Cientistas culpam ações humanas por degelo do Ártico

Estudo afirma que não há dúvidas de que as emissões de gases do efeito estufa no século XX foram responsáveis pelo derretimento massivo no Pólo Norte registrado nas últimas décadas e que a tendência é o agravamento da situação.

O governo norte-americano autorizou na semana passada que a Shell realizasse perfurações exploratórias em busca de petróleo no Ártico. Isto pode ser considerado como um sinal de que começou a corrida por uma nova fronteira do planeta que está se tornando viável economicamente por causa do aquecimento global.

Aparentemente, devemos essa transformação na paisagem do Ártico às nossas próprias ações. É o que afirma um estudo do Centro Nacional para a Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos (NCAR), publicado no periódico Geophysical Research Letters. Segundo os pesquisadores, não restam duvidas que as emissões de gases do efeito estufa desde o período da Revolução Industrial são responsáveis por boa parte do degelo.

O estudo utilizou supercomputadores e um dos modelos climáticos mais avançados já criados para rodar quatro mil anos de dados com o objetivo de deixar claro o quanto do degelo seria resultado de variações no ciclo natural e o quanto é resultado de ações diretas do homem.

“Agora temos certeza de que o gelo está indo embora. Além disso, descobrimos que cerca de metade da responsabilidade por esse fenômeno pode ser atribuída às nossas emissões”, afirmou Jennifer Kay, líder da pesquisa.

Para ter certeza dos resultados encontrados, os cientistas realizaram “projeções” para os anos seguintes a 1979, quando teve início o monitoramento por satélite do Ártico. Comparando essas “previsões” com os dados reais foi possível determinar que o modelo climático do estudo estava validado.

Curiosamente, a pesquisa aponta que a quantidade de gelo nos próximos anos deve se estabilizar, podendo inclusive aumentar. “Foi uma surpresa. Percebemos que até 2020 é provável que aconteça um pequeno incremento na presença de gelo, apesar do derretimento acelerado dos últimos anos. Isto porque as ações humanas serão contrabalanceadas pelas variações ambientais”, explicou kay.

Porém, para o futuro a tendência é o derretimento total do gelo flutuante no Mar do Norte no verão e a diminuição cada vez maior da camada de gelo em toda a região do Ártico. “Chegaremos a um ponto em que as variações ambientais simplesmente serão irrelevantes na equação do degelo. A partir deste momento, o aquecimento global não terá freios e o gelo sumirá a uma escala sempre crescente”, alerta a cientista.

Ciclos Viciosos

Entre os fenômenos que devem aumentar com a falta de gelo estão as queimadas nas regiões de tundra. Segundo um estudo da Universidade da Flórida, apenas um incêndio em 2007 no Alasca liberou mais de 2.1 milhões de toneladas métricas de carbono, quase o dobro do que a cidade de Miami emite em um ano.

Outro grande problema resultante da perda da cobertura de gelo sobre o solo será a liberação de outros gases do efeito estufa. Sem o gelo, a matéria orgânica da região irá se decompor, produzindo uma quantidade incalculável de carbono .

Finalmente, um estudo recente intitulado “Revolatilização dos poluentes orgânicos persistentes no Ártico induzida pelas mudanças climáticas” levantou ainda mais um problema. Poluentes como o DDT, o HCB, o HCH, que eram produzidos décadas atrás e que estavam presos no gelo, voltarão a ser liberados com consequências que ainda são imprevisíveis para o ecossistema da região.

Assim, o degelo do Ártico pode acabar por si só acelerando ainda mais o aquecimento global, causando prejuízos muito superiores a qualquer ganho que essa nova fronteira econômica possa trazer.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.