Clovis-Fabiano-O-Papel-do-Setor-Reinaldo-CLV_2425

 

ODS ainda precisam ser melhor compreendidos pelas empresas para que cumpram seu papel.

Decorrido mais de um ano da realização da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável) no Rio de Janeiro, uma de suas discussões mais relevantes segue ainda na pauta da sociedade: o engajamento e o posicionamento da iniciativa privada na busca pelo desenvolvimento sustentável.

No lotado Teatro Geo, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, os participantes da Conferência Ethos 2013 ouviram diferentes visões de representantes de entidades empresariais, da área governamental e estudiosos do tema, todas elas carregadas de preocupação e um discreto otimismo. Afinal, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) suscitam um debate complexo e de difícil execução, mas também foram considerados por todos da mesa como totalmente imprescindíveis.

Para o setor privado, falta identificar e estabelecer metas que possam ser devidamente compreendidas pelo empresariado. Segundo eles, diferentemente dos pontos estabelecidos pelos Objetivos do Milênio, que traziam pontos facilmente identificáveis, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ainda precisam ser traduzidos.

Para corroborar com o atual estado de ânimo do setor privado, o presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, apresentou dados de uma pesquisa que revela compreensão das empresas sobre a urgência de se colocar o tema do desenvolvimento sustentável na agenda de prioridades. Para tanto, os dados da pesquisa apontam que 90% dos entrevistados acreditam em parcerias com a sociedade civil.

José Antonio Marcondes de Carvalho, embaixador do Brasil na Venezuela, destacou a centralidade do tema da erradicação da pobreza nas discussões da Rio+20. Ele afirmou ter sido esse o grande avanço da Conferência do ano passado, o que revela uma importante mudança na maneira como se discute desenvolvimento. Destacou também que essa é uma conversa que vai muito além dos governos: é preciso o engajamento do setor privado, principalmente no que se refere ao combate aos grandes problemas globais, como a desigualdade e a pobreza.

Subathirai Sivakumaran, do Programme Specialist of Knowledge, Capacity and Results at the BCtA, das Nações Unidas, disse que, sem dúvida, existe um grupo de organizações empresariais com uma participação ativa nas discussões globais e trabalhando em rede ao lado de governos e da sociedade civil organizada. Ele também observou que muitas outras empresas colocam grande expectativa na tecnologia para a solução de problemas. “Sem dúvida, tecnologia é muito importante, mas não é a única resposta”, afirmou, de forma categórica.

Para Climéne Koechlin, diretora-geral do World Forum Lillie, sediado na França, as empresas, mesmo as de seu país, estão avançando muito em relação às suas missões econômicas tradicionais, mas ainda estão longe de cumprir os objetivos estabelecidos pelas Nações Unidas.

Protagonismo exigido – Homenageado com uma calorosa salva de palmas, o economista Ignacy Sachs, um dos maiores expoentes vivos que trabalham a temática do desenvolvimento sustentável, falou que é chegada a hora da ONU assumir seu papel de protagonista e liderar o processo de desenvolvimento mundial, “harmonizando os interesses dos diferentes países e continentes”.

Sachs ainda defendeu que qualquer processo de desenvolvimento mundial deveria ser, antes de tudo, desigual, explicando que os países mais pobres precisariam ser mais beneficiados, enquanto os mais ricos poderiam crescer menos. “Um desenvolvimento justo não deixa de ser desigual, pois precisa ser superior para os que estão embaixo da cadeia econômica”, conclui.

Carlos Lopes, secretário-executivo da Comissão Econômica da ONU para a África, que participou da conferência falando online da Etiópia, e Felipe Lira, vice-presidente do Fórum Empresas (Chile), foram mais enfáticos e questionadores quanto ao papel das empresas. Lira provocou os presentes, perguntando se eles estão fazendo o suficiente e se representavam o que realmente a sociedade necessita. “Existem empresas que não estão preocupadas com os impactos negativos quando os lucros forem consideráveis”, pondera. Lopes fez também referência aos muitos protestos que tem ocorrido no continente sul-americano e lembrou dos recentes protestos no próprio território chileno, na Colômbia e aqui no Brasil. “As empresas estão atentas ao seu papel nesses movimentos e suas reivindicações?”

Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina, ressaltou que a iniciativa privada é parte do problema, mas também da solução. Ele ressaltou que são muitas as demandas que envolvem o setor privado, como o estímulo a toda a cadeia produtiva, o engajamento com as comunidades, além da boa governança, ética e responsabilidade.

* Publicado originalmente no site Conferência Ethos 2013.