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Cresce a criação urbana de frango nos Estados Unidos

Atlanta, Estados Unidos, 20/3/2012 – Os líderes do movimento que promove a criação urbana de frango nos Estados Unidos anunciam um renovado interesse por sua causa, que tem origem em preocupações econômicas e ambientais. Segundo a organização de defesa dos direitos animais Farm Sanctuary, quase dez bilhões de frangos e cerca de 250 milhões de perus nascem anualmente no país.

As condições da maioria das granjas industriais são atrozes, já que ali são amontoadas milhares de aves em locais onde mal podem se mover, afirmam os ativistas em Atlanta, capital do Estado da Georgia. Muitos consumidores optam agora pelos ovos orgânicos, certificados como “livres de jaulas”, mas, no geral, custam entre duas e três vezes mais do que os comuns, e tampouco é fácil encontrá-los em todos os supermercados. A alternativa? Criar sua própria galinha.

Por exemplo, o Projeto de Hortas Comunitárias de Oakhurst (OCGP) realizou seu quarto Simpósio de Frangos na Cidade em Decatour, também na Georgia. Cerca de 50 participantes se reuniram em painéis ao longo de um dia inteiro.  A intenção destes encontros anuais é ensinar aos moradores das áreas urbanas os conceitos básicos para criar frangos em seus quintais, em um país onde, salvo o caso das grandes metrópoles, proliferam cidades com reduzidas áreas centrais e extensos bairros e subúrbios.

As aulas abordam temas como a natureza simbiótica dos frangos, as diferentes variedades, construção de galinheiros e medidas contra predadores, como alimentar suas aves, como criá-las, primeiros auxílios e noções de saúde em geral, e como instalar galinheiros comunitários. A OCGP ministra todos os anos o curso “Os frangos são fáceis”, e frequentemente o número de vagas se esgota.

O coordenador do programa na OCGP, Andrea Zoppo, também participa de um grupo do portal Yahoo, que permite o debate na internet e funciona como apoio para a criação destas aves. Embora não haja uma organização nacional que reúna os criadores urbanos de frango, muitas comunidades recorrem a ferramentas da internet para apoiar seus empreendimentos avícolas.

Andy Schneider, porta-voz nacional do movimento que promove a criação urbana e que é conhecido como “o senhor dos frangos” (em alusão ao filme O Senhor dos Cavalos, dirigido e protagonizado em 1998 por Robert Redford) disse que utilizou o site Meetup.com para organizar reuniões comunitárias. Schneider vive atualmente na localidade de Ideal, na Georgia, e em abril de 2008 iniciou no Meetup o grupo sobre criação nos quintais de Atlanta, que já tem cerca de 1.700 membros, afirmou.

Zoppo explicou a simbiose de “um frango em seu espaço”. Segundo ele, “primeiro os animais fertilizam o solo, ao gerarem composto (adubo orgânico). Seu excremento é um maravilhoso aditivo de jardim. Também afastam as pestes, porque comem insetos”. Para ele, “levantar-se pela manhã e dizer para as crianças pegarem os ovos no galinheiro é uma tarefa maravilhosa para dar a elas. É daqui que vem seu desjejum”.

Outras cidades que experimentam um auge na criação de frangos são Austin, Chicago, Nova York, Portland e São Francisco, segundo Schneider. Austin e Dallas, ambas no Estado do Texas, oferecem visitas aos galinheiros, nas quais as pessoas viajam especialmente para ver como outras pessoas criam aves, contou Zoppo.

Schneider nunca pretendeu ser “o senhor dos frangos”. Insiste que na realidade não se comunica com eles, e que foram os meios de comunicação que o batizaram assim. “Minha esposa e eu tínhamos frangos muito antes dessa moda começar, em Johns Creek, na Georgia. Converteu-se em um negócio de tempo parcial, para vender alguns animais”, explicou.

Agora ele tem um programa diário de rádio, transmitido pela internet das 12h às 14h, sobre sustentabilidade e avicultura doméstica. Também é porta-voz nacional do Programa de Biossegurança para Aves, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, e, em setembro de 2011, apresentou o livro The Chicken Whisperer’s Guide to Keeping Chickens (Guia do Senhor dos Frangos para Criação de Frangos).

Schneider acredita que há um renovado interesse nesta atividade. “Frequentemente o chamamos movimento. Nos Estados Unidos ninguém está a mais de uma ou duas gerações de obter seus alimentos no próprio jardim. É por isto que as grandes cidades ainda permitem ter frangos”, afirmou. No geral, as grandes cidades e áreas rurais permitem aos seus moradores criar uma pequena quantidade de aves. Porém, alguns dos subúrbios que floresceram nas últimas décadas aprovaram leis que proíbem ou dificultam a criação de frangos.

Por isso, Schneider trabalha com ativistas comunitários em cidades de todo o país para mudar as leis neste sentido. Para Zoppo, o renovado interesse do público urbano nesta atividade tem a ver com a economia e o meio ambiente, e com saber de onde vem o que se come. Segundo o Worldwatch Institute, isto também evita o uso de energia e as emissões de carbono associadas ao transporte de alimentos em longas distâncias.

As granjas industriais também têm sérios impactos sobre a saúde humana, e podem contaminar o ar e a água do lugar. Um informe de 2008, preparado pelo Escritório de Prestação de Contas do Governo dos Estados Unidos, diz que as grandes operações vinculadas à criação de aves e outros animais produzia mais de 1,6 milhão de toneladas de dejetos animais ao ano. Indica que cada granja gerava anualmente mais resíduos do que populações de algumas cidades norte-americanas.

A avicultura em grande escala “realmente não está funcionando. Há muitos temores alimentares. As pessoas compram ovos que não têm sabor. Quando alguém cria suas próprias galinhas, estas comem os insetos e as coisas que têm que comer, e então os ovos têm sabor”, explicou Zoppo. Envolverde/IPS