nesta vida, independente disso de estar aposentado ou não. Cada pessoa procurará a rota da felicidade, de acordo com as circunstâncias.
* João Baptista é livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo, membro emérito da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, palestrante e escritor. É autor de Mulheres no Banco dos Réus – o Universo Feminino sob o Olhar de um Juiz, Editora Forense, Rio, 2008.
** Publicado originalmente no site Adital.