Estatal planeja investimentos de centenas de bilhões de dólares até o fim da década – e receitas ainda maiores. Novas reservas poderão torná-la uma das líderes mundiais, mas envolvem enormes desafios tecnológicos e gerenciais.
O anúncio, há dias, do plano de investimentos da Petrobras ajudou a esclarecer alguns pontos que intrigavam o mercado.
A empresa tornou-se a grande operadora do pré-sal e caminha para ser uma das maiores do mundo. De um lado, necessitará captar investimentos volumosos – e eles dependem em grande parte do valor das suas ações (função da sua capacidade de gerar lucros).
Como monopolista do pré-sal, há inúmeras vantagens. Em contrapartida, foram definidos vários objetivos nacionais que ela terá que cumprir, como adquirir parte dos equipamentos com conteúdo nacional.
Com o câmbio nos níveis atuais, o produto nacional é pouco competitivo. Além disso, haverá desafios grandiosos na própria cadeia internacional de suprimentos, para atender às necessidades do pré-sal.
Para responder a essas questões, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, participou de uma mesa redonda com analistas de mercado no meu blog (www.luisnassif.com.br).
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Segundo ele, foi a descoberta dos campos de Campos que permitiu à Petrobras sair de uma produção de 187 mil barris por dia em 1980 para os atuais dois milhões de barris – crescimento de 10% ao ano – desenvolvendo os fornecedores nacionais. Agora, enquanto os poços de Campos envelhecem, surge o pré-sal, abrindo perspectivas maiores ainda.
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Hoje em dia a Petrobras é, disparadamente, a maior empresa na produção de petróleo em águas profundas do mundo, maior que a soma das três empresas seguintes.
Isso vai exigir uma notável expansão da cadeia de fornecedores e, em termos estratégicos, é melhor que seja feita em território nacional. Portanto, a produção nacional é parte integrante da estratégia da Petrobras, explica Gabrielli, e não apenas uma imposição de Estado.
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A atual revisão foi a oitava do plano de negócios. A empresa tem 688 projetos acima de US$ 25 milhões e três mil projetos abaixo de US$ 25 milhões. Quando se faz revisão do plano, se vai ao projeto, sempre que ocorrem alterações nas premissas de preços dos projetos, as perspectivas de hierarquização desses projetos.
O plano atual prevê US$ 224 bilhões em investimentos, aumentando a participação relativa da exploração e produção no pré-sal – que sairá de 2% da produção atual para 40% em 2020.
Mudou-se também a estratégia de expansão do refino, do mercado externo para o interno, depois de identificados déficits de produção no centro-oeste, norte e nordeste. Haverá a necessidade de novas refinarias nessas áreas.
Houve mudanças relevantes também na área de gás e energia, para terminar ciclo de investimentos em infraestrutura, gasodutos e capacidade logística de entrega de gás, especialmente para ampliar os investimentos na química do gás, transformando-o em ureia e amônia, moléculas que podem ser estocadas e complementares em termos de flexibilidade do gás.
O terceiro ponto é completar o ciclo de investimentos na qualidade dos produtos, reduzindo a emissão de enxofre para atender os requisitos ambientais produzindo o diesel-50, incluindo o diesel de dez ppm de enxofre, e a gasolina de 50 ppm de enxofre.
Os investimentos – 1
O plano prevê investimento de US$ 224,7 bilhões, e entre US$ 30 bilhões e US$ 31 bilhões de amortizações até 2020. Se o preço do petróleo ficar em US$ 80 no longo prazo, ou em US$ 95 no longo prazo, que é uma estimativa não das mais altas no mercado hoje, a Petrobras vai gerar de caixa, depois do pagamento de dividendos, entre US$ 125 bilhões e US$ 149 bilhões no período.
Os investimentos – 2
Hoje a Petrobras tem em caixa US$ 26 bilhões, resultante da capitalização que fez no ano passado. A empresa planejou um desinvestimento (venda de ativos e participações) que vai gerar US$ 13,6 bilhões. Portanto, precisará captar entre US$ 67 bilhões e US$ 91 bilhões nesse período. Com esses números, não haverá necessidade de novas capitalizações e emissões de ações nesse período, razão para a queda do valor das ações.
Os investimentos – 3
Com esses números, a razão entre a dívida e geração de caixa fica abaixo do limite que o Conselho de Administração fixou, de 2,5 vezes. Deve ficar entre 1,6 vezes e 1,9 vezes a geração de caixa, o que é considerado perfeitamente confortável. Do ponto de vista financeiro, não haverá nenhuma vulnerabilidade na exploração do pré-sal. Esses dados foram suficientes para acalmar o mercado, depois da divulgação do plano.
Os investimentos – 4
O eventual agravamento da crise internacional não deverá afetar a empresa. Em janeiro de 2009, em plena efervescência da crise, a Petrobras captou US$ 6 bilhões. No ano, quase US$ 30 bilhões. Segundo Gabrielli, mesmo que aumente o risco internacional, a solidez dos projetos do pré-sal será suficiente para assegurar o financiamento necessário. Hoje em dia, a empresa é considerada investment grade.
Mudanças na gestão – 1
Houve duas grandes mudanças importantes na gestão da Petrobras nos últimos tempos. A primeira foi a transformação do conceito de unidade de negócios, que estruturava a companhia em termos de organização vertical. Essas unidades foram transformadas em operacionais, voltadas para produção, utilizando o máximo possível das funções matriciais corporativas. Com isso fortaleceu-se a sinergia entre todas as unidades.
Mudanças de gestão – 2
A segunda, separando as gerências responsáveis para garantir a produção das gerências responsáveis pela implantação dos novos projetos. Não se pode exigir que o gerente de uma área como a Bacia de Campos, que produz hoje 1,6 milhão de barris de petróleo por dia seja também responsável pela implantação de mais cinco unidades novas na própria Bacia de Campos.
* Publicado originalmente no Blog do Luis Nassif e retirado do site Outras Palavras.