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Com a esperança quase seca

Mbabane, Suazilândia, 4/7/2011 – Verdiana Protas teme que morram de sede os 20 animais que comprou com o dinheiro de sua aposentadoria, porque o rio que passa perto de sua aldeia, no noroeste da Tanzânia, há dois anos está seco. As 200 famílias do bairro de Kagondo, no distrito de Bukoba, onde Protas vive há 40 anos, levavam seu gado para beber no rio, de dez quilômetros de extensão, de onde também tiravam água para consumo doméstico. Agora não há fontes de água potável próximas e as pessoas são obrigadas a percorrer grandes distâncias para dar de beber ao gado, disse Protas. “Algumas pessoas precisam caminhar dez quilômetros”, contou.

Outros mananciais da região estão a ponto de desaparecer por falta de chuvas, o que preocupa os moradores porque as autoridades nada fazem a respeito. Os representantes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que participam do Diálogo sobre a Água 2011 dedicado a estratégias para reduzir o impacto da mudança climática nos recursos hídricos, duvidam que o fenômeno tenha a ver com a seca de rios e mananciais. No entanto, concordam que o aumento da temperatura pode levar ao desaparecimento das fontes de água.

Algumas áreas da África mostraram uma tendência ao aquecimento devido à evaporação de mais água em razão do aumento da temperatura, disse o especialista Leonard Unganai, do projeto Minimizar a Seca e a Mudança Climática, do Zimbábue. “As ciências climáticas não podem prever o futuro, mas permitem planejar o cenário mais possível. O aumento da temperatura produz uma escassez de chuva. Se não gerirmos de forma adequada as fontes de água haverá vários problemas”, disse Unganai.

Protas também se preocupa com a possibilidade de o milho apodrecer pela irregularidade das chuvas. “Plantamos no começo deste ano, mas não choveu até quase o começo da colheita”, afirmou. O cultivo tradicional nessa área era a banana, mas quase desapareceu por precisar de muita água, por isso optaram pelo milho, que utiliza menos. Mas os agricultores de pequena escala que vivem do milho têm dificuldades em todo o continente pela falta de chuva, em relação com os que plantam mandioca e batata doce, acrescentou Ungani.

A Estratégia Nacional para a Redução da Pobreza e o Cultivo, da Tanzânia, conseguiu aumentar o acesso a água potável da população de zonas rurais de 53%, em 2003, para 65%, em 2010. A mudança climática seca os mananciais de zonas rurais do país, segundo informe de 2009 da Rede de Água e Saneamento. O orçamento do setor hídrico 2005-2006, que destinou fundos ao desenvolvimento de fontes de água, outorgou mais de 80% às zonas urbanas e menos de 20% ao campo.

A mudança climática prejudica as comunidades. A seca atual registrada em certas áreas da Tanzânia levou à escassez de comida, disse Sylvester Matemu, do Ministério da Água. O Ministério criou o Programa de Ação Nacional para a Adaptação, que busca identificar as principais atividades para mitigar as consequências da mudança climática. “Detalhamos como proteger nossas fontes de água e criar redes para controlar as melhorias. Também incluímos o setor privado”, disse Matemu.

Entretanto, para Protas e outras famílias do noroeste da Tanzânia, o futuro é incerto. Envolverde/IPS