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Contra a dissidência israelense e palestina

Ramalá, Cisjordânia, 7/4/2011 – Israel ataca legisladores árabes, palestinos e cidadãos defensores da paz em represália pelas críticas da comunidade internacional motivadas pelo tratamento dispensado aos árabes-israelenses e pela ocupação do território palestino da Cisjordânia.  A maioria dos membros do parlamento votou a favor de despojar a legisladora palestina Hanin Zoabi de seus privilégios por ter participado da flotilha humanitária que tentou romper o bloqueio contra o território palestino de Gaza no ano passado.

Nove ativistas morreram na ocasião quando as forças israelenses abordaram o barco Mavi Marmara, muitas delas por disparos a queima-roupa. Zoabi, de estatura pequena, foi detida e acusada de tentar apunhalar um comando israelense. “Foi ridículo. Comecei a rir quando ouvi a acusação. Nunca opus resistência. Sabiam que as acusações eram falsas e acabaram por retirá-las. Só me perseguem politicamente”, disse à IPS.

A legisladora apelou junto a um alto tribunal israelense contra a revogação de seus privilégios, a retirada de seu passaporte diplomático, a impossibilidade de receber ajuda financeira por assistência legal e a de visitar países com os quais Israel não tem relações diplomáticas. “O consenso direitista no parlamento tenta me castigar e restringir minha liberdade de expressão”, disse ao chegar ao tribunal na semana passada. A ofensiva contra a dissidência continuou com a aprovação de uma lei que permite ao Supremo Tribunal de Israel revogar a cidadania de toda pessoa acusada de espionagem, traição ou de ajudar o inimigo em tempos de guerra.

O problema é a interpretação da lei, que é aberta a um assunto que toca a sensibilidade israelense diante de toda crítica, sem importar se é legítima ou não violenta. A medida segue a aprovação no parlamento, por unanimidade, de uma comissão legislativa para investigar os fundos e as atividades de organizações de esquerda que apoiam a campanha de boicote, não investimento e sanções contra Israel, bem como outras instituições não governamentais importantes.

Ativistas israelenses que defendem os direitos dos palestinos também são alvo de ataques. As autoridades reconheceram a criação de uma unidade especial da polícia para supervisionar suas atividades no bairro de Xeque Jarrah, em Jerusalém oriental. Há dois anos, centenas de ativistas israelenses realizam, todas as sextas-feiras, manifestações pacíficas contra a demolição de casas palestinas e a expulsão de seus ocupantes para alojar colonos israelenses. A agência de inteligência nacional, Shin Bet, faz escutas telefônicas de alguns ativistas, com base nas quais citaram vários para interrogatório.

Entre os pacifistas detidos está o ex-piloto da força aérea, Yonatan Shapira, que integra a organização Anarquistas Contra o Muro, que divide o Estado judeu da Cisjordânia, sem respeitar a Linha Verde de separação reconhecida pela comunidade internacional, mas invadindo o território palestino. Shapira é um dos autores da Carta do Piloto de 2003. “Os abaixo-assinados já não queremos fazer parte dos ataques indiscriminados contra os territórios palestinos ocupados. Declaramos nossa rejeição em participar no que acreditamos serem atividades ilegais e imorais”, diz a carta assinada por outros 30 pilotos.

Yonatan Pollack, também da Anarquistas Contra o Muro, foi condenado a três meses de prisão no começo deste ano por participar de um protesto em bicicleta contra a Operação Chumbo Derretido, de três meses contra Gaza entre 2008 e 2009. Foi o único detido e condenado. Há tempos Pollack é uma pedra no sapato das autoridades israelenses. Na qualidade de porta-voz do Comitê Palestino de Resistência Popular e participante habitual das manifestações contra o muro da Cisjordânia, foi preso e apanhou várias vezes.

Enquanto o Exército israelense continua sufocando a dissidência na Cisjordânia bem como outras revoltas em várias cidades palestinas, onde todas as semanas acontecem manifestações cada vez mais numerosas contra o muro e a anexação de territórios para assentamentos judeus. Dezenove ativistas israelenses foram detidos no dia 2, vários apanharam e outros ficaram detidos até o dia seguinte durante uma manifestação espontânea e pacífica fora do povoado de Beit Ummar, ao Norte de Hebrón, Sul da Cisjordânia.

Os ativistas protestavam contra o sítio imposto pelo Exército de Israel contra o povoado há várias semanas. Fecharam as vias de entrada em Beit Ummar com blocos de concreto e portões de metal, vigiados por soldados. Os moradores não puderam entrar nem sair para ir à escola, ao trabalho ou às compras. O Exército respondeu com um castigo coletivo às pedradas e coquetéis Molotov lançados por jovens palestinos contra automóveis de colonos judeus, após o assassinato de uma pessoa durante um funeral em Beit Ummar.

“O Exército cruzou outra linha vermelha”, disse Micha Kurz ao jornalista israelense-norte-americano Joseph Dana. “Os soldados agiram como se pensassem em tudo que odeiam nos judeus de esquerda antes de chegarem e, depois, lançarem toda sua raiva contra nós”, recordou. Envolverde/IPS