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Cúpula de cooperativas mostrou o poder da diversidade

Cúpula do cooperativismo reuniu cerca de 2.800 delegados de 91 países. Foto: Cortesia da Desjardins

 

Quebec, Canadá, 16/10/2012 – As sementes migratórias do cooperativismo foram plantadas pela primeira vez na Europa, mas se adaptaram aos climas de todo o mundo. De todos os cantos do planeta, do Quênia até as Filipinas e do Ártico até Cuba, os cooperativistas estiveram em Quebec para defender sua participação neste movimento diverso. Na Cúpula Internacional das Cooperativas, realizada na semana passada, protagonistas do movimento trocaram experiências, práticas e cartões pessoais com vistas ao futuro. O encontro foi o momento culminante do Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A intenção é que este ano dê lugar a uma década internacional para resgatar a importância desta forma de economia, disse à IPS a presidente da Aliança Internacional das Cooperativas (ICA), Dame Pauline Green. “Foi uma grande oportunidade para troca de ideias e práticas inovadoras”, afirmou Monique Leroux, diretorageral da Desjardins, uma das organizadoras do encontro.

A declaração final das organizações que convocaram a conferência, Desjardins, ICA e Universidade de St. Mary, enfatiza o papel das cooperativas para o público e as autoridades. As três entidades também se comprometeram a aproveitar novas ferramentas para divulgação de seus objetivos e criar formas inovadoras para melhorar a comunicação e as consultas com membros e diretórios.

Para Quebec, a Cúpula também foi uma oportunidade de homenagear Alphonse Desjardins (1854-1920), que deu os primeiros passos no sentido de colocar cooperativas de crédito ao alcance de canadenses francófonos, que eram obrigados a abandonar a província em busca de um meio de vida nos primeiros anos do Século 20. As histórias e experiências compartilhadas nesta reunião mundial expuseram o papel das cooperativas de manter as pessoas em suas comunidades e evitar a fuga de talentos.

Mary Nirlungayuk, vice-presidente de serviços corporativos da Arctic Cooperatives Limited, disse à IPS que as cooperativas do extremo norte abriram uma forma de renda para coletivos de artistas e prosperaram onde outros fracassaram, oferecendo desde trabalhos de construção até associações com companhias aéreas e empresas de transporte para reduzir o custo dos fretes dos produtos.

A inclinação das cooperativas para os grupos de base as tornou um modelo de empresa viável para as nações originárias (a denominação moderna dos povos indígenas canadenses), em seu esforço para conciliar tradições com realidades atuais. “Foram criadas cooperativas porque eram muito semelhantes ao conceito aborígine de ajuda mútua”, disse Nirlungayuk à IPS, acrescentando que, “se funciona para essas comunidades isoladas, por que não pode ter sucesso em outros lugares?”.

Uma delegação de dez integrantes de Cuba, país que está assentando as bases de seu cooperativismo, aproveitou a oportunidade para aprender com outras experiências e mostrar o peso do movimento em seu país. “Queríamos que o resto do mundo visse o que está acontecendo”, afirmou a canadense Wendy Holm, que há anos trabalha em Cuba promovendo o cooperativismo e que esteve à frente da delegação.

“As cooperativas socialistas e capitalistas são ligeiramente diferentes em sua forma. Um dos desafios será dar-lhes maior autonomia sem deixar de levar em conta que, por exemplo, é uma cooperativa agrícola que produz alimentos para toda a população”, explicou Holm. A versatilidade da cooperativa a torna um modelo aceitável para diferentes setores da economia, como agricultura, seguros, habitação e comércio varejista, entre outros.

Na economia socialista cubana, as cooperativas adquiriram protagonismo no processo de renovar empresas administradas pelo Estado e repletas de problemas. A delegação cubana se mostrou “interessada em observar a maior quantidade de empresas cooperativas”, e inclusive se reuniu com cooperativas de táxi para estudar se podem adaptar a iniciativa em Havana, disse Holm à IPS.

Apesar de menor do que a delegação cubana, a das Filipinas, com quatro integrantes, deixou sua marca na Cúpula. A porta-voz e delegada juvenil, Marie Antoinette Roxas, compartilhou as iniciativas de sua universidade, o Instituto de Tecnologia de Iligan. Roxas disse à IPS que há jovens que dirigem programas de alfabetização financeira para estudantes, um esforço para inculcar práticas inteligentes desde a infância.

A cooperativa estudantil também participa da geração de renda. Um dos projetos já lançados é uma associação com estabelecimentos locais de confecção para fabricar mochilas ecológicas, que depois são vendidas à sua organização-mãe, a Cooperativa Multipropósito, da universidade.

Houve muitas oportunidades para observar diferentes iniciativas, mas Simel Esim, a chefe do ramo cooperativo da Organização Internacional do Trabalho, disse à IPS que gostaria de contar com mais instâncias para conectar-se e promover maior diálogo entre os delegados. Entre os principais desafios para ser competitivo e relevante, o principal para Esim é vincular-se e aconselhar-se fora do círculo do cooperativismo.

No encerramento do encontro, Monique Leroux anunciou que a Desjardins espera realizar outra conferência internacional. Talvez isso conste da agenda da próxima cúpula, em 2014. Envolverde/IPS