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Compromisso para aprimorar cuidados

Buenos Aires, Argentina, 14/7/2011 – Os países-membros e aderentes do Tratado Antártico pretendem impor normas mais rígidas para regular o turismo na região, atender a situação derivada do aquecimento global, frear a entrada de espécies não autóctones e contar com um sistema de alerta de tsunamis. A preocupação pela possível chegada de grandes ondas resultantes de terremotos, embora pareça estranho por ser pouco provável, foi justificada porque a maior parte das bases instaladas na área fica na costa, onde se realiza um amplo espectro de atividades científicas, logísticas e inclusive turísticas.

O compromisso sobre estes assuntos foi assumido no encontro realizado em Buenos Aires, que reuniu cerca de 300 representantes de países vinculados ao Tratado que entrou em vigor há 50 anos, mais especialistas e ativistas ambientais. Nas deliberações, que se estenderam de 20 de junho a 1º de julho, analisaram velhos e novos desafios para um continente que deve permanecer intocável. Em conversa com a IPS, o subsecretário-executivo do Tratado Antártico, José María Acero, informou que o balanço das deliberações foi “absolutamente positivo” em todos os temas.

Os presentes na XXXIV Reunião Consultiva do Tratado Antártico discutiram uma proposta para revisar as normas existentes sobre turismo na Antártida para determinar se são suficientes e com qual estratégia seguir. As visitas nessa área começaram na década de 1950, mas desde os anos 1990 aumentaram “dramaticamente”, informou a Secretaria, que registra a chegada de aproximadamente 46 mil turistas por ano. Esse total era 10 vezes menor há apenas 20 anos.

Acero explicou que, devido à dissolução da União Soviética, muitos navios com capacidade polar foram transformados em embarcações de cruzeiros turísticos para a Antártida, e isso fez disparar o número de turistas. De todo modo revelou que, segundo a Associação Internacional de Operadores Turísticos para a Antártida, no ano passado houve uma queda de 25% na presença de cruzeiros na região, devido à crise financeira global, e para a próxima temporada está prevista uma redução semelhante.

Acero acrescentou que os delegados também repercutiram a preocupação pela mudança climática e pelo aumento global da temperatura, que afeta particularmente a península antártica. O Painel Intergovernamental de Especialistas em Mudança Climática (IPCC) indica que, nos últimos anos, a temperatura média nessa região aumentou quatro vezes mais do que no restante do planeta.

Os representantes dos 28 países-membros do Tratado e os delegados dos 20 Estados aderentes também propuseram a elaboração de normas mais rígidas para deter a entrada acidental de espécies não autóctones. “Não se trata de controlar a chegada de cães ou galinhas que, naturalmente, não são permitidos, mas de tornar extremas as medidas para evitar a contaminação por micro-organismos que chegam nas solas dos sapatos”, explicou Acero.

A Antártida é um ecossistema único, extremamente frágil, e os países-membros do Tratado estão comprometidos em manter ali as condições para a melhor preservação do meio ambiente, da reserva de água doce e suas espécies únicas. No total, há 71 áreas protegidas nesse continente que, por seu valor natural, planos de pesquisa ou razões de patrimônio histórico-cultural, são áreas de especial cuidado e proibidas aos turistas.

Também lá ficam as bases científicas dos países, que recebem as constantes inspeções do Tratado para avaliar se cumprem as normas de prevenção de vazamento e controle de resíduos. O último informe, realizado por Japão e Austrália e apresentado em Buenos Aires, mostra que as bases respeitam as normas de cuidados, embora em alguns casos as medidas possam ser melhoradas. Na cúpula, a Argentina apresentou uma proposta para contar com um sistema de alerta de tsunamis provocados por terremotos.

A iniciativa afirma que os modelos que preveem a chegada de grandes ondas após um terremoto são feitas sobre planisférios que não mostram a Antártida, “provavelmente porque se considera que ali há uma densidade de população costeira muito baixa”. Os especialistas que apresentaram a proposta recordaram que, embora a Antártida não seja uma zona de terremotos, nos últimos anos foi registrado um terremoto de grande magnitude com hipocentro no leito marinho dentro dessa região. Um desses tremores aconteceu em 2007 nas ilhas Orcadas, e outro em março deste ano nas ilhas Sandwich do Sul.

Diante desse panorama, foi proposto contatar as instituições que produzem os modelos para solicitar que estendam a informação às costas antárticas e elaborem um relatório sobre riscos do impacto de tsunamis na região. O encontro terminou com a assinatura da Declaração de Buenos Aires, na qual os presentes reafirmaram todos os seus compromissos de cooperação, de estarem atentos aos novos desafios e de trabalhar articuladamente com organizações da sociedade civil. A próxima reunião consultiva acontecerá em 2012, em Hobar, na Austrália. Envolverde/IPS