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Cooperação produtiva mina emigração clandestina no Senegal

Emigrantes clandestinos detidos na Guiné-Bissau. Foto: novasdaguinebissau

Dacar, Senegal, 13/9/2012 – “Foi Ibrahima Sarr, amigo e companheiro de pesca, quem me introduziu no tráfico de pessoas”, contou o senegalês Dudu Ndoye, com a amarga convicção de um homem redimido. Agora voltou a viver do mar, mas em uma atividade legítima, graças à ajuda de um projeto de produção. “Nossos clientes pagavam entre 200 mil e 300 mil francos CFA (de US$ 400 a US$ 600) por pessoa, e cabiam 96 em cada barco”, disse à IPS. Sarr e Ndoyue eram “passadores”, contrabandistas que organizavam perigosas viagens, partindo da costa da Mauritânia rumo às Ilhas Canárias nessas embarcações.

Nessas águas ficaram os sonhos e a vida de vários emigrantes cheios de esperança de Thiaroye-sur-mer, a comunidade pesqueira de Ndoye. Mais de 156 jovens deste povoado, nos arredores de Dacar, morreram na tentativa, segundo o Coletivo de Mulheres para a Luta contra a Emigração Clandestina (Coflec). Segundo a organização, ficaram 88 crianças órfãs. Além disso, 374 menores dessa localidade estão detidos na Espanha e 210 foram repatriados desse país, de Cabo Verde e do Marrocos, onde se preparavam para sair ao mar.

“Sete primos meus desapareceram em alto mar”, contou Ndoye. “Só do meu bairro, morreram outros sete jovens, dois foram repatriados após serem detidos pela guarda costeira marroquina”, relatou. Há cinco anos, no enterro de jovens que morreram tentando emigrar, Yayi Bayam Diuf decidiu que já era suficiente. “Me dispus a organizar as mulheres que haviam perdido maridos, filhos ou irmãos na travessia, e criar uma associação de luta contra esta maldição”, contou Diuf, presidente da Coflec.

Esta organização, criada em 2007, luta contra a emigração clandestina de duas formas, fazendo campanha para conscientizar sobre os riscos de emigrar dessa maneira e gerando oportunidades para incentivar os jovens a ficarem e construírem um futuro em Thiaroye-sur-mer. Atualmente, a organização tem 375 membros e uma ampla gama de atividades que geram renda. O processamento de alimentos inclui cuscuz de milho, milho e feijão. Também trabalham com produtos do mar e vendem três toneladas ao ano de pescado defumado e seco, bem como camarões.

Além disso, fazem suco com o que têm à mão, limão, laranja e manga, de hibiscos e gengibre e também de ditakh, uma fruta popular na região do Sahel, África ocidental. Usa-se sua polpa verde escondida em uma casca marrom. A Coflec também fabrica três toneladas por ano de sabão, a partir de insumos locais como palma, soda cáustica, manteiga de karité e óleo de nim, conseguindo, assim, cerca de US$ 16 mil.

No total, a organização produz 30 toneladas de diferentes produtos que vende no mercado local, nos vizinhos Mali, Burkina Faso e Costa do Marfim, e inclusive na Europa e nos Estados Unidos, atividade que lhes rende US$ 70 mil por ano. Com o dinheiro costuma oferecer pequenos créditos, distribui US$ 20 mil ao ano para seus membros e outras pessoas que tentam se restabelecer após terem sido repatriadas da Europa.

A Coflec também destinou US$ 100 mil à compra de dois barcos de pesca para ajudar 50 ex-passadores a se dedicarem a uma atividade legítima no mar, ressaltou Diuf. “Reunimos os recursos necessários graças às nossas próprias contribuições e a fundos da Fundação Bénéteau, com sede na França. A cooperação espanhola também nos ajudou”, acrescentou. Por outro lado, para Ibrahima Sarr, estas iniciativas chegaram muito tarde. Ele se perdeu no mar após tentar a sorte em um barco e partir em busca do Eldorado na Europa. E, para os jovens residentes em Thiaroye-sur-mer, a energia e a iniciativa da Coflec permitem que sonhem com um futuro melhor, perto de casa. Envolverde/IPS