Naplusa, Palestina, 7/7/2011 – É um dia quente de primavera e as coloridas bungavilias (espécie de trepadeira) cobrem o prédio do Centro Comunitário Jaffa. Dentro, meninos e meninas menores brincam no jardim de infância e os maiores assistem aula. Um grupo de estrangeiros visita o edifício e aprende sobre sua história.
O Centro, que leva o nome de uma cidade israelense, foi fundado em 1996 por intelectuais palestinos para ensinar às futuras gerações a cultura, história e luta política de seu povo. Também foi criado para dar aos jovens palestinos um espaço cultural e de atividades sociais, bem como para proporcionar-lhes ferramentas educacionais e vocacionais.
O local também conta com restaurante e albergue, e oferece aconselhamento psicológico e social, cursos de teatro, idiomas e comunicações. Além disso, organiza acampamentos de verão. Fica localizado no acampamento de refugiados de Balata, e suas atividades, à primeira vista, parecem as mesmas de qualquer centro juvenil do mundo. Mas este tem uma história mais amarga e sangrenta.
O acampamento de Balata fica entre as montanhas da cidade de Naplusa, na Cisjordânia, cuja população é de aproximadamente 26 mil pessoas que habitam área de um quilômetro quadrado. Trata-se de uma das áreas mais densamente povoadas do mundo. O acampamento foi criado para dar abrigo a palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas casas pelas forças de Israel quando foi criado o Estado judeu em 1948.
Durante a segunda Intifada (levante popular palestino contra a ocupação), em 2000, Balata era considerada um “celeiro de militância” islâmica pelas autoridades israelenses. Estas diziam que no acampamento estavam em atividade muitos líderes das Brigadas de Mártires de Al Aqsa, grupo armado vinculado ao partido político Fatah na Cisjordânia.
As blitzen noturnas das Forças de Defesa Israelenses, os tiroteios, os assassinatos e as prisões não comuns. Cerca de 365 palestinos, 75 deles crianças, morreram pelas mãos de soldados israelenses. Várias centenas ficaram deficientes de maneira permanente.
Mais de 12 mil residentes de Balata foram detidos pelos israelenses, sendo que 400 continuam presos. Muitos foram condenados a cem anos, ou mais de prisão. Nasser Awais, de 40 anos, ex-líder das Brigadas, cumpre condenação superior a mil anos acusado de organizar atentados suicidas contra israelenses. O desemprego no acampamento chega a 43%, e os afortunados que têm trabalho ganham, em média, US$ 400 mensais.
As instalações educacionais ou desportivas quase não existem. Foi neste contexto que os membros do Centro esperavam criar uma nova realidade para as crianças palestinas. “Temos mais de 400 meninos e meninas que frequentam cursos e aulas diariamente. Na semana passada, 35 completaram um curso de liderança”, contou à IPS Shahab Bedawi, de 40 anos, um dos fundadores. “A melhora em sua atitude e em seu comportamento foi fenomenal. Costumavam demonstrar muita violência e agressão”, acrescentou.
“Há três anos tínhamos um garoto de 11 anos que queria se converter em atacante suicida, pois não via razões para continuar vivendo, mesmo em sua tenra idade. Integrou-se a algumas das aulas e nos últimos anos se transformou em um menino que interage positivamente com outros, e tem esperança no futuro”, acrescentou Bedawi.
“As crianças sofreram muitos traumas depois de verem seus pais assassinados por soldados israelenses diante de seus olhos ou após perderem seus familiares masculinos por morte ou prisão”, disse à IPS Mustafa Farrah, de 28 anos, que trabalha no Centro.
“Agora as crianças veem outro lado da vida, e outra cara dos israelenses. Muitos de nossos visitantes são pacifistas internacionais e israelenses. Alguns chegaram a dar aula voluntariamente ou apenas para expressar sua solidariedade com a luta palestina”, afirmou Farrah. No entanto, embora se mostre às crianças um futuro de esperança, elas são conscientes de sua condição de refugiados e da opressão por parte de Israel.
As paredes do Centro têm mapas ilustrando as aldeias e as localidades palestinas arrasadas para que se construísse o que hoje é o Estado de Israel. As crianças agora conhecem suas origens, e quando alguém lhes pergunta de onde vêm dão os nomes árabes das localidades que agora têm nome hebreu.
“Voltaremos aos nossos antigos lares algum dia”, disse Taiser NAsrallah, de 50 anos, um dos diretores do Centro. Ele também é diretor do escritório do governador de Naplusa e destacado ativista do Fatah. Esteve ativo durante a segunda Intifada, e foi detido pelos israelenses.
“Israel não quer a paz. Os colonos israelenses ainda arrasam tudo na aldeia Balata, supostamente protegida pelas forças de Israel. Atacam palestinos e danificam sua propriedade. Os assentamentos continuam aumentando e novos são construídos”, disse à IPS. Envolverde/IPS