Comunicação, ausente no Ano Internacional das Cooperativas

Roma, Itália, julho/2012 – Seis meses se passaram desde o começo do Ano Internacional das Cooperativas (AIC), convocado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e é inevitável constatar que o objetivo de chamar a atenção mundial para este formidável instrumento de produção social não foi alcançado.

A análise deste período mostra que, embora se registre um aumento quantitativo das informações relacionadas com as cooperativas, o conjunto continua sendo exíguo em comparação com a importância global do mundo cooperativo.

O cooperativismo nasceu no começo do Século 19 na Inglaterra, promovido pelos sindicatos em oposição à expansão capitalista impulsionada pela Revolução Industrial, e assumiu a função de melhorar a capacidade aquisitiva dos assalariados (cooperativas de consumo).

Dali, o sistema de propriedade cooperativa se espalhou pelo mundo, na indústria e no setor primário, no comércio e em outros ramos do setor de serviços.

Além disso, as cooperativas ocupam um espaço importante no campo dos meios de comunicação.

Há centenas de mídias que dedicam sua informação ao mundo cooperativo e há milhares que são cooperativas, como, por exemplo, a agência norte-americana Associated Press, o jornal francês Le Monde ou a agência IPS, que desde seu nascimento, em 1964, presta atenção à informação cooperativa no contexto de uma política editorial focada no desenvolvimento e na sociedade civil, em particular nos países do Sul.

A dimensão global das cooperativas se reflete nestes números: a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), fundada em 1895, reúne 267 organizações de 96 países que representam mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo.

O diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, afirma que na agricultura a associação de produtores aumenta os benefícios porque atuando coletivamente têm maior capacidade para aproveitar as oportunidades, de acesso aos serviços, de obter melhores preços na compra de insumos e maior margem de lucro na venda de seus produtos.

Além disso, os benefícios das cooperativas são um motor para o desenvolvimento local: fortalecem as comunidades e movimentam as economias, já que geram empregos e aumentam a renda.

Graziano acrescenta que as cooperativas são um aliado estratégico para promover o desenvolvimento socioeconômico e ambientalmente sustentável que o mundo precisa. Este conceito implica que, para obter o desenvolvimento sustentável, deve-se superar a exclusão social e, sobretudo, a fome que afeta mais de 900 milhões de pessoas no mundo.

A presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, tem como exemplo deste processo seu país, onde uma em cada três pessoas economicamente ativas participa de cooperativas.

“O cooperativismo é um fator decisivo para a modernização e o desenvolvimento tecnológico dos sistemas produtivos. Na Costa Rica responde por ativos equivalentes a mais de 4% do produto interno bruto (PIB) e de mais de 10% do PIB agrícola”, afirmou.

Chincilla acrescenta que, “graças ao cooperativismo, na Costa Rica se consolidou um modelo de inclusão social. Além da atividade econômica, as cooperativas têm um papel destacado no sistema educacional e na prestação de serviços de saúde. Por exemplo, 23% das matrículas escolares são geridas por cooperativas”.

Por seu lado, o cooperativista brasileiro Roberto Rodrigues afirma que “a globalização econômica perturba a paz e a democracia, já que gera exclusão social e concentração de riqueza, enquanto as cooperativas, que operam como braço econômico da organização social, trabalham para se contrapor a esta tendência”. Acrescenta que “as cooperativas criam uma ponte entre o mercado e o bem-estar coletivo, e, portanto, são um instrumento de defesa da paz e da democracia”.

Como se vê, o destaque do cooperativismo como instrumento alternativo aos atuais modelos econômicos em crise contrasta com o fato de que o AIC não conseguiu reavivar e atualizar o interesse pelo mundo cooperativo nos meios de comunicação.

Uma parte da explicação está na dispersão da mensagem, apesar dos esforços da ONU, do AIC e de numerosos meios cooperativos em todo o mundo. Observa-se a ausência de uma coordenação eficaz entre os atores cooperativos e a mídia com uma verdadeira sinergia.

Além desta ocasião, é evidente a necessidade de o movimento cooperativo assumir uma estratégia de comunicação social atualizada e que seja dotada dos instrumentos para a difusão relativa à sua mensagem e às suas atividades, em um grau superior ao realizado até agora pelas diferentes organizações.

Deve-se criar um verdadeiro pool informativo de meios cooperativos. Trata-se de definir um momento de encontro dos meios cooperativos ou organizados como cooperativas que acordem coordenar informação e esforços para conseguir maior impacto das mensagens centrais.

Além disso, deve-se criar instrumentos comuns virtuais que façam circular conteúdos tradicionais e novos produzidos pelas mídias sociais.

A eficácia destes instrumentos dependerá da formação e do treinamento de jornalistas especializados no cooperativismo. Como em outros ramos do jornalismo, o dedicado às cooperativas exige profissionais capacitados neste tipo específico de informação.

Não existem no mundo necessidades sociais ou econômicas para as quais a cooperação não seja um fator decisivo.

Por isso, o cooperativismo se projeta como um imperativo diante dos grandes desafios da humanidade, e também como forma de gestão participativa e horizontal capaz de gerar maiores rendimentos.

Poderíamos dizer que nunca como antes o cooperativismo se ergue como imperativo organizacional e como a alternativa ao modo de produção das corporações transnacionais. Nada é mais moderno e mais necessário do que a empresa cooperativa. Envolverde/IPS

* Mario Lubetkin é diretor-geral da agência de notícias Inter Press Service (IPS).