Estudo publicado na revista Science afirma que as espécies estão respondendo às mudanças climáticas de uma forma muito mais veloz do que a prevista, se movendo para locais mais altos e frios a uma taxa de 20 centímetros por hora.
Um dos impactos das mudanças climáticas, previsto por cientistas, sempre foi a migração de espécies, que ao perceberem as transformações em seu habitat buscariam regiões mais propícias para viver. Porém, não se imaginava que essas migrações aconteceriam de uma forma tão rápida como a que estamos vendo atualmente.
Segundo pesquisadores da Universidade de York, que analisaram dados de duas mil espécies, os animais e plantas estão se movimentando para longe do Equador a uma taxa de 20 centímetros por hora, ou 17,6 quilômetros por década. O que é cerca de três vezes mais rápido do que qualquer previsão realizada no passado. Além disso, os animais estão buscando lugares mais altos, subindo a uma velocidade de 12,2 metros por década.
“São 20 centímetros por hora todos os dias do ano e isto vem ocorrendo nas últimas quatro décadas. Então as distâncias são realmente significativas e a tendência é que o movimento continue durante o resto do século”, afirmou Chris Thomas, líder do pesquisa.
Intitulado “Rapid Range Shifts of Species Associated with High Levels of Climate Warming” (algo como “Migrações Rápidas das Espécies Associadas com Grandes Níveis de Aquecimento do Clima”), o estudo foi publicado na edição do dia 19 da revista Science.
O trabalho mostra, pela primeira vez, sem margem para dúvidas, que as espécies estão fugindo das regiões que mais aqueceram nos últimos anos, provando assim que as migrações estão mesmo relacionadas com as mudanças climáticas.
“O aquecimento global está fazendo com que as espécies procurem lugares mais altos ou migrem em direção aos polos. Agora conseguimos pela primeira vez quantificar a velocidade com que essa migração está ocorrendo”, disse I-Ching Chen, um dos autores do estudo.
Para chegar a esses números, os pesquisadores reuniram todos os estudos conhecidos sobre as mudanças na distribuição das espécies e realizaram o que chamaram de uma “meta-análise”.
Entre os fatores observados, estão animais que abandonaram regiões que ficaram muito quentes ou que avançaram para locais onde historicamente seria muito frio para viverem. As espécies analisadas são principalmente da Europa e da América do Norte, já que os estudos são em sua maioria desses continentes.
“Pegamos toda a literatura publicada e tentamos detectar um padrão. O que fizemos pode ser entendido como um sumário do conhecimento científico sobre as migrações das espécies. Assim, podemos dizer que a resposta das espécies às mudanças climáticas está até três vezes mais rápida do que se pensava anteriormente”, afirmou Jane Hill, coautora do estudo.
Assim, a movimentação de populações de pássaros, mamíferos, répteis, insetos, aracnídeos, invertebrados e plantas serviram como evidência para demonstrar os impactos das mudanças climáticas na vida selvagem.
Por exemplo, um determinado tipo de mariposa alterou, nos últimos anos, seu habitat em 67 metros, subindo para pontos mais elevados do Monte Kinabalu, no Bornéu, em busca de temperaturas mais amenas.
Os dados apresentados pelo estudo são médias de todas as espécies analisadas, porém algumas delas se moveram em ritmo menor ou nem migraram.
Os cientistas acreditam que essa variância se deve ao fato de que alguns animais são mais sensíveis ao clima e também porque existem diversos fatores que influenciam a migração. Questões como presença humana ou obstáculos naturais, como rios ou montanhas, podem limitar a movimentação. Assim, determinadas espécies podem acabar não conseguindo se adaptar a tempo e estão sob o risco de extinção.
“No Reino Unido, um determinado tipo de borboleta deveria ter migrado em direção à Escócia se o clima fosse o único fator a ser levado em conta. Porém, devido à presença de atividades agrícolas, elas não conseguiram seguir seu caminho rumo ao norte. O que aconteceu então foi a redução da sua população”, explicou David Roy, outro dos coautores.
Apesar do estudo dos pesquisadores britânicos não entrar no mérito do papel das mudanças climáticas na taxa de extinção das espécies, fica claro que muitas não terão condições de se adaptar a um planeta mais quente.
“A percepção de quão rápido as espécies estão tendo que migrar, demonstra que muitas vão acabar extintas devido à deterioração das condições de seus habitats tradicionais. Olhando pelo lado positivo, regiões que não eram ricas em biodiversidade estão recebendo novas espécies e se tornando ecossistemas mais interessantes”, concluiu Thomas.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.