Arquivo

Cuba busca nova condenação de Washington

Havana, Cuba, 15/9/2011 – O governo de Cuba denunciará pela vigésima vez na Organização das Nações Unidas (ONU) o embargo norte-americano, que segundo suas estimativas causou prejuízos econômicos de US$ 104 bilhões em quase meio século de aplicação. “O bloqueio é uma violação maciça dos direitos humanos do povo cubano”, disse o vice-primeiro-ministro de Relações Exteriores, Abelardo Moreno, ao apresentar ontem à imprensa o projeto de resolução que Havana espera submeter à votação da Assembleia Geral da ONU no dia 25 de outubro.

Moreno disse que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu em sua campanha eleitoral mudanças na relação com Cuba. Contudo, além de algumas medidas de flexibilização, “insuficientes e de caráter limitado”, ainda não introduziu modificações em leis, regulamentações e disposições que formam a “política de bloqueio”, afirmou. O projeto de resolução diz que o presidente dos Estados Unidos “conta com prerrogativas suficientes para modificar significativamente o bloqueio contra Cuba, mesmo sem a intervenção do Congresso”.

Entretanto, fontes independentes consultadas pela IPS não esperam no curto prazo gestos dessa natureza do chefe da Casa Branca. “As relações estão novamente tensas porque Washington continua com sua política de subversão”, disse o economista e pesquisador cubano Esteban Morales. Obama não dá “sinais positivos” sobre o embargo ou um possível diálogo com Cuba, nem tampouco se manifesta sobre o caso dos cinco agentes cubanos presos nos Estados Unidos.

Além do embargo, ponto nevrálgico do conflito, as severas condenações impostas a esses cinco cubanos acusados de espionagem complicam uma melhoria nas relações. Por sua vez, Washington disse claramente que libertar os agentes não será possível enquanto Havana não fizer o mesmo com o norte-americano Alan Gross. Para Morales, estudioso da política norte-americana, Obama brilha preso entre o prelúdio das próximas eleições, conflitos internacionais que atraem “sobremaneira” sua atenção e a crise econômica interna. “Nessas condições, aumenta a pressão para facilitar a subversão interna em Cuba”, afirmou.

Isto deixa Cuba “em posição de tampouco dar sinais positivos de boa vontade”, como a esperada pelo ex-governador do Novo México Bill Richardson, que não conseguiu autorização para visitar Gross, condenado em Havana a 15 anos de prisão por crimes “contra a independência ou integridade territorial do Estado”. Richardson esteve até meados desta semana na capital cubana em visita particular, e se encontrou com o cardeal católico Jaime Ortega, mas não foi recebido, como em ocasiões anteriores, pelo presidente do parlamento, Ricardo Alarcón.

Os cinco cubanos (Fernando e René González, Antonio Guerrero, Gerardo Hernández e Ramón Labañino) foram presos em 12 de setembro de 1998 e condenados em 2001 a penas de 15 anos, dupla prisão perpétua mais 15 anos de prisão por conspiração para cometer espionagem. Hernández também é acusado de conspiração para cometer assassinato. Cuba nega as acusações contra quem considera lutadores antiterroristas e heróis da pátria.

Em seu encontro com jornalistas, Moreno só admitiu perguntas sobre o embargo, que colocou como principal obstáculo para o desenvolvimento de seu país. Os Estados Unidos iniciaram formalmente o bloqueio no dia 3 de fevereiro de 1962, e calcula-se que sete em cada dez cubanos ou cubanas nasceram ou vivem sob essa política restritiva. Segundo Moreno, se considerar a depreciação do dólar frente ao valor do ouro no mercado financeiro internacional, o efeito do bloqueio sobre a economia cubana seria superior aos US$ 975 bilhões desde o começo de sua aplicação até dezembro de 2010.

Entre os elementos novos do projeto de resolução figuram esforços de congressistas norte-americanos contrários ao governo cubano de Raúl Castro para criar obstáculo à presença em Cuba de companhias estrangeiras interessadas em explorar petróleo na zona econômica exclusiva cubana no Golfo do México. Havana levou o caso às Nações Unidas pela primeira vez em 1992, quando recebeu apoio de 59 países. No ano passado, a resolução “Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra Cuba” foi aprovada por 187 países e teve votos contrários das delegações norte-americana e israelense. Envolverde/IPS