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Críticos da fratura hidráulica pedem trava financeira

Imagem obtida por satélite do Golfo de San Jorge, na Patagônia argentina, que abriga grandes riquezas de gás de xisto e contribui para formar a segunda maior reserva mundial, atrás da China, segundo a Administração de Informação de Energia, dos Estados Unidos. Foto: IPS/Photostock
Imagem obtida por satélite do Golfo de San Jorge, na Patagônia argentina, que abriga grandes riquezas de gás de xisto e contribui para formar a segunda maior reserva mundial, atrás da China, segundo a Administração de Informação de Energia, dos Estados Unidos. Foto: IPS/Photostock

Cidade do México, México, 14/8/2013 – Organizações não governamentais pressionam os organismos financeiros multilaterais para que não financiem a produção de hidrocarbonos obtidos mediante fratura hidráulica (fracking), por entenderem que este procedimento apresenta altos custos ambientais. “Me parece terrível, pois o fracking é uma das técnicas de maior risco para a disponibilidade de água potável. É preciso abortar essa intenção, pois é absolutamente incongruente”, disse à IPS a coordenadora geral da Rede de Ação pela Água no México (Fanmex), Nathalie Seguin.

“Já há experiências em várias partes do mundo, com pesquisas científicas sólidas, que marcam claramente um alto risco de vazamentos nos poços verticais, que são os que atravessam os lençóis freáticos”, ressaltou Seguin. A fratura hidráulica é a tecnologia utilizada para extrair hidrocarbonos não convencionais presos em rochas, como o gás de xisto, para assim liberá-los em grande escala. Esse recurso exige grandes volumes de água e a escavação e fratura geram enormes quantidades de resíduos líquidos, que podem conter substâncias químicas dissolvidas e outros contaminantes que requerem tratamento antes de seu descarte.

“Algumas instituições internacionais estão abertas para financiar o fracking. É um risco real investirem” nesse método, alertou Timothé Feodoroff, do programa de justiça agrária da rede não governamental Trasnational Institute (TNI), com sede em Amsterdã. Feodoroff é autor, junto com seus colegas Jennifer Franco e Ana María Rey, do relatório, publicado em janeiro, História Velha, Ameaça Nova: Fracking e a Posse Global da Terra, que revela que, “atrás dos bastidores da disputa mundial pela exploração e extração de gás não convencional, há um amplo espectro de atores públicos e transnacionais privados, bem como nacionais e institucionais”.

Nessa rede operam empresas fornecedoras de tecnologia, petroleiras, financeiras, governos, firmas de lobby e inclusive organizações acadêmicas. A TNI publicará em setembro novo informe abordando a bolha financeira alimentada por bancos e fundos privados de investimento em torno do gás de xisto. “Descobrimos que o dinheiro foi dado pelas firmas de Wall Street, há muita especulação com o fracking. Com a crise imobiliária de 2007 fizeram o mesmo. Há muitos bancos de investimento envolvidos”, revelou Feodoroff à IPS.

A Corporação Financeira Internacional, braço privado do Banco Mundial, assegurou à IPS não ter planos de conceder nenhum empréstimo para a fratura hidráulica. No entanto, essa entidade possui 10% do consórcio Agiba Petroleum, também formado pela Corporação Geral Egípcia de Petróleo, pela italiana Eni SPA e pela russa Lukoil, que pratica o fracking nos campos Falak e Dorra, no deserto do Egito.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que não respondeu à consulta da IPS sobre planos de financiar fratura hidráulica, publicou em dezembro o estudo A Nova Paisagem Energética: Gás de Xisto na América Latina, de David Mares, que não está disponível para consulta pública. Mas o trabalho de julho passado Gás de Xisto na América Latina: Oportunidades e Desafios, desse mesmo consultor, apresenta algumas ideias a respeito da situação do novo hidrocarbono na região.

“Os temas centrais que determinarão quais países latino-americanos são parte da revolução do gás de xisto giram em torno das necessidades dos investidores, da situação do debate ambiental e da habilidade do Estado para dar segurança às operações de exploração e produção”, diz o texto publicado pelo não governamental Diálogo Interamericano, com sede em Washington. Mares argumenta que o desenvolvimento do recurso vai variar segundo o país, e que o financiamento poderá vir de fontes locais, investimento estrangeiro direto, um portfólio de investimentos, investimentos estatais e empréstimos.

A estatal Petróleos Mexicanos perfurou neste país, desde 2001, pelo menos seis poços em rochas de xisto nos Estados de Nuevo León e Coahuila, e prepara uma nova excursão geológica no norte do Estado de Veracruz, ao custo de US$ 245 milhões por 18 meses, encabeçada pelo também estatal Instituto Mexicano do Petróleo. Esta companhia nacional pretende perfurar 20 poços até 2016, com investimento superior a US$ 2 bilhões, e projeta para os próximos 50 anos operar 6.500 poços em escala comercial.

A norte-americana Administração de Informação e Energia (EIA) coloca o México em sexto lugar global de gás tecnicamente recuperável, atrás de China, Argentina, Argélia, Estados Unidos e Canadá, em um estudo de 137 depósitos em 42 países. Nessa mesma escala, este país ocupa o oitavo lugar quanto a petróleo na mesma situação. As organizações não governamentais não descartam lançar uma campanha internacional contra o financiamento desse método e preparam ações globais para o Dia Mundial Contra o Fracking, 19 de outubro.

“O problema é a pressão das empresas privadas e dos governos para financiar essas atividades”, explicou Seguin. “O interesses dos órgãos multilaterais é emprestar dinheiro, apostam em megainfraestruturas porque é a forma mais fácil de endividar os países e se manter. Esse financiamento contradiz seus próprios padrões ambientais e sociais. Por que vamos explorar gás de xisto, quando é uma ameaça muito grande?”, questionou.

Ao menos seis organizações já formaram a Aliança Mexicana Contra o Fracking, que ainda não definiu se pedirá uma moratória da atividade ou uma proibição expressa em um próximo relatório sobre as arestas energéticas, econômicas, sociais e ambientais do recurso. “É possível que os grandes bancos influenciem nas agências multilaterais. Alertamos sobre o poder corporativo para influir em suas decisões”, afirmou Feodoroff.

O holandês Rabobank Group, especializado em matéria-prima e produtos agrícolas, anunciou que não porá dinheiro na exploração de gás de xisto, um movimento que os especialistas esperam seja imitado por outras instituições privadas. A análise de Mares prevê que “o desenvolvimento do potencial de gás de xisto da América Latina enfrenta desafios importantes e não está claro se a região os abordará com sucesso”. Por isso prognostica uma perspectiva problemática para México, Argentina e Brasil. Envolverde/IPS