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Crucial proteção da Unesco

Nos Ghats ocidentais nascem 62 rios. Foto: Malini Shankar/IPS

Bangalore, Índia, 3/8/2012 – São necessários seis anos para que uma equipe de cientistas do Instituto de Fauna e Flora da Índia (WII), autoridades de seis Estados e o governo federal indiano garantam a proteção de uma das mais apreciadas reservas biológicas do mundo. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu, no começo de julho, como patrimônio da humanidade os Ghats ocidentais, que muitos consideram a joia principal das reservas de biodiversidade da Índia.

A cadeia montanhosa, que geólogos estimam ter mais de 150 milhões de anos, mais velha inclusive do que o Himalaia, corre por toda a costa ocidental indiana e é considerada o último vestígio de todos os ecossistemas do subcontinente. A região abriga seis tipos diferentes de ecossistemas florestais, incluindo florestas úmidas de folhas perenes, de folhas caducas, de pinheiros, pradarias e “sholas”, ou bosques em vales. Trata-se da maior diversidade de flora e fauna no mundo. Mais de 62 rios nascem nos Ghats ocidentais, beneficiando pelo menos 74,85 milhões de pessoas em 28 países na costa do Oceano Índico.

As selvas também são bacias fundamentais de captação das chuvas de monção. A cordilheira se estende paralela à costa ocidental indiana, ao longo de 1.600 quilômetros, e tem altitude média de 1.200 metros de altitude. Dificilmente haverá no mundo outro laboratório natural tão apropriado para estudar as chuvas. É por isso que 17 países da Ásia apoiaram a escolha dos Ghats ocidentais por parte da Índia para serem incluídos entre os locais naturais da lista do Patrimônio Mundial da Unesco.

As pradarias em volta das florestas têm uma fauna incomum, que inclui cobras reais, serpentes kraits e píton. Há pelo menos 508 espécies de aves, 156 de répteis, 334 de borboletas, 120 de mamíferos, 121 de anfíbios e 218 de peixes exclusivas dessa cordilheira. Suas montanhas abrigam mais de quatro mil espécies endêmicas de flora. Em uma mesma caverna da floresta de Kudremukh nascem três rios: Tunga, Bhadra e Netravati.

Um total de 39 sítios naturais esperam por reconhecimento da Unesco como patrimônio da humanidade. Isto facilita sua conservação, já que são submetidos a uma sólida vigilância internacional. “Estes lugares cobrem uma área total de oito mil quilômetros quadrados, isto é, cerca de 5% dos 140 mil quilômetros quadrados dos Ghats ocidentais”, destacou à IPS o decano do WII, V. B. Mathur. Os Ghats ocidentais também contam com 11 reservas de tigres e uma de elefantes, além de 12 abrigos de vida silvestre em geral, sete parques nacionais, oito reservas de florestas, quatro serras ecologicamente sensíveis e duas divisões de florestas com densa fauna e flora.

Os conservacionistas, que sempre lamentaram a debilidade das leis de proteção ambiental da Índia, comemoraram a decisão da Unesco. Porém, o reconhecimento recebeu forte oposição por parte de líderes políticos e empresários, cujos planos de desenvolvimento serão prejudicados. Até agora, as operações mineradoras continuavam em áreas da cordilheira onda as leis de conservação se tornaram sem efeito. Contudo, com a observação internacional, já não será possível manipular as leis para permitir atividades como mineração, construção de represas, projetos de energia hidráulica ou construção de estradas.

Os governos dos Estados de Karnataka e Kerala estão particularmente contra a proteção internacional da cadeia de montanhas. A Assembleia Legislativa de Karnataka inclusive aprovou uma resolução contra o reconhecimento da Unesco, enquanto políticos dos dois Estados insistem que as leis já existentes bastam para proteger a região. “A conservação dos Ghats deve partir de uma preocupação interna, e não de chamados de atenção do exterior”, opinou K. N. Ganeshiah, da Universidade de Ciências Agrícolas, em conversa com a IPS. “O Painel de Especialistas em Ecologia dos Ghats Ocidentais, criado pelo Ministério de Meio Ambiente e Florestas, realiza um trabalho muito mais significativo em nos sugerir o que precisamos fazer, e essas recomendações são mais inclusivas e elaboradas do que o reconhecimento de Patrimônio Mundial”, pontuou Ganeshiah.

O fato de a Suprema Corte da Índia ter precisado intervir para deter a construção da sétima represa no Rio Kalinadi, que se estende pela selva virgem dos Ghats ocidentais, deixa claro a falta de vontade política para conservar a área. Esse tribunal também se pronunciou, em 2000, contra uma operação mineradora na floresta de Kudremukh, dessa forma inclinando a balança contra os ganhos econômicos e a favor da proteção de longo prazo desse frágil ecossistema.

Além disso, se não fosse por uma decisão semelhante da Suprema Corte, em 1996, a atividade de mineração na Reserva de Tigres de Dandeli Anshi nunca teria parado. Essas sentenças defenderam as cobranças de ambientalistas para uma vigilância internacional da zona. Especialistas dizem que a presença de pelo menos 50 represas na cadeia montanhosa também é um sinal da indiferença governamental com a importância de proteger a cordilheira.

Manoj Kumar, funcionário florestal da Reserva de Tigres de Dandeli Anshi, explicou que, além de destruir grandes áreas de floresta, as represas bloqueiam as rotas migratórias dos animais selvagens. “Isto pode levar à endogamia, derivando na extinção local de algumas espécies”, alertou. A cadeia montanhosa também é santuário para uma crescente população de tigres, embora estes animais continuem em perigo. Os sinais de uma presença maior de tigres motivaram pedidos para que a floresta de Kudremukh seja reconhecida como reserva. Isto permitiria criar um corredor seguro para a migração.

Estudo de 2010 feito pelo WII, mostra que os Ghats ocidentais são lar de quase um terço de todos os tigres da Índia. Há “cerca de 534, o que mostra aumento de aproximadamente 32% desde 2006”, diz o informe. Uma pesquisa anterior do WII identificou a Reserva de Biosfera de Nilgiris como uma das áreas aptas para a conservação dos tigres. No entanto, nessas espessas selvas também habitam outros carnívoros, com leopardos, panteras negras e cães selvagens indianos. Entre as espécies em perigo se destacam o macaco de rabo de leão, golfinhos e lontras. Uma espécie de felino da Reserva de Tigres de Anamalai ainda está para ser identificada pela comunidade científica internacional. Por sua vez, comunidades e tribos locais dizem que um animal carnívoro de pelo negro, diferente da pantera, percorreu a selva durante séculos. Envolverde/IPS