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Civicus diante de uma nova era de ação cidadã

Nova York, Estados Unidos, 21/9/2012 – “O papel da ação cidadã e, mais em geral, da sociedade civil, estará no centro do desenvolvimento político e econômico nos próximos anos”, disse em entrevista à IPS o novo secretário-geral da Civicus, Dhananjayan Sriskandarajah. A Civicus é uma coalizão de organizações e indivíduos que busca fortalecer a ação cidadã, particularmente em regiões onde a liberdade de associação é limitada ou está ameaçada.

Sriskandarajah, o líder mais jovem na história da entidade, foi indicado esta semana para o posto pela junta de diretores, após a Assembleia Mundial da Civicus, realizada de 3 a 7 deste mês em Montreal, no Canadá. Antes, foi diretor-geral da The Royal Commonwealth Society. A IPS conversou com Sriskandarajah sobre suas esperanças e intenções a propósito da gestão que está iniciando.

IPS: O que você oferece à Civicus na qualidade de novo secretário-geral?

Dhananjayan Sriskandarajah: Esperto dar um real sentido ao compromisso para apoiar e cultivar a ação cidadã ou da sociedade civil em todo o mundo. Este é um propósito fundamental de uma organização como a Civicus.

IPS: Em meio a uma crise financeira prolongada e de ofensivas de governos contra organizações não governamentais, como pensa que evoluirá a influência da sociedade civil nos próximos anos?

DS: Creio que estamos em um ponto baixo da confiança pública nas instituições econômicas e políticas tradicionais. Com a Primavera Árabe, com o movimento Ocupe, com um novo sentido da necessidade de nos fazermos responsáveis pelos assuntos de desenvolvimento mundial, não posso pensar em um momento mais importante para a ação cidadã. Os governos e o sistema multilateral parecem ter falhado com o público mundial, e penso que a sociedade civil estará no centro desse projeto. Tenho a sensação de que também alguns desses países, que veem a sociedade civil como uma ameaça, se darão conta de que, na realidade, uma sociedade civil sã e vibrante é boa para seu próprio futuro. Em todo o mundo, há regimes que fazem de tudo para limitar a liberdade de associação e de expressão. Mas alguns países percebem que essa é uma estratégia de curto prazo que inevitavelmente se revelará contraproducente. Que melhor demonstração do poder da voz cidadã do que o que aconteceu nos últimos 18 meses no Oriente Médio e Norte da África? Assim, se olho para a frente, creio que o papel da ação cidadã e, mais em geral, da sociedade civil, estará no centro do desenvolvimento político e econômico nos próximos anos.

IPS: Os governos não abordam assuntos mundiais como a mudança climática. Neste contexto, acredita que a sociedade civil pode intervir e conseguir um impacto que modifique o tabuleiro?

DS: Naturalmente. Não sei como fará o sistema atual para produzir resultados tangíveis em matéria de mudança climática, de igualdade econômica mundial, de responsabilidade de nossas instituições financeiras. A lista é interminável. E alguém tem que ceder. O que percebemos nestes movimentos sociais, incluída a mobilização na internet, é o surgimento de uma nova era de ação cidadã. Creio que nunca foi mais fácil se mobilizar em todo o mundo. O que estamos começando a ver é que a ação cidadã mundial pode ser verdadeiramente mundial e incrivelmente efetiva em uma mudança de grande escala nas instituições econômicas e políticas.

IPS: Há algo a que vai dedicar especificamente a maior parte de seus esforços, ou algum assunto que considera de grande importância para sua gestão?

DS: Nos últimos anos, vimos este aumento do ativismo na internet e coisas incríveis que várias organizações conseguiram. Meu objetivo será tentar aprofundar essa mobilização para que, além de uma campanha ou petição via internet, haja instituições da sociedade civil que possam realizar essas campanhas. Temos mobilizações mundiais por temas particulares, mas também temos fortes organizações da sociedade civil em países de diferentes regiões, que a cada dia trabalham para promover a democracia e o desenvolvimento muito depois que deixa de circular um vídeo viral. Meu objetivo será apoiar os ativistas que levam adiante a luta cotidiana de promover a democracia e o desenvolvimento. Envolverde/IPS