Consumo chinês vai muito além das compras

Consumo na China tem crescido com mais rapidez do que qualquer outro grande país A maioria das pessoas pensa na China como uma potência industrial, não como o paraíso dos consumidores. O consumo por residência como percentagem do PIB caiu por dez anos seguidos desde 2001.

Atualizado em 29/05/2012 às 11:05, por Ana Maria.

Geração mais velha cresceu numa sociedade em escolhas de consumo eram ditadas pelo estado. Foto: Reprodução.

Consumo na China tem crescido com mais rapidez do que qualquer outro grande país

A maioria das pessoas pensa na China como uma potência industrial, não como o paraíso dos consumidores. O consumo por residência como percentagem do PIB caiu por dez anos seguidos desde 2001. Ao fim desta década, este totalizava apenas 34% do PIB, cerca de 19 pontos abaixo do nível mais baixo do Japão no pós-guerra e 15 pontos abaixo do nível sul coreano. O consumo norte-americano não ficou abaixo de 50% do PIB nem durante a Segunda Guerra Mundial, como afirma o livro Sustaining China’s Economic Growth (Sustentando o Crescimento Econômico da China). Mas a queda dessa taxa da China é enganosa. O consumo na China na verdade tem crescido com mais rapidez do que qualquer outro país grande. A questão é que o PIB da China têm crescido ainda mais rapidamente.

O consumo sempre é retardatário de mudanças no nível de renda, tanto positiva quanto negativamente. Isso se dá em parte por que as pessoas decidem “suavizar” o seu consumo ao longo do tempo, mas também porque as pessoas em geral hesitam em abandonar o estilo de vida com o qual se acostumaram. Ainda que tanto o produto quanto a renda chinesa tenham disparado depois de 2000, os seus hábitos de consumo têm muito a mudar.

Assim como o consumo não cresceu tão rapidamente quanto a renda na década passada, ele também não vai desacelerar tão rapidamente na década vindoura. À medida que o crescimento chinês for de 10% ao ano para algo próximo de 7% nesta década, o consumo como proporção do PIB subirá naturalmente.

A geração mais velha de chineses cresceu numa sociedade em que muitas das suas escolhas de consumo eram ditadas pelo estado ou pelo trabalho. Eles comiam em refeitórios estatais e dormiam em dormitórios ou apartamentos públicos. Tratava-se de uma existência tediosa e massacrante. Mas ao descartar a “cumbuca de arroz de ferro”, os chineses fracassaram em fornecer alternativas, incluindo assistência médica e pensões mínimas. De acordo com o Banco Mundial, a China gasta apenas 5,7% do seu PIB nesses itens e em outras formas de proteção social, como o pagamento de pensões aos muito pobres. Outros países na mesma faixa de renda que a China gastam mais de duas vezes mais, com uma média de 12,3% do PIB.

Mais cortes sociais do tipo certo não fariam com que o consumo privado diminuísse. Pelo contrário, o consumo seria encorajado. A precariedade da rede de proteção social da China é uma das razões por que os lares chineses poupam tanto. De acordo com o FMI, um aumento permanente nos gastos públicos de 1%, dividido igualmente entre saúde, educação e pensões, aumentaria o nível do consumo das residências em 1,25 pontos percentuais. Steven Barnet e Ray Brooks do FMI calculam que, nas áreas urbanas, cada yuan extra de gastos governamentais em saúde geram 2 yuans em consumo privado.

Tradução: Opinião e Notícia

* Publicado originalmente pelo The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.


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