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Cresce apoio de europeus à ajuda ao Sul em desenvolvimento

Em Tapoa, em Burkina Faso, uma zona fronteiriça com Níger, o departamento de ajuda humanitária da Comissão Europeia financia a ong ACF para que dê atenção médica e nutricional, bem como assistência alimentar e transferências em dinheiro às famílias mais pobres. Foto: ©EC/ECHO/Anouk Delafortrie/cc by 2.0
Em Tapoa, em Burkina Faso, uma zona fronteiriça com Níger, o departamento de ajuda humanitária da Comissão Europeia financia a ong ACF para que dê atenção médica e nutricional, bem como assistência alimentar e transferências em dinheiro às famílias mais pobres. Foto: ©EC/ECHO/Anouk Delafortrie/cc by 2.0

 

Nações Unidas, 14/1/2015 – Uma forte maioria dos cidadãos da União Europeia (UE) expressam seu firme apoio à cooperação e ao aumento da ajuda ao Sul em desenvolvimento, apesar de este bloco de 28 países sofrer uma recessão econômica persistente, queda nos preços do petróleo e desvalorização do euro.

Uma pesquisa do Eurobarômetro para comemorar o início do Ano Europeu para o Desenvolvimento, divulgada no dia 12, revela um aumento considerável no número de pessoas a favor de elevar a ajuda ao desenvolvimento internacional. A maioria dos europeus continua “se sentindo muito otimistas sobre o desenvolvimento e a cooperação”, segundo a pesquisa.

Aproximadamente 67% dos entrevistados na Europa pensam que a ajuda ao desenvolvimento deve aumentar, uma porcentagem maior do que a dos últimos anos, apesar da adversa situação econômica atual no continente, e 85% acreditam que é importante ajudar o Sul em desenvolvimento.

“Quase metade dos entrevistados pessoalmente estariam dispostos a pagar mais por alimentos ou produtos desses países, e quase dois terços disseram que a luta contra a pobreza no Sul deve ser uma prioridade principal para a UE”, acrescenta a pesquisa.

O comissário da UE para a Cooperação Internacional e o Desenvolvimento, Neven Mimica, apresentou os resultados da pesquisa. “Sinto-me muito animado em ver que, apesar da incerteza econômica na UE, os cidadãos continuam mostrando um grande apoio para que a Europa tenha um papel destacado no desenvolvimento”, afirmou. “O Ano Europeu nos dará a oportunidade de aproveitar isto e informar aos cidadãos sobre os desafios e os acontecimentos que nos esperam neste ano crucial para o desenvolvimento”, acrescentou.

Jens Martens, diretor da organização Global Policy Forum-Europa, com sede em Bonn, na Alemanha, disse à IPS que a pesquisa do Eurobarômetro demonstra que a imensa maioria dos cidadãos europeus apoia a solidariedade mundial. “É uma boa notícia. Agora, os governos da União Europeia devem seguir seus cidadãos”, ressaltou.

A posição que a UE adotar nas próximas negociações para a agenda de desenvolvimento pós-2015 da Organização das Nações Unidas (ONU) será a prova de fogo para a solidariedade internacional, apontou Martens, que também integra o Comitê Coordenador da Social Watch, uma rede de centenas de organizações não governamentais dedicadas à erradicação da pobreza e à justiça social.

Os governos da UE devem traduzir esse apoio da sociedade em incremento da ajuda oficial ao desenvolvimento (AOD), e também no comércio e em normas de investimento justas e maior cooperação fiscal internacional no contexto da ONU, acrescentou Martens.

Apenas cinco países alcançaram a meta de destinar pelo menos 0,7% do produto nacional bruto à AOD dos países mais pobres do mundo: Noruega (1,07%), Suécia (1,02%), Luxemburgo (1%), Dinamarca (0,85%) e Grã-Bretanha (0,72%).

Em entrevista à IPS concedida em novembro, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, destacou a importância da próxima Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, que acontecerá na Etiópia em julho deste ano. Esta será “uma das conferências mais importantes para dar forma aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU”, que serão aprovados na reunião de cúpula de governantes de todo o mundo, em setembro.

Ban alertou os mandatários para a urgente necessidade de “um mecanismo financeiro robusto” para aplicar os ODS, que deverá estar em marcha muito antes da adoção desses objetivos. “É difícil depender exclusivamente do financiamento público”, explicou o secretário-geral, destacando a necessidade de o financiamento vir de várias fontes: pública, privadas, nacionais e internacionais. Segundo Ban, a AOD, dos ricos para os pobres, “é necessária, mas não suficiente”.

Mas a recessão econômica está aí enquanto em todo o mundo 800 milhões de pessoas sofrem fome, 200 milhões estão desempregadas, mais de 750 milhões carecem de água potável e mais de um bilhão vivem na pobreza extrema, segundo dados da ONU.

Em comunicado divulgado no dia 12, a Comissão Europeia apresentou alguns dos resultados da pesquisa Eurobarômetro. A porcentagem de europeus que está de acordo com o aumento significativo da ajuda ao desenvolvimento chega a 67%, seis pontos percentuais a mais do que em 2013. Um apoio tão forte não era visto desde 2010.

Metade dos europeus acreditam que as pessoas individualmente têm de exercer um papel na luta contra a pobreza no Sul em desenvolvimento. Um terço dos cidadãos da UE, ou 34%, são pessoalmente ativos na luta contra a pobreza, principalmente mediante a doação de dinheiro a organizações humanitárias, com 29% do total.

A maioria dos europeus acredita que a própria Europa também se beneficia com a ajuda aos demais, já que 69% dizem que a ajuda ao Sul em desenvolvimento tem uma influência positiva nos cidadãos da UE, 78% creem que a ajuda beneficia a UE e 74% dizem que contribui para um mundo mais pacífico e equitativo.

Para 75% dos europeus o voluntariado é a forma mais eficaz de ajudar a reduzir a pobreza nos países em desenvolvimento. Mas 66% e 63%, respectivamente, acreditam que a ajuda oficial dos governos e as doações às organizações têm um impacto.

A Comissão Europeia assegura que 2015 promete ser “enormemente significativo para o desenvolvimento, com uma ampla gama de atores envolvidos na tomada de decisões cruciais nas políticas de desenvolvimento, ambiente e clima.”

Este ano é a data limite para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e o ano em que o debate pós-2015 em curso se fundirá em um marco único para a erradicação da pobreza e pelo desenvolvimento sustentável. Envolverde/IPS