Colaboração e cooperação: a revolução no mercado de doação no Brasil
No início de dezembro foi lançado o Índice Mundial de Doações (World Giving Index), levantamento feito em 146 países, com mais de 155 mil pessoas, que investigou a cultura de doação no mundo.
No início de dezembro foi lançado o Índice Mundial de Doações (World Giving Index), levantamento feito em 146 países, com mais de 155 mil pessoas, que investigou a cultura de doação no mundo. As conclusões apresentadas levam em conta contribuições individuais em dinheiro, a disposição em ajudar um desconhecido e doações de tempo em trabalho voluntário. A pesquisa demonstrou que, apesar das dificuldades da economia mundial, a filantropia individual está aumentando em todas as suas formas, tendo como base as evidências que revelam a amplitude e a natureza do ato de doar. Estados Unidos e Canadá figuram como os países que mais fazem doações para a caridade.
O Brasil, apesar de ser a 6ª maior economia do mundo, recuou oito posições no World Giving Index, passando de 83º em 2012 para 92º em 2013. O aumento da renda média da população parece não estar refletido no percentual da população que doa. Felizmente, isso tende a mudar, pois a revolução na forma como entendemos a doação está chegando.
“O mundo vive hoje a maior transformação social e tecnológica desde a Revolução Industrial”, afirma Michel Bauwens, um dos maiores especialistas em economia colaborativa do momento. Para ele, iniciativas como crowdfunding, crowdsourcing, coworking e outras espalhadas pelo mundo podem ser a resposta aos problemas da atualidade, como destruição ambiental e desigualdade social. Para o especialista, a tecnologia está ajudando a quebrar barreiras financeiras e geográficas, criando negócios mais sustentáveis. Além disso, para o crowdfunding, por exemplo, a lógica é diferente da lógica capitalista, pois é um tipo de investimento que olha para o bem social que o investimento vai produzir.
Fazendo a transição entre o TER e o SER
O crowdfunding, palavra em inglês que define financiamento coletivo, surgiu cinco anos atrás, nos EUA, e é a maneira onde várias pessoas ou empresas contribuem com pequenas quantias em dinheiro para realizar uma ideia. O capital é obtido por meio de sites que fazem a intermediação entre o criador do projeto e os interessados em financiá-lo. Não é um site puramente de doações, mas sim um site de doação que oferece contrapartidas/recompensas para os doadores. É uma forma inovadora e colaborativa de arrecadar dinheiro na internet para diversos tipos de campanha, como: cultura, pequenos negócios, jogos, artes, ecologia, novos produtos, entre outros.
Desde que foi lançado, em abril de 2009, o pioneiro americano nesse modelo de negócios, o Kickstarter (maior site dessa categoria do mundo), já arrecadou US$ 1 bilhão para diversos projetos em diversas categorias. Desses, US$ 950 milhões deram vida a milhares de projetos que, se dependessem de apoio privado ou governamental, não sairiam do papel. No novo modelo, a plataforma fica com aproximadamente 5% do total arrecadado.
Essa nova força do colaborativo, de pessoas ajudando pessoas, ganhou ainda mais força no último ano, quando mais da metade desse bilhão de dólares foi doada por pessoas de 224 países e territórios espalhados em todos os continentes.
A boa notícia é que, no Brasil, já existem diversos sites de financiamento coletivo. O método alternativo para financiar projetos está caindo no gosto dos empreendedores e financiadores brasileiros, e temos a oportunidade de mudar esse cenário de doação desenhado acima. No mundo, incluindo o Brasil, milhões de pessoas ajudaram outros milhares de pessoas a tirarem suas ideias, sonhos e empreendimentos do papel. É gente dando vida a ideias geniais. Gente ajudando gente. Gente colaborando e cooperando.
Um exemplo prático
Nos últimos anos, várias ações, iniciativas e formas de financiamento surgiram. O Brasil recebeu, no início deste mês, a 2ª edição do #DiadeDoar, parte do movimento global GivingTuesday, que incentiva as pessoas a fazerem doações para instituições sem fins lucrativos que trabalham com causas importantes para a sociedade. A data lembra o público da necessidade de doar: tempo, dinheiro, sangue, brinquedos, livros, roupas, carinho e amor.
Inspirados pela data, o Eco do Bem, um site diferente de financiamento coletivo, lançou, no Dia de Doar, o projeto Terça do Bem, com o objetivo de ecoar o bem e visando a contribuir com as boas iniciativas de seus parceiros já em andamento. Em 24 horas, foram captados R$ 1.500,00 para os parceiros IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, Instituto Brasil Solidário, Programa Carbono Neutro Idesam, e Projeto Eu faço a diferença no mundo. O projeto foi considerado um sucesso: 17 pessoas patrocinaram. O site não cobrou taxa de administração, e o valor foi dividido entre os quatro participantes, mostrando que, sim, o brasileiro tem todo o potencial e disposição em doar e colaborar.
Vivemos em comunidade há pelo menos 10 mil anos. Hoje, pessoas, empresas e cidades usam a tecnologia para alcançar uma cooperação global nunca antes imaginada. A economia colaborativa se desdobra em novos caminhos, baseada na força da multidão. O crowdfunding (financiamento coletivo – todo mundo junto dando vida a um projeto), coworking (espaços de trabalho compartilhado – todo mundo junto trabalhando), crowdsourcing (uso da inteligência coletiva para resolver problemas – todo mundo junto e criando), cocriação (envolvimento das pessoas no processo de produção), crowdlearning (aprendizado coletivo – apaixonados pelo mesmo assunto ensinando e aprendendo), crowdwriting (escrita coletiva – todos juntos lendo e escrevendo um texto em comum).
Esses são apenas alguns conceitos com os quais, a partir de agora, todas as pessoas e empresas precisam estar preparadas para lidar. A revolução chegou. O futuro está acontecendo e colaborando aqui e agora!
E você? Está preparado para se reinventar e participar dessa linda revolução colaborativa?
* Izabella Ceccato é idealizadora e fundadora do Grupo Eco Rede Social, um grupo de sites que fomenta e potencializa ações para transformar a realidade em que vivemos. O grupo é composto pelo Eco do Bem financiamento coletivo e pelo portal Eco Rede Social, que inspira e divulga pessoas, iniciativas e pensamentos que estão fazendo diferente por um mundo melhor.
** Publicado originalmente no Blog Instituto Brookfield.




