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Com os problemas sobre a mesa

Havana, Cuba, 1/4/2011 – A visita do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter a Cuba, encerrada no dia 30, deixou sobre a mesa os principais problemas a resolver para reduzir tensões e avançar para uma eventual melhoria das relações entre os dois países. Entre as prioridades mencionadas pelo ex-mandatário, pouco antes de seu regresso, figura a libertação do norte-americano Alan Gross, detido em Cuba, bem como a dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos há 12 anos, embora Carter tenha explicado que não foi a ideia de uma troca de prisioneiros que o levou a Havana.

Carter chegou a Havana convidado pelo presidente de Cuba, Raúl Castro, que ao recebê-lo oficialmente aproveitou para reiterar sua disposição de dialogar com Washington “sobre qualquer tema, mas em termos de igualdade, sem condicionamentos e com absoluto respeito” à independência e soberania deste país. “Para mim também é importante que as relações entre nossos países melhorem”, disse o ex-presidente em entrevista coletiva. Em sua opinião, são muitas as coisas que se pode fazer para chegar aos vínculos normais “em todas as formas possíveis”.

Nas primeiras horas de seu terceiro e último dia na ilha, Carter visitou o ex-presidente Fidel Castro, “que parece estar bem de saúde”, reuniu-se com alguns dissidentes, ex-presos e blogueiros críticos do governo e conversou com Alan Gross, condenado a 15 anos de prisão acusado de atentar “contra a independência ou integridade territorial do Estado”. Alan, contratado da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) foi preso em dezembro de 2009 quando tentava regressar aos Estados Unidos por via aérea, após encerrar sua quinta viagem a Cuba em nove meses. As autoridades afirmam que fazia chegar tecnologia da comunicação por satélite a opositores.

Carter contou que seu compatriota “emagreceu 40 quilos, mas parece estar com bom ânimo”, após dizer que não acredita que ele seja uma ameaça séria para o povo e as autoridades de Cuba. “Haverá uma apelação de seus advogados a instâncias superiores da justiça e espero que o declarem inocente” dos crimes de que é acusado, afirmou Carter. “Não vim com a expectativa de levá-lo para casa. De fato, os funcionários cubanos disseram claramente antes que eu saísse dos Estados Unidos que a libertação de Alan Gross não será concedida”, acrescentou, apesar de manifestar a esperança de uma futura ordem do Executivo que o deixe sair da prisão por razões humanitárias.

No entanto, Carter esclareceu que não viajou a Cuba com a ideia de coordenar algum tipo de troca entre Alan e os cubanos Gerard Hernández, René González, Antonio Guerrero, Ramón Labañino e Fernando González, presos em 12 de setembro de 1998 e condenados a graves penas de prisão, acusados de conspiração para espionagem. Gerard foi acusado de conspiração para assassinato e foi condenado a duas prisões perpétuas.

Para Carter, trata-se de dois casos separados e distintos que não devem ser interligados. “Creio que Alan deve ser libertado por ser inocente de um crime sério e que os cinco cubanos devem ser soltos porque estão há 12 anos presos e as circunstâncias originais de seus julgamentos foram consideradas duvidosas inclusive pelos juízes e pelo sistema judicial dos Estados Unidos”, ressaltou.

O ex-presidente também defendeu a ideia de eliminar de imediato o embargo comercial que seu país “impôs contra o povo de Cuba”, bem como as restrições sobre viagens de norte-americanos a este país e os entraves para as transferências bancárias de fundos humanitários dos Estados Unidos. “Pessoalmente, quero que a lei Helms-Burton, promulgada em 1996 no governo de Bill Clinton, seja revogada completamente. Creio que foi um sério erro. Qualquer esforço para melhorar a vida do povo cubano com ajuda financeira ou outros meios é suspeito ou ilegal segundo essa lei que objetiva acabar com o regime de Castro”, disse Carter.

O ex-mandatário qualificou essa lei de contraproducente, como também é a atitude dos líderes do Congresso dos Estados Unidos de origem cubana. “Atuam de maneira muito contraproducente ao tentarem castigar o regime cubano, quando, na realidade, estão punindo o povo cubano com suas restrições”, afirmou. Carter desconsiderou as razões de Washington para incluir Cuba entre as nações que promovem o terrorismo, outro dos fatores de irritação nas relações bilaterais. “Creio que Cuba deveria ser tirada desta lista”, ressaltou.

Também confirmou que, quando regressar, entregará ao presidente Barack Obama e à secretária de Estado, Hillary Clinton, um informe de sua viagem a Cuba, que refletirá, segundo informou, o que disse na entrevista coletiva e “outros assuntos confidenciais que devo compartilhar apenas com os funcionários”. Carter, que governou seu país de 1977 a 1981, visitou Cuba também em 2002, a convite do então presidente Fidel Castro, que o recebeu e se despediu dele no aeroporto, e o acompanhou em boa parte de sua agenda de uma semana. Nessa viagem também manteve reuniões com setores da dissidência interna.

Berta Soler, mulher do ex-preso Ángel Moya, uma das Damas de Branco que participaram do encontro na quarta-feira, confirmou à IPS que Carter solicitou privacidade a respeito do que foi conversado. “Foi muito pouco tempo, mas foi bom. Entregamos um documento com detalhes dos presos pelos quais lutamos”, afirmou. No dia 29, Carter foi recebido pelo arcebispo de Havana, Jaime Ortega, a quem expressou contentamento pelo processo de diálogo que a Igreja Católica conduz com o governo Castro, que tem como um de seus resultados a libertação nos últimos meses de mais de cem prisioneiros.

Durante o mandato de Carter foram instaladas, em Washington e Havana, Seções de Interesses, encarregadas de representar cada nação perante a outra, e foram permitidas viagens a Cuba dos imigrantes cubanos nos Estados Unidos. Envolverde/IPS?