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Crescem as oportunidades de investimento

Diretora-executiva da Bolsa de Valores de Johannesburgo, Nicky Newton-King. Foto: Kristin Palitza/IPS

Cidade do Cabo, África do Sul, 20/4/2012 – Mais de três anos após o início da crise econômica global e seu consequente impacto sobre o comércio na África, os investimentos e o produto interno bruto aumentam neste continente. Segundo Nicola Newton-King, primeira mulher a ocupar o cargo de diretora-executiva da Bolsa de Valores de Johannesburgo (JSE), atualmente são inúmeras as oportunidades de investimento na África.

“Há muitas opções interessantes. Não apenas na mineração, mas em telecomunicações, bancos, serviços móveis e tecnologias da informação e da comunicação (TIC). É porque esses investimentos podem alcançar um grande espaço sem necessidade de infraestrutura”, disse Nicola.

Quatro meses depois de sua designação como diretora de uma instituição com 123 anos de antiguidade, esta advogada sul-africana, formada na britânica Universidade de Cambridge e especialista em serviços financeiros, conversou com a IPS sobre as últimas oportunidades e os riscos de investimentos na África.

 

IPS: Os países africanos, especialmente os que possuem muito matéria-prima, podem se beneficiar com a crise financeira?

Nicola Newton-King: Os mercados emergentes experimentaram um duplo efeito. Primeiro os investidores se retiraram, mas logo se deram conta de que, em última instância, a renda que recebem nos mercados emergentes são superiores às de seus próprios países. Isso fez com que os reinvestimentos se tornassem atraentes.

IPS: Qual o grau de estabilidade política necessário para atrair investimentos estrangeiros?

NNK: Estamos em um estado de eleições controversas. Isso significa que as orientações políticas são alvo de debate. Do ponto de vista do investidor, isso cria um enorme grau de incerteza. Os agentes não estão seguros de colocar seus capitais em longo prazo enquanto não souberem o quanto será seguro o ambiente político. É um problema para nós na África do Sul, para toda África e, em particular, para nós na bolsa de valores. Por isso destinamos muito tempo a conversar com o governo e os dirigentes políticos influentes para que marquem os princípios centrais de sua orientação política para tranquilidade de todos. Por outro lado, há investidores que são bastante tolerantes quanto às situações políticas. Investe-se no Zimbábue e no Cazaquistão porque, definitivamente, o que conta é o dinheiro.

IPS: Em dezembro de 2010 a África do Sul foi convidada a unir-se ao grupo de economias emergentes integrado por Brasil, China, Índia e Rússia (Brics). Isso ajudou a aumentar o comércio no continente?

NKK: Vemos um intercâmbio Sul-Sul e Leste-Sul, afastado do Ocidente. O Brics e oportunidades relacionadas terão maior peso do que antes em nossas vidas. Esperamos maiores quantidades de fluxos de investimento procedentes do Leste e do Brasil. Alguns grandes bancos preveem que 40% da riqueza global estarão nas economias emergentes em 2020.

IPS: A Bolsa de Valores de Johannesburgo colabora com as bolsas de valores de outros países africanos?

NKK: Há 24 mercados de valores na África, mas alguns fazem apenas dez transações por dia, enquanto a bolsa de Johannesburgo faz, pelo menos, 120 mil. Somos o elefante do continente. Mas gostaria que houvesse uma cooperação bem mais profunda. Há boa comunicação com as direções de outras bolsas de valores africanas, por exemplo, da Nigéria e do Quênia. Estamos trabalhando em algumas coisas para melhorar a cooperação, como associar produtos e compartilhar tecnologia. Mas, ainda nada foi concretizado.

IPS: Teria sentido ter uma única bolsa de valores para todo continente?

NKK: Não é um objetivo que nos propomos. Vimos muitas outras tentativas, grandes fusões globais que se lançaram em questões normativas transfronteiriças. Cremos que podemos obter os mesmos benefícios se trabalharmos em rotinas cruzadas e em oportunidades de diversidade de produtos mais próximas. Nesse sentido são nossos esforços.

IPS: Em 2009, a Bolsa de Valores de Johannesburgo criou uma Junta Africana, para que fossem contadas as grandes companhias do continente e assim promover o crescimento do mercado de capitais na região. Foi uma estratégia de sucesso?

NKK: A Junta Africana não consegui o que buscávamos. Queríamos criar um segmento de comercialização mais direto para expor as companhias africanas, mas apenas 14 se registraram. Esperamos ter mais, mas é preciso tempo.

IPS: O que sente sendo a primeira mulher a dirigir a Bolsa de Valores de Johannesburgo?

NKK: É interessante. Há 16 anos, quando entrei na bolsa, teria ficado aterrorizada se estivesse perto do andar onde são feitas as transações porque é um lugar que dá muito medo para quem usa saia. Agora há 500 empregados e quase a metade é de mulheres, e a direção tem sete mulheres e seis homens. Uma organização diversa atrai maior diversidade. Isso lhe dá uma grande força.  Envolverde/IPS