Uma campanha dirigida aos turistas que visitam a Islândia busca demonstrar que a carne de baleia não é um prato típico deste país, nem é devorada por seus habitantes.
Reykjavik, Islândia, 1º de agosto de 2011 (Terramérica).- Na velha baía da capital islandesa, um pequeno grupo de voluntários vestindo camisetas azul-celeste distribui folhetos que dizem “Meet us, don’t eat us” (Conheça-nos, não nos coma). Abaixo desta frase há a imagem de um cetáceo e outra legenda: “Mata-se baleias para alimentar os turistas. Não permita que sua visita deixe um gosto ruim em sua boca.”.
Os folhetos são produzidos pelo Fundo Internacional para o Bem-Estar dos Animais (Ifaw). Também participa da campanha a rede islandesa Ice Whale. O Ifaw denuncia o consumo de carne de baleia. “Nos últimos anos, cada vez mais restaurantes na Islândia incluem essa carne no cardápio, o que sugere que existe uma promoção dessa prática entre os turistas”, disse a encarregada de publicidade da organização na Grã-Bretanha, Clare Sterling.
Uma pesquisa sobre consumo e estilo de vida, realizada no ano passado pela consultora Gallup, mostrou que apenas 0,9% dos islandeses comem carne de baleia na semana, 36,8% o fazem menos de cinco vezes ao ano, e 52,6% nunca a consumiram. Porém, segundo o site do Ifaw, “40% dos turistas são convencidos a comer carne de baleia”. A venda dessa carne na Islândia aumentou nos últimos anos, em parte porque “o turista incentivado a comê-la, induzido pela ideia errônea de que é um prato tradicional para a maioria dos islandeses”.
Em 2009, a Universidade da Islândia e a Elding Whale Watching, uma organização dedicada à observação de cetáceos, ouviram 1.500 turistas que viajavam para observar baleias neste país. “Perguntaram quantos haviam provado carne de baleia (19%) e quantos considerariam prová-la por curiosidade (86%)”, afirmou Clare. Atualmente, “cerca de 20% da carne de baleia vai diretamente para os restaurantes e o restante vai para os atacadistas”, disse Gunnar Bergmann Jonsson, da Associação de Caçadores de Baleias Minke, que abastece o mercado islandês.
Em março, o Ifaw decidiu pedir permissão à autoridade aeroportuária, Isavia, para divulgar publicidade, com um texto semelhante ao do folheto, em Keflavik, o aeroporto internacional da Islândia. A publicidade ficaria visível durante todo o verão, desde o começo de junho, e para isso o Ifaw pagou adiantado. Entretanto, pouco depois de colocada, a Isavia alegou que havia um pedido para que se alterasse o texto ou o retirasse.
As autoridades disseram que nunca viram ou concordaram com o texto final e que receberam algumas queixas. Uma das queixas foi de Gunnar, representante da indústria baleeira. “Considerei inadequado que as autoridades que administram o edifício do aeroporto colocassem propaganda como esta, especialmente porque é um prédio do Estado”, explicou ao Terramérica.
Finalmente, a publicidade foi retirada e o dinheiro devolvido aos organizadores da campanha. Contudo, a distribuição de folhetos continua, e os voluntários, recrutados pela organização islandesa Seeds, se dedicam à tarefa durante duas semanas e depois são substituídos. “Conversamos com algumas das pessoas às quais entregamos folhetos”, disse ao Terramérica Elena, do Canadá. “Geralmente, obtemos boas respostas dos turistas, que dizem não estar interessados em comer carne de baleia, e recebemos muitas respostas negativas por parte dos islandeses”, acrescentou.
Leah, uma voluntária norte-americana, contou que “desde que começou a campanha, notamos que menos restaurantes divulgam a carne de baleia fora dos estabelecimentos”. O país tem uma cota de captura de baleias minke (do gênero Balaenoptera), que este ano é de 216 animais. Na metade da temporada foram caçadas 44. “Nunca nos propusemos a saturar a cota. Caçamos somente para o mercado em questão, que é a Islândia”, disse Jonsson. Em 2010 foram caçadas 60 baleias, embora a cota fosse muito maior.
Parece que neste verão boreal não se caçará nenhuma baleia de barbatana (Balaenoptera physalus), pelo menos não até agosto. Kristjan Loftsson, da Hvalur, a empresa que opera as maiores embarcações baleeiras, culpa por isso o terremoto e o tsunami de março no Japão, país que é o maior mercado para este tipo de carne, que quebrou, porque com a devastação as pessoas já não vão comer em restaurantes.
No entanto, a tendência de comer menos carne de baleia parece ter começado antes do tsunami. Segundo estudo feito em 2010 no Japão, pela Ikan [Rede de Ação pelo Iruka (golfinho) e a Kujira (baleia)] e a jornalista Juniko Sakuma, esse país tinha estocadas cerca de seis mil toneladas de carne sem vender, apesar de o produto ter baixado de preço e os japoneses caçarem menos exemplares. “Não é certo que as reservas de carne de baleia tenham aumentado depois da tragédia”, disse ao Terramérica Nanami Kurasawa, da Ikan.
* A autora é correspondente da IPS.
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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.