Crise na Islândia gera hábitos saudáveis na população

Após a crise, islandeses aumentaram o tempo dedicado ao sono. Foto: Reprodução/Internet.

Atingidos pela crise, os islandeses passaram a beber menos e dormir mais.

Até meados do segundo semestre de 2008, a economia da Islândia nadava alegremente numa piscina de dinheiro emprestado: os depósitos bancários eram então 14 vezes maiores do que o PIB do país. No período de algumas semanas, o país foi abaixo. A Islândia declarou moratória e estatizou os seus bancos e a cotação da sua moeda despencou em 36%. O setor empresarial colapsou e muitas famílias viram suas poupanças desaparecer. O PIB foi do seu auge a um nível 15% inferior. A renda despencou e os níveis de ansiedade dispararam.

Esses eventos foram tristes para os islandeses, mas oportunos para os economistas. Tratou-se de um exemplo tão raro quanto útil de um choque econômico grande, generalizado e acentuado. O que os autores de um estudo para a America’s National Bureau of Economic Research denominam como um “laboratório limpo e repleto de materiais” também inclui informações detalhadas a respeito da saúde e do estilo de vida de uma amostra representativa de 9.807 islandeses cujos dados foram coletados em 2007 e novamente em 2009.

O estudo aferiu 11 comportamentos, incluindo o consumo de álcool, tabaco, bronzeamento artificial, bebidas adoçadas e lanches; e (no lado positivo) sono, exercício e comidas frescas. Uma descoberta é que a prática de formas insalubres de comportamento diminuiu, especialmente entre aqueles em idade economicamente ativa. Isso pode ser resultado da queda do nível de renda (o álcool é especialmente caro na Islândia). As pessoas passaram a comer menos comidas processadas e fast-food (ainda que isso possa refletir o que os autores chamam de “mudanças de oferta extremas”, como por exemplo o fechamento das lanchonetes McDonald’s no país). Mas, como um todo, a dieta dos islandeses piorou (a Islândia não produz muitos alimentos frescos e as importações ficaram mais caras).

Do lado positivo, a incidência de casamentos aumentou. (A autora do estudo em si, Tinna Laufey Asgeirsdottir, casou-se com seu parceiro). Os islandeses trabalharam menos horas. As suas aflições não os mantiveram acordados – o tempo dedicado ao sono aumentou, particularmente entre os homens. Isto pode refletir um custo de oportunidade: em fases de crescimento, abrir mão de algumas horas de sono pode significar mais renda advinda do trabalho (ainda que, como muitas outras coisas que parecem boas no curto prazo, os custos podem se revelar com o tempo). Agora os economistas estão salivando com a abundância de dados que sem dúvida emergirá dos outros países europeus em crise.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.