Arquivo

Crise do Sahel golpeia duramente Camarões

Iaundé, Camarões, 29/2/2012 – Sala Aminata, uma trabalhadora doméstica da Divisão de Logone e Shari (divisão administrativa), na Região do Extremo Norte de Camarões, não sabe como alimentará seus seis filhos com seu magro salário. “Antes, podia comprar um saco de milho com US$ 24,5”, afirmou. Agora, custa US$ 34,5, quase um terço de sua renda mensal de apenas US$ 101. Mas não foi só o milho que aumentou. O saco de sorgo vermelho passou de US 20,4 para US$ 28,4 no ano passado. “Os preços dos alimentos aumentam e nós somos muito pobres para poder pagar”, lamentou Aminata.

A alta ocorreu depois que uma seca destruiu, no final do ano passado, a maior parte das colheitas no Sahel, zona árida entre o Deserto do Saara, no norte, e as savanas do Sudão, ao sul. As populações rurais da região começaram a ficar sem alimentos desde o começo deste mês, seis meses antes da próxima colheita. Os governos do Sahel, exceto o do Senegal, se declararam em emergência e pediram ajuda internacional. Doze milhões de pessoas desta região correm risco de sofrer fome.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) advertiu que cerca de 400 mil pessoas poderiam ser afetadas pela fome nas regiões Norte e Extremo Norte de Camarões se os fornecimentos de emergência não forem enviados até o final de março. Após um estudo sobre segurança alimentar realizado nas duas regiões, o PMA concluiu que seriam necessárias pelo menos 40 mil toneladas de alimentos para salvar as pessoas ameaçadas pela fome.

“A produção de cereal caiu 30 mil toneladas em 2011, em relação a 2010”, informou o diretor de Segurança Alimentar para a Região Norte no Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Camarões, Ilonga Lazare. Ele explicou que a escassez se deve fundamentalmente à seca que atingiu a região no ano passado. “Em 2011, na Divisão de Logone e Shari houve uma redução nas precipitações, enquanto em outras partes das regiões Norte e Extremo Norte começaram a cair escassas chuvas no início de outubro. Portanto, os cultivos não receberam água suficiente para crescer”, detalhou Lazare.

O diretor acrescentou que Garoua, cidade portuária da Região Norte e capital industrial do país, recebe entre 500 e mil milímetros de chuva todos os anos. “Em 2011, houve áreas onde não choveu nada”, afirmou. Lazare também alertou que as reservas de alimentos em Garoua deveriam aumentar de seis para oito toneladas até o final de março para evitar que crianças fiquem desnutridas. “No momento temos que nos concentrar em grupos vulneráveis, como as crianças, que não podem sobreviver sem comer por mais de um dia”, ressaltou.

A fome e a desnutrição são problemas endêmicos no norte de Camarões, bem na área agroecológica do Sahel. Esta área sofreu crises alimentares durante as últimas três décadas devido tanto a desastres naturais quanto aos causados pelo homem. Uma Análise de Segurança Alimentar e Vulnerabilidade, feita em 2007 pelo PMA, concluiu que a magra produção agrícola, a falta de instrução, a baixa renda e a inadequada infraestrutura eram as principais causas da vulnerabilidade e insegurança alimentar na região.

A iminente crise alimentar também desperta temores em matéria de segurança. Em 2008, cerca de cem pessoas morreram em enfrentamentos em Camarões por causa da falta de comida. “Temos que evitar que se repita o cenário de 2008”, advertiu à IPS por telefone o governador da Região do Norte, Gambo Haman. Camarões investe, em média, US$ 122 milhões ao ano na importação de arroz, sorgo e milho. Em 2011, a escassa produção de arroz forçou à compra de 80 mil toneladas destes produtos, no valor de US$ 240 milhões.

No começo deste ano, o governo camaronês anunciou que investiria no setor agrícola.  Durante um encontro com altos funcionários, o ministro de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Essimi Menye, afirmou que era hora de este país reforçar sua produção. “Precisamos ver o resultado da agricultura em nossa economia. É impactante ouvir que camaroneses passam fome quando temos 7,2 milhões de hectares cultiváveis. No entanto, pouco se investiu no setor. Apenas 26% dessa terra está sendo cultivada. Envolverde/IPS