Clientes e fornecedores discutem sustentabilidade na cadeia de valor

O primeiro fórum debateu a relação do Walmart com seus fornecedores JBS, Marfrig, Danone e Agropalma. Foto: João-Gonçalves
O primeiro fórum debateu a relação do Walmart com seus fornecedores JBS, Marfrig, Danone e Agropalma. Foto: João-Gonçalves

Realizado pela Conservação Internacional, no âmbito do projeto TEEB para o Setor de Negócios Brasileiro, fórum compartilhou experiências de empresas e fornecedores para a inserção do capital natural na cadeia de valor.

Os desafios e oportunidades de inserir o capital natural na cadeia de valor das empresas e a necessidade de se internalizar externalidades ambientais foram temas dos Fóruns de Debate TEEB para o Setor de Negócios Brasileiro, promovido pela Conservação Internacional (CI-Brasil) no dia 19 de novembro, em São Paulo. O evento contou com a participação das empresas Walmart, JBS, Marfrig, Danone e Agropalma e da consultoria inglesa Trucost.

“Temos o objetivo de apoiar empresas a entender suas externalidades e inserir o capital natural no seu negócio. O Fórum foi uma oportunidade de compartilhar aprendizados de diferentes setores”, afirma a coordenadora do TEEB para o Setor de Negócios Brasileiro, Helena Pavese, lembrando que o resultado final do projeto será anunciado em março de 2014, quando serão apresentados os resultados da valoração ambiental de estudos de caso produzidos em parceria com as empresas Natura e Monsanto.

Com o tema “Incorporação do Capital Natural na Cadeia do Valor”, o primeiro fórum debateu a relação do Walmart com seus fornecedores JBS, Marfrig e Danone. Também participou da mesa a Agropalma, maior produtor de óleo de palma da América Latina, com quem o Walmart interage para o fornecimento do óleo para as empresas produtoras de sua marca própria.

“Percebemos que os consumidores estão mais conscientes, buscando produtos mais sustentáveis que sabem de onde vem”, afirmou a representante da Diretoria de Sustentabilidade do Walmart, Tatiana Trevisan, para quem a sustentabilidade já é uma realidade para boa parte da indústria.

É o caso da aderência à Plataforma Brasileira de Pecuária Sustentável, que o Walmart implementou após assumir compromisso global de não comprar carne bovina relacionada com o desmatamento na Amazônia. Com quatro pilares – (i) relacionamento com stakeholders, (ii) desenvolvimento de modelo sustentável de pecuária, (iii) gestão do conhecimento e (iv) gestão do risco, a Plataforma impactou diretamente os processos dos fornecedores de carne da rede, entre eles JBS e Marfrig.

“Nossos compradores dependem de nós para saber de quem podem, ou não, comprar. Assim, diariamente, precisamos saber como nossos produtores estão em relação aos critérios de sustentabilidade”, afirmou o diretor de Sustentabilidade da JBS, Márcio Nappo, lembrando que a empresa, que processa 90 mil cabeças de gado por dia, em sete países, conta com cerca de 70 mil fornecedores, sendo 38 mil deles na Amazônia Legal.

Já a Marfrig desenvolveu seu protocolo de sustentabilidade pela demanda dos próprios clientes, como Tesco e McDonalds. “A demanda nos faz muito melhor, nos torna mais eficientes”, disse o gerente de Sustentabilidade da Marfrig, Mathias Almeida, citando que a Marfrig classifica seus fornecedores  como iniciantes, bronze, prata e platinum. “Os platinum atendem pelo menos 95% das nossas exigências, podem exportar para a Europa e ganham 15% a mais que os outros”, explica ele.

Ambas as empresas apontaram o monitoramento das atividades de seus produtores como o grande desafio para a inserção do capital natural na sua cadeia. “É preciso ter certeza absoluta que compramos de fazendas que respeitam critérios como o de não desmatar, não usar trabalho escravo e não invadir terras indígenas e unidades de conservação”, afirmou Nappo, citando que a JBS montou um sistema próprio de dados georreferenciados, pelo qual pretende monitorar até 40 mil fornecedores, em meados de 2014.

A Marfrig, que objetiva ter 18 milhões de hectares de fazendas monitoradas em 2014, contemplando 100% dos seus produtores presentes na Amazônia, enxergou oportunidades de novos negócios ao aprimorar seu controle socioambiental.  “É uma grande chance para trazer benefícios para todos. Um exemplo é a comercialização de couro, que com a certificação conseguimos acessar marcas como Adidas e Nike”, concluiu Almeida.

Internalizando externalidades – Com o tema “Como internalizar externalidades ambientais?”, o segundo fórum teve a palestra do diretor de Finança Ambiental da Trucost, Neil McIndoe. A inglesa Trucost é reconhecida no cenário internacional pela valoração de externalidades de grandes companhias, como por exemplo a empresa de material esportivo Puma.

A apresentação focou em estudos de caso da consultoria, que tem como objetivo ajudar organizações a entenderem o custo real de seu negócio para adotarem processos mais eficientes. Segundo o consultor, pela avaliação dos participantes do último Fórum Econômico Mundial de Davos, cinco dos oito maiores riscos empresarias estão ligados ao capital natural.

“O primeiro passo é entender impactos ambientais em toda a cadeia de valor. Para depois avaliar qual ação tomar: mitigar o risco, evitar o impacto ou mesmo focar as operações em outras áreas”, explicou McIndoe, recomendando que o mercado brasileiro busque a materialidade das suas externalidades, para então estudar como enfrentá-las.

Os Fóruns de Debate TEEB para o Setor de Negócios Brasileiro tiveram o apoio institucional do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

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