Santiago de Cuba/Havana, Cuba, 13/3/2012 – A Igreja Católica de Cuba espera que o povo receba o papa Bento 16 com carinho e entusiasmo, embora esta religião não seja majoritária neste país como é no México, primeira escala da viagem pela América Latina do pontífice, que começará no dia 23. “Naturalmente que irei à missa do papa. Esperamos por ele”, disse à IPS Liliana Fuentes, moradora do bairro popular San Pedrito, em Santiago de Cuba, a 861 quilômetros de Havana, no extremo oeste do país. “Somos ‘paleros’, verdadeiramente esta é a religião que representamos, mas também vamos à igreja católica”, esclareceu.
Palo Monte é uma religião de origem africana muito difundida na região oriental, onde também se pratica o espiritismo. “Afirma-se que a família santiagueira vai à igreja pela manhã e à noite ao bembé (festa dedicada aos orixás)”, disse Omar López, diretor do Escritório do Conservador desta cidade. “Nos sentimos orgulhosos desta visita do papa. Santiago se prepara de maneira muito dinâmica e ativa para recebê-lo”, assegurou o funcionário aos jornalistas convidados à cidade, nos dias 22 e 23 de fevereiro. Nestes dias, as brigadas operárias trabalhavam preparando a Praça Antonio Maceo para a missa que Bento 16 oficiará.
Segundo a agenda divulgada no dia 1º deste mês pela Conferência de Bispos Católicos, o pontífice chegará a Santiago de Cuba no dia 26 às 14:00, no horário local (17 GMT). Será recebido pelo presidente Raúl Castro, pelo arcebispo de Havana, Jaime Ortega, e por outras autoridades eclesiásticas e de governo. A missa na Praça, com capacidade para 250 mil pessoas, está prevista para as 17h30 do mesmo dia. Os bispos convidaram em um comunicado “todo o povo” a receber o papa com o “carinho e entusiasmo de quem vem em nome do Senhor” e a participar, junto com os fiéis, das liturgias de Santiago de Cuba e Havana.
Na noite do dia 26, o papa pernoitará em uma casa de retiro construída em uma área vizinha à Basílica do Cobre, que abriga a Virgem da Caridade, padroeira de Cuba. A construção de concreto armado e sóbrio aspecto externo tem sete quartos e sete banheiros, sala, restaurante e todas as comodidades necessárias. “Fica em um lugar discreto e reúne boas condições de segurança interna e externa”, destacou o engenheiro Fausto Vélez, responsável pela construção, que segundo seus cálculos exigiu investimento de US$ 86 mil. Vélez também cuidou da restauração do santuário de El Cobre, antes uma localidade mineira, a 12 quilômetros de Santiago.
Indígenas e africanos escravizados foram explorados sem piedade na extração desse metal, a ponto de no Século 18 ter ocorrido aqui o primeiro grande levante de escravos em Cuba. Este fato é lembrado com uma grande escultura erguida no alto do Monte do Cardenillo, atual Morro de Los Chivos. Na manhã do dia 27, Bento 16 visitará a Virgem da Caridade do Cobre, cuja imagem, de não mais do que 25 centímetros, foi encontrada boiando no mar em 1612. A Igreja Católica convocou “todos os cubanos”, crentes ou não, a celebrarem o quarto centenário dessa descoberta e declarou 2012 ano jubilar.
Fontes do arcebispado de Santiago de Cuba informaram à IPS que o santuário, com capacidade para meio milhão de visitantes, recebe semanalmente entre oito mil e dez mil pessoas. Se prevê que até dezembro aumentem as peregrinações nacionais e internacionais convocadas pelo jubileu. Após visitar o santuário, Bento 16 viajará a Havana, onde manterá um encontro privado com o presidente Raúl Castro. A agenda oficial não fala em uma reunião com Fidel Castro, embora possa ocorrer, segundo meios católicos. De acordo com o protocolo, na segunda entrevista com o mandatário cubano o papa apresentará seus acompanhantes e Castro os seus colaboradores mais próximos e sua família. Uma de suas filhas é a sexóloga Mariela Castro Espín, tenaz defensora dos direitos da diversidade sexual.
José Félix Pérez Riera, secretário-adjunto da Conferência de Bispos Católicos de Cuba, confirmou à imprensa estrangeira que desta vez o programa não contempla encontros com outras igrejas ou representantes do mundo da cultura, como os mantidos por João Paulo II em 1998 durante sua visita de cinco dias. Tal como João Paulo II, primeiro papa a visitar Cuba, Bento 16 não receberá representantes de religiões de origem africana nem da oposição, que atua sem reconhecimento legal neste país.
Segundo afirmou à IPS a antropóloga María Elena Faguaga, a sociedade cubana é predominantemente afro religiosa. A religiosidade africana “é uma realidade cultural que a Igreja respeita e procura evangelizar conforme sua missão”, disse Riera. Registros católicos oficiais indicam que cerca de 60% da população cubana foi batizada nessa fé, o que, segundo especialistas, não significa uma maioria de crentes ativos. Estima-se que os fiéis evangélicos e demais protestantes superem um milhão de pessoas neste país de 11,2 milhões de habitantes.
“O número de católicos praticantes (sic) em Cuba é bem reduzido proporcionalmente ao número de católicos do México ou de outras nações da América Latina”, admitiu, em um artigo publicado no site da Conferência Episcopal, Orlando Márquez, porta-voz do arcebispado e editor da revista Palavra Nova. “Contudo, o papa quer estar conosco, com a minoria católica e com a maioria devota da Virgem da Caridade que compõe a nação cubana, e também quer se aproximar dos que não estão em nenhum destes grupos”, escreveu Márquez. Envolverde/IPS