Port Moresby, Papua Nova Guiné, 15/8/2012 – A enorme quantidade de frutas e verduras que se perde em Papua Nova Guiné entre a colheita e a venda coloca em risco a renda e a segurança alimentar da população deste país insular que depende da agricultura. “Vendemos a produção, mas nem sempre toda ela”, contou à IPS o agricultor Yer Kirul, que trabalha no mercado de Gordon, na capital. “O que não se vende é dado aos comerciantes de rua ao final do dia ou acaba no lixo. Se desperdiça muito”, afirmou.
Kirul não tem acesso a instalações para armazenar e preservar as verduras e as frutas da umidade e do calor, característicos deste país que fica na linha equatorial da Oceania, ao norte da Austrália. Em Papua Nova Guiné, com sete milhões de habitantes, se desperdiça quase metade da produção agrícola. Apenas 13% dos agricultores da província Central têm acesso a instalações de armazenagem, segundo estudo da Agência de Desenvolvimento da Produção Fresca (FDPA), dedicada a criar uma indústria alimentar sustentável. “Também precisamos de um mercado melhor. As pessoas compram pequenas quantidades. Gostaríamos de vender volumes maiores”, detalhou o agricultor.
Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que um terço dos alimentos produzidos no mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas por ano, é perdido ou jogado fora. Isto faz com que também sejam desperdiçados água, energia e outros recursos utilizados no processo. A maioria do desperdício ocorre nos países industrializados, onde vendedores e consumidores descartam quase 40% da produção. E, no Sul em desenvolvimento, se perde a mesma proporção da colheita, mas pela falta de infraestrutura como instalações de processamento e armazenamento, pela colheita prematura e pelo comércio em si.
A FDPA indica que 50% da produção agrícola de Papua Nova Guiné é perdida após a colheita. A qualidade é um assunto fundamental, acrescenta. Uma quantidade significativa da produção não atende aos padrões dos grandes compradores, o que faz o preço de venda ser incrivelmente baixo, ou acaba jogada fora.
A pesquisadora Nalau Bingeding, do Instituto Nacional de Investigação, disse à IPS que “o mau estado das estradas é um grande problema para vender a colheita. Muitos produtos da horta procedem de zonas rurais, mas pela falta de estradas e de mercados são desperdiçados ou servem de forragem”. Em áreas rurais e periurbanas de Papua Nova Guiné, os pequenos agricultores de batata, brócolis, cenoura, tomate, inhame, manga e papaia, são ao mesmo tempo agricultores e vendedores.
A FPDA fez uma pesquisa socioeconômica em 2008, e entrevistou 160 mulheres e 175 homens, com média de idade de 39 anos, dedicados à agricultura em seis províncias. Para 73% dos entrevistados, o maior problema para venderem sua produção eram as condições do transporte e das vias de comunicação; 43% mencionaram o excesso de oferta associado à baixa capacidade do mercado; 22% se referiram aos baixos preços; e 21% ao desperdício.
O relevo montanhoso de Papua Nova Guiné, o frágil serviço público e a má gestão dos fundos estatais impediram o desenvolvimento de uma rede nacional viária efetiva. A ligação entre cidades importantes, como Port Moresby, na costa sul, Popondetta, no nordeste, e Wewak, no norte, só é possível por barco ou avião, e este último é muito caro.
Segundo o Departamento de Obras Públicas, apenas 2.609 quilômetros da rede viária, de 8.738 quilômetros, têm boas condições de uso, e 64% das rotas nacionais não estão asfaltadas. A estrada mais longa é a Highlands Highways, de 800 quilômetros de comprimento, que liga as províncias de Enga e Hela, no oeste, com a de Morobe, no leste. Os caminhoneiros e as empresas de transporte também sofrem com a deterioração das estradas, os engarrafamentos e o vandalismo.
Segundo a FPDA, 85% dos agricultores entrevistados utilizam ônibus locais para levar sua produção ao mercado. Apenas 4% têm veículos próprios. A FAO afirma que o investimento público e privado em estradas, transporte, mercado e processamento de alimentos representa uma ajuda significativa para que os pequenos agricultores melhorem sua produção e o acesso aos mercados, e dessa forma diminuir as perdas.
O Plano Estratégico de Desenvolvimento do Governo (2010-2030) do país se propõe a melhorar a infraestrutura viária e triplicar a rede para chegar a 25 mil quilômetros nos próximos 18 anos. Mas o cumprimento desta meta dependerá do êxito do governo em seu financiamento e sua implantação.
Um porta-voz da FPDA disse à IPS que a agência se concentra em desenvolver mercados internos com muitos dos produtores do país que não têm condições para abastecer o mercado externo. A agência oferece capacitação e desenvolve técnicas para melhorar a gestão da qualidade dos produtos frescos e cria vínculos entre os agricultores e os atacadistas, com os quais mantêm vínculos limitados e inseguros.
Uma iniciativa de sucesso da FPDA é oferecer informação de mercado aos agricultores pelo telefone celular. O melhoramento da indústria de processamento de alimentos de Papua Nova Guiné também ajudará a reduzir o desperdício. Os produtores “não sabem preservar a maioria dos produtos depois da colheita, o que faz com que sejam jogados fora porque não podem armazenar nem processar sem refrigeração”, explicou Bingeding. “O que se precisa é transformar a batata-doce e inhame, por exemplo, em macarrão ou farinha, para prolongar sua vida útil”, afirmou. Envolverde/IPS