Como montar um plano integrado de logística

A presidenta Dilma Rousseff participa de cerimônia de anúncio do Programa de Concessões de Rodovias e Ferrovias. Foto: Wilson Dias/ABr

No Seminário Brasilianas sobre Logística, o consultor Renato Pavan, da Macrologística, descreveu magistralmente a metodologia a ser utilizada na definição de um plano integrado para o setor. Contratado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), Pavan montou o projeto Norte Competitivo.

Os vídeos do Seminário podem ser acessados aqui.

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A Fase 1 do trabalho consiste no mapeamento das vias de transporte. Prepara-se o projeto, detalham-se as cadeias produtivas da região. Depois, montam-se os macrofluxos atuais e os projetados, que são comparados com a infraestrutura existente. Esta comparação permite identificar os gargalos da infraestrutura.

A Fase 2 trabalha os eixos de transporte. Identifica todos os eixos e projetos. Depois, define as prioridades (aqueles que oferecem menores custos até os portos europeus e asiáticos). Finalmente, desenvolve um plano e cronograma de implementação.

Na Fase 3, trabalha os chamados eixos de desenvolvimento. Seguindo as lições de Eliezer Baptista – de quem foi braço direito em inúmeros projetos –, analisa-se o ambiente econômico de forma integrada.

Identifica os microeixos alimentadores de carga, o Plano de Desenvolvimento Industrial para cada região, a oferta de energia, a telemática e a capacitação profissional necessária.

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As cadeias produtivas são mapeadas de acordo com três critérios: cadeias da balança comercial com maior volume movimentado, cadeias mais relevantes na balança comercial da região, cadeias mais relevantes em termos de fluxos.

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O mesmo grau de minúcia é observado no mapeamento da infraestrutura atual, as dutovias, os portos fluviais e terminais públicos e privados, os portos marítimos, aeroportos, rodovias, etc. O ponto final do mapeamento é o destino das cargas, nos diversos portos marítimos.

Juntadas as partes, monta-se o todo: mapas microrregionais identificando os principais gargalos.

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Seguindo a lógica de Eliezer, o trabalho inclui também os países vizinhos com potencial de integração direta, basicamente Guiana Francesa, Guiana, Venezuela, Equador, Peru, Chile, Bolívia e Panamá.

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O passo seguinte é juntar os dados, do enorme banco de dados acumulado, e calcular o custo total de transporte dos principais eixos da origem até o destino final, em Rotterdam e Xangai. Depois, estimar os custos dos eixos potenciais.

Exemplo das diferenças levantadas, no caso do granel sólido agrícola mato-grossense até Rotterdam:

Eixos atuais

Rodoferroviário até Santos (Ferronorte): custo de R$ 193/tonelada (t).

Rodoviário até Santos: R$ 226/t.

Rodo-hidroviário até Itacoatiara: R$ 190/t.

Eixos potenciais

Ferroviário até São Luiz (Norte-Sul via Ribeirão Cascalheira): R$ 165/t.

Rodo-hidroviário até Vila do Conde (via Cachoeira Rasteira): R$ 142/t.

Rodo-hidroviário até Vila do Conde (via Porto dos Gaúchos): R$ 120/t.

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O trabalho permite visualizar os ganhos maiúsculos de competitividade devido ao fator logístico. Mas permite, também, identificar as obras prioritárias: são aquelas que possibilitam chegar ao menor preço nos portos europeus e asiáticos.

É essa visão sistêmica que deveria ser adotada no novo Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI).

Luis Nassif é jornalista econômico e editor do site www.advivo.com.br/luisnassif – [email protected].

** Publicado originalmente no site Carta Capital.