Havana, Cuba, 12/6/2013 – O começo da temporada de ciclones, que segundo as previsões será ativa, se deixou sentir em Cuba com chuvas intensas, que fizeram rios transbordarem e inundaram amplas áreas da província de Pinar del Río, embora Andrea, a primeira depressão tropical do ano, não tenha se transformado em furacão. As precipitações mais intensas caíram sobre Pinar del Río, no extremo oeste desta ilha do Caribe, desde os primeiros dias deste mês, quando se instalou uma área de baixas pressões localizada no Golfo do México. Ao ganhar organização, se transformou em Andrea, com ventos máximos a 95 quilômetros por hora e rajadas superiores.
As chuvas também afetaram as províncias de Artemisa e Mayabeque, vizinhas à capital. Em Havana foram registradas chuvas menos intensas do que em Pinar del Río. Andrea se afastou da parte mais ocidental de Cuba no dia 6, rumo aos Estados Unidos, onde tocou terra com ventos máximos de cem quilômetros por hora na costa oeste do Estado da Flórida. Uma depressão tropical se transforma em furacão categoria um quando seus ventos atingem entre 118 e 152 quilômetros por hora.
Contudo, em Cuba o impacto das intensas e contínuas chuvas causou danos e também benefícios. “Por aqui choveu muito, mas as plantações de milho agradeceram. Além disso, se economizou água de irrigação”, disse à IPS a camponesa María Antonia Lemez, trabalhadora em uma fazenda estatal em Mayabeque, que tampouco soube de danos em outros cultivos. Inclusive em Pinar del Río, a província mais afetada, nem tudo foi notícia ruim, pois suas 24 represas receberam 187 milhões de metros cúbicos em apenas seis dias, volume que elevou o nível dos reservatórios de água de 50% para 83% da capacidade total, segundo informes oficiais.
Segundo dados preliminares publicados pelo jornal Granma, povoados inteiros dessa província, caminho frequente de ciclones tropicais, foram inundados. “Não há terras baixas que não foram alagadas por repetidas chuvas ou cheia dos rios”, informou o jornal, estimando que três mil pessoas foram evacuadas para locais seguros, seja em casas da familiares ou em albergues. “As chuvas foram muito fortes. Em minha casa, que foi reformada há pouco, começou a entrar água pelo espaço entre as paredes e as portas”, disse à IPS por telefone Sarilena Ramos, de Pinar del Río.
Outra mulher, que pediu para não ser identificada, garantiu que “há muitos anos” não chovia tanto em Pinar del Río. “Nem com os ciclones”, afirmou. A contagem do prejuízo apresentada pelo Granma incluía problemas em cerca de 40 casas onde é feita a cura do tabaco. Essa província responde por 70% da produção nacional da folha e é uma parte considerável das camadas usadas para preparar os famosos havanos. Também seriam consideráveis as perdas agrícolas, mas a certeza só se terá quando as águas baixarem totalmente.
Em Havana, as chuvas não foram de grande envergadura e o nível das represas não passou de 30%. As autoridades teriam tomado precauções extremas nas zonas costeiras, reconhecidas como pontos críticos de inundações, embora as chuvas não provocassem “um estado crítico” nos 15 bairros da capital.
Um informe do Centro do Clima do Instituto de Meteorologia indica que o período chuvoso em Cuba vai de maio a outubro, durante o qual há cerca de 80% do total anual de precipitações. Os meses mais expostos do período são maio, junho, setembro e outubro. O relatório também informa que as chuvas dependem da influência dos sistemas migratórios da zona tropical, como as ondas e baixas tropicais, e de sua interação com sistemas de latitudes médias, bem como pela presença de ciclones tropicais, principalmente entre agosto e outubro.
O centro de previsões desse mesmo Instituto prevê um comportamento ativo para esta temporada, com a formação estimada de 17 tempestades tropicais, nove das quais poderiam atingir a categoria de furacões em toda área norte do Oceano Atlântico, que inclui o Golfo do México e o Mar do Caribe. Citada pela imprensa cubana, a meteorologista Maritza Ballester Pérez qualificou de alto o perigo de pelo menos uma delas chegar a Cuba, segundo a quantidade prevista e as condições oceânicas e atmosféricas apresentadas este ano.
A especialista alertou, no entanto, que estas previsões são feitas com base em esquemas estatísticos que, devido à sua natureza de probabilidade, podem errar em algumas ocasiões. E recordou, nesse sentido, que o imprescindível é a preparação prévia diante de cada temporada de ciclones, mesmo com a previsão de que o risco seja baixo.
Cuba a cada ano coloca em prática um sistema de prevenção e preparação a cargo da Defesa Civil para mitigar o impacto dos frequentes furacões e outros eventos extremos, como secas ou inundações, que passam pelo arquipélago, e com isso tem conseguido evitar perda de vidas humanas. Apesar disso, os prejuízos materiais ainda costumam ser altos. O impacto em 2008 de três furacões custou ao país US$ 10 bilhões, segundo dados oficiais. No dia 25 de outubro do ano passado, o furacão Sandy atingiu Santiago de Cuba e outras duas províncias orientais com particular força e saldo de 11 mortos e graves danos econômicos, cuja quantia não foi oficialmente revelada.
Entre especialistas parece existir consenso de que os furacões podem ser mais intensos no futuro devido aos efeitos da mudança climática. Daí insistirem para que a estratégia aponte para a redução das vulnerabilidades diante dos desastres naturais e a educação da população para, entre outros aspectos, aumentar a percepção de riscos. O furacão Sandy foi o décimo-oitavo ciclone tropical da temporada de 2012 e o décimo a atingir o grau de furacão. Seus ventos e suas chuvas afetaram Haiti, República Dominicana, Jamaica, Cuba, Bahamas, Bermudas, Estados Unidos e Canadá, deixando em sua passagem milionárias perdas econômicas e quase 200 mortos.
Os nomes reservados para a atual temporada de ciclones são Andrea, Barry, Chantal, Dorian, Erin, Fernand, Gabrielle, Humberto, Ingrid, Jerry, Karen, Lorenzo, Melissa, Néstor, Olga, Pablo, Rebekah, Sebastián, Tanya, Van e Wendy. Envolverde/IPS