Por Kanya D’Almeida, da IPS –
Nações Unidas, 2/7/2015 – Calcula-se que, em 2013, nasceram 240 mil crianças com o vírus da deficiência imunológica humana (HIV), um dado mais animador do que o de 2009, quando 400 mil bebês deram positivo à infecção, mas segue longe da meta para 2015, de 40 mil nascidos soropositivos.
Na contramão da tendência mundial, uma pequena nação insular deu passos enormes para o cumprimento da meta para este ano. Trata-se de Cuba, onde, em 2013, foram registrados apenas dois bebês nascidos com HIV, o vírus causador da síndrome de deficiência imunológica adquirida (aids). No dia 30, a Organização Mundial da Saúde (OMS) validou Cuba como primeiro país do planeta a eliminar a transmissão de HIV/aids e sífilis de mãe para filho.
“Essa é uma celebração para Cuba e uma celebração para as crianças e famílias de todo o mundo”, afirmou o diretor-executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Onusida), Michel Sidibé. “Isso demonstra que acabar com a epidemia de aids é possível, e esperamos que Cuba seja o primeiro de muitos países a buscar a validação por ter acabado com epidemias entre as crianças”, acrescentou.
A cada ano, mais de 1,4 milhão de mulheres que vivem com o HIV engravidam. Sem o tratamento adequado, têm entre 15% e 45% de probabilidade de transmitir o vírus aos seus filhos durante a gravidez, o parto ou amamentação. Mas se a mãe e a criança recebem o tratamento antirretroviral adequado, o risco de transmissão cai para apenas 1%.
Desde 2010, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPS), o escritório regional da OMS nas Américas, colabora com seus sócios em Cuba e outros países da região para aplicar um programa integral que erradique a transmissão mãe-filho do HIV e da sífilis. Esse processo significou a melhoria do acesso à atenção pré-natal, exames para as grávidas e seus parceiros, partos por cesariana e substituição da amamentação materna.
Esses serviços foram prestados dentro do contexto mais amplo do acesso equitativo e universal à saúde, no qual a saúde materna e infantil se integra com programas de luta contra doenças sexualmente transmissíveis. “O êxito de Cuba demonstra que o acesso universal à saúde e à cobertura universal sanitária são factíveis, e, de fato, são a chave do sucesso, mesmo diante de desafios esmagadores como o HIV. E serve de inspiração para que outros países avancem nesse sentido”, afirmou a diretora da OPS, Carissa Etienne, no dia 30 de junho.
A OMS e seus associados publicaram pela primeira vez, em 2014, as pautas gerais que regem os processos e critérios para a validação da eliminação da transmissão de mãe para filho. Como é impossível o tratamento e a prevenção terem 100% de eficácia, a “eliminação” se define como “uma redução da transmissão ao um nível tão baixo que já não constitui um problema de saúde pública”, segundo a OPS.
Em março deste ano, um grupo de especialistas em saúde de dez países visitou Cuba para avaliar o progresso no cumprimento da meta de eliminação. A equipe passou cinco dias percorrendo centros de saúde, laboratórios e instituições governamentais e entrevistando especialistas e demais pessoas relacionadas com o assunto.
A missão, que incluiu especialistas de Argentina, Japão e Zâmbia, levou em conta vários fatores, todos tendo de ser cumpridos durante pelo menos um ano, como a confirmação de que as novas infecções de crianças em consequência da transmissão mãe-filho sejam inferiores a 50 casos para cada cem mil nascidos vivos.
Outros indicadores, que devem ser cumpridos durante pelo menos dois anos para serem validados, incluem verificação de que mais de 95% das mulheres com HIV conheçam seu estado e recebam pelo menos uma visita pré-natal e medicamentos antirretrovirais.
“A eliminação da transmissão de um vírus é um dos maiores êxitos possíveis da saúde pública”, destacou a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, no dia 30 de junho. “Esta é uma vitória importante em nossa longa luta contra o HIV e as doenças sexualmente transmissíveis, e um passo importante para ter uma geração livre da aids”, acrescentou.
Segundo o informe correspondente ao Dia Mundial da Aids 2014, em 2013 havia 35 milhões de pessoas vivendo com HIV/aids. Desde o início da epidemia, na década de 1980, 39 milhões de pessoas morreram em razão de doenças relacionadas com a aids e aproximadamente 78 milhões foram infectadas com o HIV.
Graças à perseverança dos esforços locais e internacionais na luta contra a epidemia, a mortandade caiu consideravelmente na última década, de 2,4 milhões de mortes em 2005, para 1,5 milhão em 2013, equivalente à redução de 35%. As novas infecções também diminuíram 38% desde 2001, de 3,4 milhões para 2,1 milhões em 2013. Na população infantil, as novas infecções baixaram de 580 mil, em 2001, para 240 mil, em 2013.
Se mais países seguirem o exemplo de Cuba, a comunidade internacional estará mais próxima de cumprir seu objetivo para 2015, bem como a meta definitiva da erradicação da aids. Envolverde/IPS