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VARSÓVIA – Desde criança, minha avó me dizia “que começa bem está já na metade do caminho”. Caso ela tivesse razão, infelizmente, no que se refere à Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que tem início esta segunda-feira (11) em Varsóvia, estaremos muito longe de alcançar um resultado satisfatório.

Logo cedo nesta manhã, nós, representantes da Agência de Notícias Jovem, fomos ao Estádio Nacional, onde acontecerá o evento, para obter as credenciais. Superados os controles habituais, nos encontramos no interior do edifício. O impacto foi imediatamente “quente”. No real sentido da palavra. A temperatura no interior do prédio era de pelo menos 25 graus, tanto que, ainda que eu estivesse de camiseta, não suava dessa forma desde a última sauna! Dado que uma das temáticas centrais, sobre a qual negociarão os Estados, será justamente a sustentabilidade, o fato de o evento ter um impacto ambiental de “assassino ecológico” não é certamente um bom cartão de visita. E, infelizmente, não acaba aqui. Foram entregues, em seguida, alguns folhetos relativos à logística. Ok, talvez esperar papel reciclado seria muito, mas certamente se poderia evitar imprimí-los sobre papelão acartonado. Para além da primeira impressão, parece que todo o material distribuído internamente tenha sido feito da mesma forma. Pode parecer um simples detalhe, mas a forma é sempre parte do conteúdo.

Recebido o crachá, necessário para ter acesso aos dias de negociação, fomos convidados a descarregar em nossos telefones o aplicativo oficial do evento. O interessante é que, apenas acessado, vem ao centro da tela uma frase que diz “Os cambiamentos climáticos são fenômenos naturais, já acontecidos muitas vezes sobre a Terra.” Será um acaso, mas é exatamente o principal argumento alegado pelos cientistas assim chamados “negociadores”: ou seja, aquele percentual muito pequeno de estudiosos que negam que a mudança climática seja fruto de ações do homem; contra a maioria esmagadora de especialistas (mais de 97%!!!) que é unânime em sustentar o contrário.

Por último, mas não menos importante, durante nosso primeiro olhar para o interior do estádio, notamos uma coisa estranha. Para dizer a verdade, não era muito difícil de notar, já que o “detalhe” é um anúncio publicitário gigantesco situado no centro do ambiente. Não seria nada demais se o patrocinador em questão não fosse “ArcelorMittal”, a maior companhia de estração de aço do mundo. Depois de pesquisas mais aprofundadas, descobrindo que ela financia uma boa parte dos custos de organização (especialmente o fornecimento de estruturas internas) da COP19.

Talvez esses sinais sejam todos coincidências fortuitas, mas como dizia sempre minha avó, “Pensar mal é um pecado, mas muitas vezes, se adivinha.”

* Giovanni Cunico é um dos repórteres da Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação, que pretende levar propostas da juventude para serem contempladas pelos negociadores brasileiros durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP19).

** Para acompanhar a cobertura jovem da COP19 acesse também:  www.agenciajovem.org www.redmasvos.org. Os conteúdos serão produzidos em português, espanhol e italiano.