Arquivo

Começa o Congresso do Partido Comunista da China

Foto: outroladodanoticia

 

Doha, Catar, 9/11/2012 (IPS/Al Jazeera) – O governante Partido Comunista da China iniciou ontem seu Congresso Nacional, acontecimento crucial que prepara a ascensão de uma nova camada de altos líderes para a próxima década. Mais de 2.200 delegados se reuniram no Grande Salão do Povo, em Pequim, para o início das sessões que durarão uma semana e nas quais o vice-presidente, Xi Jinping, será escolhido como novo secretário-geral do Partido.

A reunião é o começo de uma transferência de poder cuidadosamente coreografada, mas, de todo modo, tensa, na qual o presidente Hu Jintao e a maioria dos altos dirigentes começam a deixar seus cargos para líderes mais jovens. Ao se dirigir aos presentes, Hu disse que a corrupção ameaça o Partido e o Estado, e prometeu uma reforma política. “Se não conseguirmos lidar bem com este problema, isso poderá ser fatal para o Partido, e inclusive causar seu colapso e a queda do Estado”, afirmou Hu em seu discurso inaugural.

“A reforma da estrutura política é uma parte importante da reforma geral da China. devemos continuar fazendo esforços, tanto ativos quanto prudentes, para realizar a reforma da estrutura política e para tornar mais ampla a democracia popular, mais plena em alcance e mais sólida na prática”, afirmou Hu. Patrick Chovanec, professor de economia na Universidade Tsinghua, disse à rede de televisão Al Jazeera duvidar que a China implemente reformas importantes. “Quando ouvimos as palavras reforma política tendemos a pensar em eleições e em um Poder Judicial independente. E não é realmente a isso que eles se referem”, afirmou.

“Talvez se refiram a dois membros do Partido se candidatando ao mesmo posto, em lugar de apenas um”, opinou Chovanec. “Não penso que necessariamente vejamos grandes passos. Mas, talvez, o façamos, porque, com a ascensão da classe média na China, há muita pressão para que as pessoas participem mais nas decisões que as afetam”, acrescentou.

De Pequim, Mike Hanna, da Al Jazeera, informou que o discurso de Hu também enfatizou o desenvolvimento econômico e a melhoria no sistema de ensino do país. Suas palavras também destacaram “a importância de se estender a educação o máximo possível”, segundo Hanna. “Hu afirmou que a educação é o motor por meio do qual o desenvolvimento da China pode continuar. E em dez anos de mandato, a China testemunhou enormes mudanças em matéria de desenvolvimento econômico, sem precedentes desde, talvez, a Revolução Industrial britânica no século 17”.

Hu passará o cargo de chefe do Partido ao ungido sucessor, o vice-presidente, Xi Jinping, que assumirá em março as responsabilidades de Estado na reunião anual do parlamento. Xi, de 59 anos, é, desde 2008, o segundo na escala hierárquica, depois de Hu. Junto com os demais futuros dirigentes, assumirá o mandato em meio à crescente pressão para que o Partido ponha freio à corrupção e incentive o crescimento econômico, que nos últimos tempos diminuiu, chegando ao seu registro trimestral mais baixo desde 2009.

O Congresso é uma reunião pública de 2.268 delegados do Partido, que tem 82 milhões de membros, onde as decisões são tomadas realmente nos bastidores por umas poucas dezenas de agentes do poder. Oito em cada dez chineses querem uma reforma política, segundo pesquisa publicada no dia 7, no jornal estatal Global Times. A pesquisa mostra que 81% dos habitantes das sete principais cidades disseram apoiar a reforma política, enquanto 66% afirmaram sentir que o governo deveria enfrentar um maior escrutínio público.

O Global Times é vinculado ao Diário do Povo, carro-chefe do Partido Comunista, e a decisão de publicar a pesquisa parece indicar que o Partido desejava ser visto como reconhecendo essas reclamações. Contudo, embora os líderes do Partido costumem falar sobre uma futura reforma política, continuam mantendo um férreo controle sobre o poder, e a democracia multipartidária continua fora da agenda.

Os preparativos para o Congresso foram sacudidos por uma controvérsia de vários meses sobre o ex-alto dirigente Bo Xilai, ex-chefe do Partido na cidade de Chongqing e que era considerado para ascender às principais fileiras do Partido. Porém, no começo deste ano foi deposto porque sua mulher foi acusada de assassinato. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.